Amazona do Vento, Poema na Perna, Natal de 2013
Música inédita!
CoV – Praia
de Baunilha (Ao Sul de Moçambique):
Esta música surgiu de um exercício de adaptação musical e poética do Inventor do Vento, C. A. Albani da Silva, sobre a canção “Capão da Canoa” de Vitor Mateus Teixeira, o Teixeirinha (1927-1985), gravada originalmente em 1973.
Esta música surgiu de um exercício de adaptação musical e poética do Inventor do Vento, C. A. Albani da Silva, sobre a canção “Capão da Canoa” de Vitor Mateus Teixeira, o Teixeirinha (1927-1985), gravada originalmente em 1973.
A proposta era cantar e poetar sobre
Cidrilha, a Praia de Baunilha, que fica no extremo Sul da costa de Moçambique.
O curioso é que todas as ruas,
esquinas, praças, padarias e açougues de lá têm os mesmos nomes e a mesma
arquitetura das ruas, esquinas, praças, padarias e açougues de Balneário Pinhal
e Cidreira, no litoral Norte do RS.
Antigas valsinhas sopram forte
no verão da Praia de Baunilha. Tanto que os turistas sentimentais vivem
tentando exorcizá-las do peito com sorrisos e brincadeiras, propensos às paixões descaradas e intrigas de folhetim.
Poemas
Dupla
dinâmica ataca novamente
1.
Cai o Pano
(Nátali da Silva Sarmento*)
A cortina
fecha, o pano cai
O que você faz agora?
Nem sabe ao certo onde vai.
Mil amigos numa rede social
Enquanto todos riem, você chora.
O que você faz agora?
Nem sabe ao certo onde vai.
Mil amigos numa rede social
Enquanto todos riem, você chora.
Percebe agora o mundo real?
Ninguém liga pro seu status.
Cego na sua "vida perfeita"
Nunca ligou pros fatos.
A verdade está na espreita.
A beleza então se esvai.
A cortina se fecha, e o pano cai
Ninguém liga pro seu status.
Cego na sua "vida perfeita"
Nunca ligou pros fatos.
A verdade está na espreita.
A beleza então se esvai.
A cortina se fecha, e o pano cai
2.
A Natureza e o Vento
(Nátali da Silva
Sarmento e Mariana Pereira Gama**)
''Quão bela és
tu, natureza
A quem devemos agradecer
Por dar ao vento sua sabedoria
Feliz quem o pode entender.
Sábio quem ouve os murmúrios do vento...
Quem não tem a preocupação de bagunçar o cabelo.
Para saber se ele sopra turbulento,
Basta ter a vontade de compreendê-lo
Basta acompanhar seus assovios
Derrubando folhas, movendo moinhos
Deixar-se levar pela corrente de ar
Moldando sonhos, projetando caminhos
Seus suspiros podem levar minha inspiração
Mas certo dia ela virá, mesmo que a passo lento.
Olhar pela janela faz acelerar o coração
Pois lá vem ela, cavalgando o vento.''
(* e ** são estudantes do Ensino
Médio público, Naath e Mari: esta recentemente descobriu uma banda chamada The
Black Crowes e seu disco “The Southern Harmony and Musical Companion” e agora,
sim, pode dizer que ouve Rock n´ Roll; aquela cuida bem do sono pra manter a
beleza e a inteligência sempre em dia).
Vento
(Lila
Ripoll, 1905 a 1967, do livro “Ilha difícil", 1987)
Poema
carinhosamente enviado pela Profa. Taís Castro, da rede pública
de Porto Alegre.
O vento trança seus dedos
de vento em meus cabelos.
Trança cabelos e vento
e me leva pra longe.
Sou barco, levado barco,
com enfunado vestido,
cabelos cheios de vento,
rosto de vento batido.
Vento invadindo porões
esquecidos da memória.
Vento folheando cadernos
desfolheando malmequeres
Ai! Vento vento de agora
O vento trança seus dedos
de vento em meus cabelos.
Trança cabelos e vento
e me leva pra longe.
Sou barco, levado barco,
com enfunado vestido,
cabelos cheios de vento,
rosto de vento batido.
