Canções, poesia e ficções.
Ventiladores contra o Inferno geral em que estamos metidos.
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
Edgar Degas, As lavadeiras, c. 1884.
Dom
Casmurro vai às compras (no Uau! Marte)
Tentando parar um
pouco de pensar em Capitu, Dom Casmurro foi ao Uau!
Marte e comprou, à prestação, uma TV LCD 42”. Depois de meia-hora
diante da telona vendo tantos comerciais, decidiu: “Não bebo mais cerveja. Não entro mais em carro. Não falo mais inglês”.
E saiu casmurreando os olhos pretos de Capitu. (Albani da Silva, 29.02.2012).
DICAS PARA A SUA SAÚDE: Evite o envelhecimento precoce: nasça em ano bissexto.
(Albani
da Silva, 29.02.2012).
Jorjamado
(1912-2001)
Se vivo fosse, Jorjamado
sopraria 100 velhinhas em 2012. Desconfia-se que soprando tanta vela assim, em
tão avançada idade, ele não passaria mesmo dos 100. Jorjamado é o escritor
brasileiro mais vendido fora do país (claro, depois de Paulo Coelho, 1947). Sua
obra divide-se em pelo menos duas grandes fases. A primeira delas
de engajamento
político e crítica social (Jorjamado foi militante do PCB – Partido Comunista
Brasileiro): vide “Capitães da Areia” (1937, que virou filme em 2011) e “O
Cavaleiro da Esperança” (1942, sobre o famoso comunista Luis
Carlos Prestes – e que não virou filme ainda!); já em sua segunda
fase, Jorjamado escreveu livros carregados de sensualidadee
bom-humor, enfocando as particularidades da cultura popular brasileira,
especialmente a baiana (culinária, religiosidade, etnias, sexualidade,
política, cotidiano): vide “Tenda dos Milagres” (1969), “Tieta
do Agreste” (1977), “Dona Flor e seus dois maridos”
(1966) e “Gabriela, Cravo e Canela” (1958). Este transformado em telenovela
pela Rede
Grobo em 1975. Sônia Braga(1950) subiu no telhado
e parou o país. Tem gente torcendo para que Juliana Paes (1979) faça
o mesmo agora. (Albani da Silva, 30.02.2012)
P.S.: O cineasta Nelson
Pereira dos Santos (1929) adaptou para o cinema Tenda dos Milagres em
1976 e Jubiabá em 1987.
Sônia Braga, a Gabriela, pegando a pipa (1975):
Trailer de "Capitães da Areia" (2011) - Dir.: Cecília Amado
Quintanares
em canção
O músico catarinense
Carlos
Careqa (1961) se inspirou no famoso “Poeminho do Contra” escrito
por Mário
Quintana (1906-1994) na década de 1970 e fez música. A canção saiu no álbum “Tudo
que respira quer comer”de 2009. (Albani da Silva, 29.02.2012).
Carlos Careqa - "Isso Passará" (ao vivo no SESC Vila Mariana - SP):
E agora o áudio em estúdio:
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
José Lutzenberger, Antigo Acampamento na Redenção, s/d.
HOMENAGEM
Em homenagem a todos os brutamontes, brucutus e valentões, nascidos no Brasil ou fora, ditos
e feitos do Sargento Getúlio (1972) de João
Ubaldo Ribeiro(1941).
“A hora de
cada um é a hora de cada um / ...nunca permiti um cristão misturar indevidos,
beber água depois de chupar cana, comer coco tendo tosse / Nuncão / Mosca não
se afoga / Todo Peixoto é macho / Tonico gostava, era mais pistoleiro do que
político. Eu sou político, não mato à toa / Fidumaégua, fidumavaca, fidumajega
/ Se eu sentisse saudade de homem, sentia saudade dele (de Tonico, o
pistoleiro) / Eu mesmo decoro pouco, que não sou de muito aprendizado / Desque
nasce começa a morrer / E ficou de olho pregado no assento dela, pensando
besteira / Estou tirando bicho de pé, não sei mais o que eu podia estar fazendo
com uma agulha na mão e o pé para cima, só se quisesse costurar os pés”.(ALBANI DA SILVA, 27.02.2012)
UMBIGANDO no tuyttter:
Agora estou
abrindo os olhos / Agora acordei / Levantei da cama / Tirando o pijama suado /
Tive pesadelos / Lavando a cara (Eta!
Cara feia!) / Agora tomando café sem açúcar com pão-dormido / Na parada de ônibus / De pé no ônibus lotado / Agora
alguém passou a mão na minha bunda / Tô de olho na loira falando com o cobrador
/ Desceu a loira / Agora trabalhando / Chateado / ): / Conversando no MSN / Minha
colega brigou com o noivo / Agora tô chamegando
ela / O gerente dizendo que tem balada nova bombando em Poa / 0: / Agora
almoçando uma gororoba / Tarde
estressante / Agora tentando trabalhar um pouco / Agora mandando longe o banco
que liga no celular vendendo aplicação / Agora de olho na minha colega de novo
/ Que brigou com o noivo / Agora não tô olhando mais pra ela / Fez as pazes com o noivo / Pelo feicebuques/ Agora voltando pra
casa / Jantando miojo / Banho / Bosta, molhei o notebook / Agora secando o note
/ Agora deitei / Fritando na cama / E agora sozinho / Não conseguindo dormir. (ALBANI DA SILVA, 00.02.2012)
O SILÊNCIO E O AMOR
Disse o Silêncioao Amor:
- Andas tão calado, Amor!
