1.
CORPUS CHRISTI – O corpo de Cristo
Uma
introdução ao canibalismo
CORPUS
CHRISTI
é
a festa católica que celebra o ritual da EUCARISTIA e que
foi
inventado na Última Ceia. Esta
ceia
aconteceu
quando Jesus jantou pela última vez com os
seus
12 apóstolos. Portanto, é
a
HÓSTIA
(pão)
e
o VINHO
dos cultos (pois
também
as
Igrejas
protestantes devoram o
corpo de Cristo,
sim!)
e das
Missas
católicas,
claro.
Esse
ritual serve para
lembrar aos esquecidos, aos
tontos
e aos
infiéis
da crucificação de Jesus. A
história mais famosa do mundo: A PAIXÃO de CRISTO na
Pessach hebraica.
A última oferenda que o deus judaico-cristão propôs para acabar
com todas
as
outras
oferendas de
todas as outras religiões e
propor uma salvação para a Humanidade... O próprio deus que
virou
gente e foi bastante maltratado por sacerdotes judeus, soldados e
fazendeiros romanos há dois mil anos.
Assim,
em
1243, na
cidade de Liège,
na
Bélgica,
a
freira Juliana
de Cornion conversou
pessoalmente
com
Cristo e
este salientou a
importância que deveria ter o ritual eucarístico. Já
em
1264, o
Papa
Urbano IV
foi
quem consolidou
a cerimônia entre
toda a cristandade. Inclusive a
data comemorativa acontece
onze
dias após o Domingo de Pentecostes. E
quem
escreveu a liturgia da Missa de Corpus Christi, usada
até hoje, foi
o famoso filósofo Santo
Tomás de Aquino
(1225-1274).
É
a Idade Média, querido
leitor,
ainda
no encalço do
mundo
moderno.
Por
isso vamos acompanhar agora uma tremenda polêmica que aconteceu na
América a partir de 1500, quando
começou a MODERNIDADE, e por
causa dessa festa de Corpus Christi. Desde
1961
um
sagrado feriado brasileiro
para
a ainda mais sagrada preguiça do povo trabalhador. Tudo
começou foi
quando os europeus atravessaram o mar atrás de ouro e de terras.
Eles chegaram com seus barcos para colonizarem e escravizarem o nosso
continente inteiro. Além de eles buscarem o lucro capitalista com
isso, os europeus trouxeram essa história do CORPO de CRISTO para
cá, pois queriam obrigar a todo o mundo a seguir a sua fé
religiosa.
Tive
a honra de conversar, na mesa de um bar em Gravataí, com algumas
pessoas que viveram essa confusão desde o começo. Comíamos à la
minuta e bebemos coca-cola.
A
polêmica é CANIBALISMO. Quem foi mais canibal então:
os ÍNDIOS antigos ou os CRISTÃOS comendo seu próprio deus?
2.
Montaigne aprofunda a polêmica
Escrevi
sobre o assunto em 1580, em meus “Ensaios”,
mais precisamente no capítulo “Sobre
os canibais”,
por isso, recomendo aos leitores, antes de tudo, procurarem pela obra
original. Mas a pedidos do Albani resumo aqui a polêmica da semana,
que trato em meu livro há tantos séculos, e ele no blog do “CoV”:
os europeus exterminaram e escravizaram milhões de índios
americanos e nações africanas na aventura da modernidade: em busca
da riqueza, mas também em nome da (sua) civilização e da (sua)
“verdadeira” fé – a
cristã
(importada
do Oriente pelo Império romano).
Consideraram um pecado diabólico os
sacrifícios humanos dos astecas;
assim como, execraram os rituais
antropófagos
realizados nas guerras dos
índios brasileiros e da América Central
– o canibalismo seria exemplo da barbárie em que viviam os índios:
seres subumanos, por
isso escravizados!
Mas
acredito que o próprio ritual eucarístico, conforme inspirado pela
Última
Ceia
entre Jesus e os apóstolos, descrita nos Evangelhos
de Mateus,
Marcos
e Lucas,
corresponde a um gesto canibal! Além disso, quantas outras vezes nós
impomos nossas crenças e valores, incluindo aí a Eucaristia, de
forma autoritária e violenta aos povos estrangeiros?
Pois
bem, conheci pessoalmente um índio Tupinambá no porto de Rouen em
1562, sendo que simultaneamente eu
acompanhava,
atentamente,
os piores anos das guerras religiosas entre católicos
e huguenotes
(ou
seja, evangélicos) na
França do século 16: reafirmo então que devorar a carne humana
assada, após o falecimento, num banquete festivo, conforme meu amigo
Tupinambá fazia na França Antártica, ou no
Brasil Colônia, como os
portugueses chamavam
seu
território na América,
pode
ser menos pior
do que torturar, machucar, ofender e maltratar como, por vezes, os
civilizados cristãos europeus fizeram (para além das guerras
religiosas entre os próprios cristãos): contra os hereges durante a
Inquisição; contra os muçulmanos nas Cruzadas; contra os judeus na
II Guerra; enfim, contra os próprios indígenas na América colonial
como dizia acima. Claudiano
escreveu “Victoria
nulla est / Quam quae confessos animo quoque subjugat hostes”.
E eu escrevo “O
bárbaro é apenas o desconhecido”...
3.
Hernán Cortés não se convence e continua acusando os índios de
bárbaros
Leitores
do “CoV”,
não concordo com esse discurso humanitário do Prefeito acima.
