A
HORA e a VEZ de GUIMARÃES ROSA
Acordei
com a matraca na frente de casa embarulhando tudo. E não era
vendedor de casquinha. Foi a hora e a vez do nhô Augusto Matraga que
se achegou para ouvir a minha nova composição: MAKINANDO o MAKINÉ,
escrita no janeiro de 2019. Estive nas cascatas do Garapiá e da
Forqueta naquele verão. Ou em uma das duas, sei mais não. Nem me
alembro em qual. Nessa impossibilidade de viajar até Cordisburgo, no
sertão das Minas Gerais, e conhecer, em pessoa, com os olhos da
cara, a Gruta do Maquiné que tem lá, me contentei em ver a água
cair nas grutas furadas de goteiras (que é o significado de MAKINÉ
em tupi-guarani) aqui mesmo no grande Rio Grande do Sul.
Augusto
Matraga veio ouvir minha composição, gravada com viola caipira,
contrabaixo, pandeiro e criatividade no Laboratório de Sons do
Vento, conforme segue abaixo o áudio (ou acima, só depende do ponto
de vista do leitor) a mando de um Bruxo chamado JOÃO GUIMARÃES ROSA
(1908-1967).
Em
1930, num jornal carioca simplesmente O JORNAL, Guimarães floresceu
uma mirabolante história de heróis, espadas e magia. Um grupo de
aventureiros FENÍCIOS, com seus barcos a remo, forrados de escravos
caldeus, egípcios e israelitas, chegou ao Brasil nos Antigamentes da
Antiguidade para brigar com os índios TUPINAMBÁS locais que
protegiam as riquezas e tesouros de uma gruta encantada do Maquiné.
Eu é que fiquei encantado com esse conto maluco e compus então a
nova canção ventosa: MAKINANDO o MAKINÉ.
Compartilho
a canção e essa leitura rosiana em meio às FESTAS JUNINAS que,
enquanto acendem às suas fogueias para espantar o frio do inverno em
suas longas noites, celebram também a vida rural brasileira com seus
santos bíblicos (São João Batista – em 24/06, São Pedro
Apóstolo – em 29/06) e seus santos medievais (Santo Antônio de
Lisboa – em 13/06) trazidos nos barcos não os dos fenícios, mas
pelos barcos da fúria religiosa e da ganância capitalista dos
colonizadores europeus de 1500.
João
Rosa foi, na opinião do fazendeiro Nhô Augusto Matraga que, antes
de me visitar, renunciou ao seu poder de ter terras, gados e gentes
após sofrer algumas humilhações na vida (depois de tanto humilhar
os outros, porém), dizia eu que o Matraga me disse que o maior autor
brasileiro a fazer a ficção da vida rurar nos sertões do país foi
o Rosa João esse.
Estudioso
das línguas do mundo (Rosa lia e falava umas 10, entre as línguas
derivadas do latim romano até as línguas germânicas e eslavas da
Europa). Além disso, ele fez bruxaria com a fala e o cantar caipira
dos caboclos do rio Urucuia, região sertaneja onde Rosa nasceu. O
cara era autêntico gostador de inventar palavras e verdadeiro
apanhador de nomes pelo mundo.
Formado
em médico, filho do dono do armazém local, que era chamado Seu Fulô
que era casado com Sua Chiquitinha, Rosa exerceu a profissão de
curador de doenças por uns quatro anos, no lombo do seu cavalo pelo
sertão campo geral. Anos poucos mas suficientes para aprender o
aprendido que expressou em seus livros sobre o sertão.
Bateu
perna pelo cosmos global como diplomata em Hamburgo na Alemanha, em
Paris na França e em Bogotá na Colômbia. Foi secretário de um dos
políticos mais poderosos da Era Getúlio Vargas, o ministro gaúcho
criado a leite de vacas da Cachoeira do Sul: JOÃO NEVES da FONTOURA
(1887-1963). Aliás, o discurso de posse de Guimarães Rosa na
Academia Brasileira de Letras é um fascinante texto em homenagem ao
falecido amigo. Tão denso, íntimo, biográfico e poético, que,
três dias depois, o imortal João Rosa morreu também.