Vento invadindo porões
esquecidos da memória.
Vento folheando cadernos
desfolheando malmequeres
Ai! Vento vento de agora
trançando vento e
cabelos
com dedos fortes de vento,
enfuna de vento e vento
meu leve e claro vestido.
Há um cheiro de maresia
em tuas cordas de vento,
vento de rio e de mar.
Sou barco. Que o mar me leve
se o vento não me levar.
Com dedos de vento, o vento
balança barcos e mar.
Mar e vento. Vento e barco.
Quero as cordas desatar.
Que o mar me leve de leve
se o vento não me levar.
com dedos fortes de vento,
enfuna de vento e vento
meu leve e claro vestido.
Há um cheiro de maresia
em tuas cordas de vento,
vento de rio e de mar.
Sou barco. Que o mar me leve
se o vento não me levar.
Com dedos de vento, o vento
balança barcos e mar.
Mar e vento. Vento e barco.
Quero as cordas desatar.
Que o mar me leve de leve
se o vento não me levar.
Mais música
Clara
Nunes
– A Deusa dos Orixás (1975):
A
mais bela das canções de amor que se passa na praia.
Diálogos na Praia de Baunilha ou
Do picolezeiro de Cidrilha
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)
1. Ele estava de cara
amarrada.
Eu, vermelho que nem
um peru.
“Que foi,
picolezeiro?”
“Esta praia já foi
melhor! Tem mais carro do que gente por aqui. E carro não compra picolé”.
“Falando nisso, me vê
um cremoso, por favor”.
Devagarzinho, um
Chevrolet rebaixado passou ao nosso lado com 3 barbados dentro: ouviam a todo
volume o disco do CoV.
Por Deus, nunca
revelei ao meu amigo picolezeiro que aquelas músicas fossem minhas.
Pena que os ganhos sejam muito poucos para os artistas devido a uma pesada taxa cobrada pelo Governo para manter o Comitê da Censura, justamente quem define o que é bom ou ruim em arte e o que pode fazer sucesso ou não em Cidrilha...
Pena que os ganhos sejam muito poucos para os artistas devido a uma pesada taxa cobrada pelo Governo para manter o Comitê da Censura, justamente quem define o que é bom ou ruim em arte e o que pode fazer sucesso ou não em Cidrilha...
E nem por isso (pela poesia), sinto lhes dizer, que os
moçambicanos de Baunilha são melhores ou piores que nós.
2. Logo que saiu a Beldade
com o Sansão, ela chupando um picolé de milho verde, ele com um de morango, o
picolezeiro falou:
“As mulheres ainda
preferem os pré-históricos: peito cabeludo, porrete na mão direita e nada na
cabeça”.
“As beldades, você
quer dizer”? Perguntei.
“Especialmente”.
Respondeu.
“Sunguinha azul e
tatuagem de Jesus Cristo ou dragão”. Acrescentei.
“Estamos fritos,
camarada. Eu não passo de um medieval banguela e você, Inventor, um romântico
do século XIX”.
Assenti com a cabeça.
Pedi meu costumeiro picolé de limão, sinal dos tempos azedos em Moçambique, e
parti. Não pude deixar de reparar num biquíni azul e branco, de lacinho: o meu
favorito.
3. O picolezeiro andava
preocupado com a política.
“Não é que eu goste de
política. Pelo contrário, desconfio de todos que dizem gostar, pois quem de bom
coração vai gostar de uma coisa tão perversa?”
“Os politiqueiros é
que gostam de intrigas e vaidades”. Interrompi.
“Exato, Ventoso! Só
eles gostam mesmo. Mas às vezes a política se torna inevitável. Pois a vida é
feita de escolhas, forças de tamanhos diferentes que se chocam. É preciso tomar
partido, escolher um lado. Ainda que nada seja muito definitivo. É mais ou menos
que nem meus picolés, por mais gostosos que sejam sempre acabam – e quando não tem
o nosso favorito é preciso escolher o menos pior. Vais votar em quem, Ventoso,
para presidente?”