Montaigne nasceu em berço de ouro, me informa minha assessoria de
imprensa, sendo ele neto e filho de comerciante e político rico,
respectivamente. Sendo assim, é fácil sentir compaixão pelos
canibais vivendo de leituras, aposentado, desde os 38 anos de idade,
como ele viveu. Eu estive em Ténochtitlán, hoje Cidade do México.
Eu encarei o imperador
Montezuma
(ah! e amei a pequena Marina, sua
concubina...).
Nós civilizamos os índios! Sem nós eles ainda estariam na
Pré-História, no Mesolítico ou qualquer porcaria assim... E
passado os séculos agora ouço um insolente
Neil Young
a me chamar de “O
Assassino”
numa
música sua rebelde como esse barulhento rock and roll já
foi!
Li
sua crônica, Albani, sobre o festival de Woodstock e
sobre o rock. Não entendi muita coisa, mas gostei.
Porém
falávamos da América Colonial. Eu
não dizimei sozinho 25 milhões de índios nas Américas durante o
período Colonial. Outros conquistadores antes, durante e depois de
mim também foram cruéis – numa guerra não é possível ser
delicado (exceto com Marina, doce Marina, a indiazinha
que roubei de Montezuma...). Eu, a gripe, as armas de fogo e outros
colonizadores europeus talvez não tenhamos sido tão maus assim em
comparação aos astecas, que viviam também num Império
escravocrata: nós só substituímos de cabeça a Coroa real – de
Montezuma para Carlos
V;
estou convicto: os astecas foram muito piores do que nós,
sacrificando crianças e virgens (ah! minha pequena Marina, eu a
salvei da degola) em rituais
pagãos
aos seus deuses asquerosos. Entretanto, gosto do Neil Young quando
ele diz que eu “vim
dançando pelas águas”
em minha caravela...
4.
Frei Bartolomé de Las Casas defende os índios
Fico
ao lado de Montaigne, apesar de sua religiosidade ambígua, nesse
bate-boca contra um monstro ao qual à História chamou de
“conquistador”: Hernán Cortés – só se foi conquistador de
indiazinhas, como aquela traidora da Doña Marina. Pois eu (e todo
colonizador moderno) é que fui um
canibal, um antropófago!
Sou filho de nobres espanhóis e cheguei à América, no que hoje é
a Venezuela, sendo proprietário de uma “encomienda”
(grande
fazenda),
em 1502. E até 1515 devorei a carne indígena na minha propriedade,
nas minhas minas de
ouro.
Porém, milagrosamente, converti-me e adentrei na Ordem Dominicana da
Igreja,
pois entendi então que não poderia ajudar os nativos lutando entre
eles, mas sim, subvertendo as diretrizes, crenças e ideologias dos
próprios europeus colonizadores e
sua Igreja.
Discordo apenas do sábio de Montaigne quanto ao canibalismo
da eucaristia
– ora, que bobagem, o cristianismo também tem sido deturpado ao
longo do tempo em nome da cobiça humana. Confesso que cheguei a
acreditar que a escravidão negra fosse aceitável, mas logo percebi
que era tão brutal quanto à indígena e foi a fé na Ordem
Dominicana e em Nosso Senhor que abriu
os meus olhos cegos pela riqueza. Sendo assim, minhas maiores
conquistas pessoais foram a forte influência de minhas palestras,
pregações e panfletos denunciando a violência espanhola atrás de
ouro e prata na América o que inclusive levou o Papa, em 1537, a
definir os índios como seres humanos, e não mais bichos, ou seja,
eles
viraram
gente
como os brancos. O
meu livro “Um
breve relato da destruição das Índias”,
lançado em 1552, até hoje, inspira movimentos progressistas na
Igreja Católica. Falando nisso, aproveito a oportunidade aqui no
“CoV”
e desejo boa sorte ao Papa
Francisco
contra os herdeiros de Cortés dentro e fora da Igreja! Boa sorte,
Francisco!!!
5.
Caeté que participou da cerimônia antropofágica que devorou o
Bispo Sardinha e outros 90 navegantes portugueses nas Alagoas em 1556
esclarece um mal-entendido histórico
A
História sempre é uma grande confusão. Pobre dos historiadores que
querem botar um sentido nos fatos da existência humana. Mas por mais
talentosos que sejam, eles ainda levarão algum tempo até
compreender que o mais famoso incidente canibal do Brasil Colônia,
na verdade, foi o primeiro grande ato da conversão
tupi-guarani ao cristianismo.
Ouvimos Pero Fernandes Sardinha, o
Bispo Sardinha,
falando sobre a eucaristia em seus sermões e pensamos que
precisávamos devorar
o padre para absorver o espírito redentor de Jesus Cristo.
Fazíamos isso há milênios com nossos adversários em sinal de
respeito aos seus poderes mágicos e dons divinos. Pensamos então
que estávamos agradando...
6.
Santo
Tomás de Aquino foge da raia
O
que tinha para falar quanto à Eucaristia coloquei na liturgia da
Missa. Sendo assim, respondo a Montaigne e a todos os detratores da
Civilização Ocidental (ateus e pagãos em geral) com as mesmas
palavras que enviei ao Albani em sua postagem de Corpus Christi em
2012 (07/06): “O
ato mais específico da fortaleza, mais do que atacar, é aguentar,
isto é, manter-se imóvel em face do perigo”.
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)
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