João
Rosa, além do conto MAKINÉ, escreveu um ousado (mas menosprezado)
livro de poemas em 1936. O livro se chamou MAGMA e os originais foram
premiados em concurso literário, mas sendo lançado só
postumamente, por desdém, em vida, do autor. Lá se encontram um
arco-íris de poemas (chamados VERMELHO, ALARANJADO, AMARELO, VERDE,
AZUL, ANIL e ROXO).Talvez porque esses poemas levantem suspeitas de
ambiguidade sexual nos machos machões de plantão como quando o
jagunço RIOBALDO, em pleno sertão sertanejo, se apaixonou por outro
pistola pistoleiro, o DIADORIM, em GRANDE SERTÃO: VEREDAS (1956).
Porém,
todo mundo considera seu primeiro grande livro o SAGARANA de 1946.
Depois o clássico CORPO de BAILE (1956) e o resto não é resto é
quase Prêmio Nobel (só não foi porque Guimarães Rosa se foi assim
num piscar de olhos e do nada).
A
terra natal de Rosa, o arraial de Cordisburgo, era lugar de passagem
de muitos boiadeiros que tangem o boi enquanto gemem ABOIOS. E o
boteco do pai era um centro de reunião de muitos contadores de
causos e cantadores acompanhados de viola. O próprio João Rosa
subiu no lombo do pangaré e, em 1952, acompanhou os vaqueiros da
fazenda de um primo, desde as margens do rio São Francisco até o
sertão profundo.
Assim
como, dois vaqueiros e contadores de histórias famosos da sua cidade
foram parar em seus livros: MANUELZÃO e JOCA BANANEIRA.
Em
1938, João Rosa saiu do Brasil para diplomatar. Entretido com os
negócios da diplomacia internacional, ele precisava se vestir de
aristocracia com terno, gravata, inté cartola. Aderiu à gravata
borboleta porque assim não precisava dar nó. Boa maneira que João
Rosa inventou para desatar os nós da vida: não atá-los.
Como
um estudioso escreveu: os personagens de Rosa formam suas
personalidades quando se confrontam ou são acuados pelo AMOR, pela
DOENÇA, pela MORTE, por VINGANÇA. Acho que foi isso que Paulo Rónai
escreveu num prefácio para a editora José Olympio. Se não foi,
corra atrás e leia com seus próprios olhos, menina.
Ah!
E como a ordem e a desordem andam sempre do mesmo lado, Nhô Augusto
Matraga veio me acordar matraqueando e acompanhado do assassino
profissional Joãozinho Bem-Bem. Mostrou suas armas, o Joãozinho.
Não tive medo. Só tive pena. Mas ele não me fez mal. Ouviu a nossa
conversa e a tudo calado, pensando em suas vinganças sanguinolentas,
creio eu.
Ou
pensava que João Rosa fazia aniversário em 27/06, vai saber. Mais
um canceriano sob o signo da constelação do Caranguejo era esse
João Guimarães Rosa, o Bruxo sertanejo.
Vuuuush
(c.
a. albani da silva, o inventor do vento)
MAKINANDO
o MAKINÉ
(c.
a. albani da silva, o inventor do vento)
*Para
João Guimarães Rosa, 1908 a 1967
Ele
sabe bem o que quer:
Com
a cabeça em Makiné
Na
cobiça dos verdes diamantes
Dos
vermelhos tupinambás
Sua
galera do oriente fenício
Remou
e alcançou o além-mar
Ele
sabe bem o que quer:
Com
a cabeça em Makiné
É
a história de Kartpheq, o feiticeiro
Rabiscada
em papiro brejeiro
Que
o João Rosa canta
Conto
de israelitas, egípcios, escravos caldeus
Adoradores
do deus Baal-Jeová
Ele
sabe bem o que quer:
Com
a cabeça em Makiné
O
velho escriba com sangue inocente
Escreveu
um desejo indecente
De
só ganhar e ganhar
Mas
havia outros vícios tinhosos
No
calor dos tristes trópicos antes do português chegar
É
a fé é que move as montanhas
E
o dinheiro as compra e vende
Só
o amor derruba as cavernas
Das
pedras de Sumé
Dentro
do peito da gente
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