“Mais do que a
República, me preocupo agora com as futuras eleições escolares, picolezeiro. Sempre
parto do menor para o maior. Meu método de análise. Mas confesso que, há alguns
anos atrás, já cheguei a pensar que o voto em branco fosse a melhor opção. Como
se abrir mão de minha própria voz fosse um protesto... Mas um tio meu me
demonstrou que se posso escolher entre um picolé de limão e outro de uva, por
que deixar que o picolezeiro escolha por mim? Falando nisso, camarada, me vê um
bem azedo de limão”.
“Esse seu tio só pode
ser comunista. Daqueles em que as únicas coisas que não se pode compartilhar
são a escova de dente e a mulher”.
“Eu não sei o que é
mais difícil, picolezeiro: compartilhar o conhecimento, o poder e a riqueza ou escovar
a língua”.
4. Batíamos
bola na beira-mar da Praia de Baunilha.
Eu
e o picolezeiro.
“Donde
já se viu chamarem o Gauchão de 'charmoso'... Coisa do Grupo Errebesse mesmo, e
daquele narrador sem emoção”...
“Tem
um tio meu que jogou bola na Serra, pelo Caxias e Juventude. Eu ia ver esse meu tio jogar. Até
meados dos anos 1990, quando o Campeonato Gaúcho terminava no inverno, os campos eram de lodo e o futebol não passava de um
autêntico quebra-canelas”.
“Hehe.
A bola era apenas mais um desses mistérios da vida a ser decifrado por 22
marmanjos não muito propensos à filosofia”.
“Curiosamente
após largar a carreira de futebol por um problema no joelho, meu tio cursou
Filosofia na UFRGS. Charmoso é como chamam o Cariocão”.
A
essa altura da prosa já estávamos sentados na areia. O picolezeiro sentia falta
de ar: fumante inveterado não concatenava direito dominar, chutar e passar
enquanto conversávamos.
“Vá
lá: o RJ ainda preserva um ar aristocrático. Veja as novelas das 9. Os clubes
grandes de lá têm origem na elite social, na virada do século XIX pro XX. Além de a
Cidade Maravilhosa ter sido capital do Brasil de 1763 a 1960”.
“Pra
mulato jogar tinha que passar pó de arroz na cara, veja o Friedenreich”.
“Até
o racismo pode ser charmoso”.
“O
nosso Gauchão vem dos anos 1930”.
“Mas
Gauchão mesmo, desde os 60. Antes era por região, tipo um Gauchinho”.
“Conversar
com historiador é sempre bom e chato ao mesmo tempo: sabem tudo”.
“Já
conversar com picolezeiro é difícil: estamos sempre numa gelada. Aliás, podias
começar a vender cerveja nesse teu carrinho”.
“Sou
muçulmano. Nada de álcool. Apenas ki suco. Acho que, hoje, com essa grana
pesada da TV, dos patrocinadores, os gramados do Interior ficaram bem legais.
Mas o Gauchão ficou alguma coisa assim entre o insosso e o fastio: para atletas
e torcedores”.
“Eu
ainda gosto de ir a um estádio ou ao bar acompanhado de velhos boleiros que
lembram daquele Brasil de Pelotas e Grêmio lá de ´62, ou quando o São Paulo de
Rio Grande bateu o Inter de Falcão, Carpegianni, Manga e Figueroa, mais as
trombetas de Jericó, em pleno Beira-Rio”.
“Não
frequento CTG´s. E há tempos troquei meu cavalo por um Fiat Uno. Mas acho que o
falecido cronista esportivo Cláudio Quintana Cabral (1940-2012)
foi quem inventou a alcunha perfeita pro Gauchão": ‘entrevero pampeano’.
“O
Mestre”.
“Meu
pai gostava muito dele”.
Disse
o picolezeiro, enquanto limpava a areia da mão pra alcançar o troco ao menino
que já estava todo lambuzado com um de laranja.
Alexander Petrov - O Velho e o Mar (1999): Animação em
curta-metragem baseada no romance homônimo de Ernest Hemingway (1899-1961). Têm momentos em que a alma fica tal
qual o pescador Santiago: velha e
alquebrada. Entretanto sair para o mar infestado de tubarões em busca do
peixe-espada gigante pode ser a única coisa a se fazer.