Respondeu-lhe o Amor:
- Você é que tem falado demais!
(Albani da Silva, poema publicado
originalmente nos “Poemas no Ônibus” Gravataí/2006)
Crônicas
desde Porto Alegre: Bob Dylan
Primeiro dia de vendas dos ingressos para o show do
Bob Dylan (1941) em Porto Alegre (24/04/2012). Baita fila pela Praça da Alfândega. Primeiro lote
esgotado. O cara perdeu a voz, mas não
os fãs. Em meio aquela tênue linha que separa o pop da contracultura,
via-se muito RayBan bonito,
universitário lendo Jack Kerouac (1922-1969) - o célebre “Pé na estrada” de 1957
-, moças formosas; muita barba, cabelo e bigode, dos que compravam ingresso e
dos bustos, monumentos, estátuas da Praça. Imponente General Osório, de costas
para o poeta norteamericano!
Ladeando a fila (uma hora de espera sob as guapuruvus
e palmeiras e ipês) um indiozinho guarani pedia esmola. Não
encheu a cuia, mas deu pro café. Indiferentes ao Bob Dylan, duas sem-tetosem-teteavam,autênticas beatniks. A moça negra estendeu uma fralda na grama e comeu
restos de pão; sua amiga encontrou uma garrafinha de água mineral, no lixo, com
sobras do precioso líquido dentro e calmamente lavou os cotovelos e joelhos. – “Água
gelada. Refri gelado. Salgadinho”. E os ambulantes tirando um
troquinho. Voltou a crescer a economia no Brasil, depois dos anos 1980 e 1990
de estagnação, nosso país virou, outra vez,joia do capitalismo
mundial na Era Lula. A classe média e os grãos-finos regozijam-se pela música
folk, a música folk cobra caro os ingressos (mais caros ainda em
Brasília, SP, RJ, BH) e os ambulantes ganham seu troquinho.
Surgido das
tradicionais tendas de artesanatos e camisetascontraculturais (Bob Marley,
Che Guevara, Legião Urbana, Raul Seixas...), da Rua da Praia, um profeta
denunciava o imperialismo ianque, a Guerra do Iraque e outros senões. Tinha
razão em quase tudo, apesar do jeito folclórico de esbravejar; e do jeito
folclórico da gente desdenhar dele.
A velha arquitetura positivistada
Rua da Praia fica mais bonita ainda com o incenso que sobe das tendas. Enquanto alguns cheiravam calados, três
rapazes bobos e petulantes falavam em alto e bom som sobre Nova Iorque,
diplomacia, Oscar, judeus. Comprado o passaporte para o museu, não falo do MARGS
(Museu de Arte do RS), mas, sim, do show, vem a calhar dizer que foi o Bob
Dylan, cantor de protesto nos anos 1960, poeta concretista nos 1970, cantor
evangélico nos 1980, vanguardista do blues nos anos 1990 e 2000 que
consolidou o discurso poético na indústria cultural e no cancioneiro
globalizado. (Albani da Silva, 27.02.2012).
Dylan cantando "Blowin´ in the wind" (1971):
E cantando "Subterranean Homesick Blues" (1965):
E cantando e encantando (com) a musa JOAN BAEZ em "Blowin´in the wind" (1976) - outra vez:
domingo, 26 de fevereiro de 2012
Paul Gauguin, O Guitarrista (1894)
PAZ e
PREGUIÇA
Parafraseando Juan Carlos Onetti (1909-1994), em
algum de seus 47 Contos:
“Ela pensava sobre a perfeição. E encontrou a PLENITUDE
em uma paz que era quase PREGUIÇA”. Albani da Silva, 26.02.2012.
MEGASSENHAS (para compreender a televisão)
- Guerra?
- EUA...
- Aêeeeeee!
- TV?
- Bunda...
- Issoooooo!
- Epidemia?
- Craque...
- Uhuuuuuuu!
- Palavrão?
- Po**a!
- Outro...
- Caraca!
- Ceeertoooo!
- Sucesso?
- Pegar!
- Quase...
- Ai, ai...
- Issoooooo!
- Inútil?
- Livro!
- Perfeitooooo...
- E
agora os comerciais!
(Albani da Silva
26.02.2012)
Carybé, Exu (c.1971)
EXU –
divindade caluniada: Já faz tempo que o antropólogo francês Roger
Bastide (1898-1974) veio lecionar no Brasil, bateu cabeça no gongá e publicou “O Candomblé da Bahia”
(1958). Mas sua leitura ainda é interessante. Há um capítulo inteiro sobre o mal-falado
e temido Exu. Acontece que, na sua luta contra a escravidão, os negros
procuraram preservar o culto aos orixás africanos, disfarçando-os de divindades
católicas. Assim, como todo mundo sabe, Iemanjá
virou Navegantes, Ogum virou São
Jorge e, para os mais assanhados, Oxalá
virou Cristo, Olorum virou Deus/Javé/Jeová/Alá/TodoPoderoso.
E para Exu, nada? Para Exu, tudo! De ruim... O mais complexo, contraditório e
confuso dos orixás foi associado ao Capeta/Demônio/Satanás/Cão/Tinhoso/BodeVelho/Leonardo/CoisaRuim.
Porém o professor Bastide descobriu que, nos terreiros iorubás da Bahia, ainda muita gente entende a importância de Exu na
mitologia africana. O caluniado deus não apenas faz a ponte entre o reino dos deuses e dos mortais, mas também traduz o
que as outras entidades falam (odus) às
pessoas. Exu é o guia dos eguns (espíritos dos falecidos) em seu
caminho para a reencarnação. O rapaz ainda preside o jogo de búzios e é homenageado na abertura de toda
cerimônia de candomblé. Na África ancestral, Exu, o Senhor dos Caminhos e das Florestas, até
aprontava algumas traquinagens. Há que se compreender! Em meio a tanto
trabalho, todo mundo precisa de um pouco de diversão. Mas daí para caluniar o
orixá como fizeram alguns terreiros bantos
e muitos portugueses já é demais. Ou por acaso alguém ainda tem medo do Saci Pererê? Exu foi invocado muitas
vezes pelos negros rebeldes para combater os escravocratas, pois ele “amansa
os senhores”. Então que Exu nos ajude, hoje em dia, a amansar a ignorância
e os preconceitos. Estes verdadeiros malefícios seguidamente transformam
a beleza, a sutileza e a fragilidade em monstros e aberrações. Albani da Silva, 31.02.2012.
P.S.: São ervas de Exu o manjericão e oalevante.
DICAS PARA A SUA SAÚDE: Evite o incesto. Você pode virar Lobisomem ou Boitatá.(Albani da Silva, 26.02.2012)
CLARA NUNES (1942-1983): A moça transformou vários "pontos de macumba" em clássicos da MPB. Vide "Tributo aos Orixás":
sábado, 25 de fevereiro de 2012
Dom Quixote e Sancho Pança. Desenho a lápis de Pablo Picasso, 1955.
A gente mata o tempo ou o tempo mata a
gente?
Parafraseando Jorge Luis Borges (1899-1986) e seu “O
Outro” do “Livro de Areia” (1975):
“Uma jovem e um velho conversavam sentados num
banco que estava em dois tempos e em dois lugares simultaneamente. Disse o
velho: Se este verão e este encontro forem sonhos, cada um de nós dois tem de
pensar que é o sonhador. Talvez deixemos de sonhar, talvez, não. Nossa
obrigação evidente, enquanto isso, é aceitar o sonho, como aceitamos o universo
e ter sido gerados e olhar com os olhos e respirar. A jovem respondeu: Digo a
mim mesma, repetidas vezes, que não existe outro enigma senão o tempo, essa
infinita trama do ontem, do hoje, do futuro, do sempre e do nunca. Albani
da Silva, 32.02.2012.
O estúpido e o óbvio
Extra! Extra! Motorista confessa que bebeu DEPOIS de
atropelar sete crianças na calçada. Albani da Silva, 25.02.2012.
ITALO CALVINO (1923 – 1985):Escritor
italiano nascido em Cuba (?!?), Calvino arrebentou os muros que por vezes
limitam a criatividade e a imaginação. Misturou a liberdade experimental das
vanguardas modernistas com tradicionais narrativas de fábulas e romances de
cavalaria. É o que se lê no poético e filosófico “As Cidades Invisíveis” (1972)
– Marco Polo descreve 55 cidades utópicas ao imperador Kublai Khan. Qual o enigma
da cidade de Valdrada? Construída às margens de um lago, tudo que acontece em Valdrada
acontece, de maneira invertida, no espelho d água, desde o amor até o
assassinato. Portanto, Valdrada não é uma, mas duas cidades diferentes. E
também se lê em “O Cavaleiro Inexistente” (1959) – que faz parte da trilogia “Os
nossos antepassados” (1960). O Cavaleiro Inexistente é Agilulfo,
integrante do exército de Carlos Magno que defende sua honra sendo “apenas” uma
armadura branca que anda, luta e arrebata corações. O escudeiro Gurdulu tem por
hábito confundir-se com as coisas e com a natureza. O coitadinho vive em
permanente crise de identidade. Ou ainda se lê em “A trilha dos ninhos de aranha”
(1947) – o órfão Pin tem dificuldades em entender duas coisas nesta vida, a POLÍTICA e as MULHERES. E quem não tem, Calvino, digo, Pin, quem não tem? Albani
da Silva, 25.02.2012.
Banda Dirigíveis - Nos dias que passei aqui. Rock n´ roll amargo do grupo de Gravataí presta homenagem a mestres do cinema. Vídeo editado pela dupla Albani da Silva e Mick Oliveira.