José Lutzenberger, Antigo Acampamento na Redenção, s/d.
HOMENAGEM
Em homenagem a todos os brutamontes, brucutus e valentões, nascidos no Brasil ou fora, ditos
e feitos do Sargento Getúlio (1972) de João
Ubaldo Ribeiro (1941).
“A hora de
cada um é a hora de cada um / ...nunca permiti um cristão misturar indevidos,
beber água depois de chupar cana, comer coco tendo tosse / Nuncão / Mosca não
se afoga / Todo Peixoto é macho / Tonico gostava, era mais pistoleiro do que
político. Eu sou político, não mato à toa / Fidumaégua, fidumavaca, fidumajega
/ Se eu sentisse saudade de homem, sentia saudade dele (de Tonico, o
pistoleiro) / Eu mesmo decoro pouco, que não sou de muito aprendizado / Desque
nasce começa a morrer / E ficou de olho pregado no assento dela, pensando
besteira / Estou tirando bicho de pé, não sei mais o que eu podia estar fazendo
com uma agulha na mão e o pé para cima, só se quisesse costurar os pés”. (ALBANI DA SILVA, 27.02.2012)
UMBIGANDO no tuyttter:
Agora estou
abrindo os olhos / Agora acordei / Levantei da cama / Tirando o pijama suado /
Tive pesadelos / Lavando a cara (Eta!
Cara feia!) / Agora tomando café sem açúcar com pão-dormido / Na parada de ônibus / De pé no ônibus lotado / Agora
alguém passou a mão na minha bunda / Tô de olho na loira falando com o cobrador
/ Desceu a loira / Agora trabalhando / Chateado / ): / Conversando no MSN / Minha
colega brigou com o noivo / Agora tô chamegando
ela / O gerente dizendo que tem balada nova bombando em Poa / 0: / Agora
almoçando uma gororoba / Tarde
estressante / Agora tentando trabalhar um pouco / Agora mandando longe o banco
que liga no celular vendendo aplicação / Agora de olho na minha colega de novo
/ Que brigou com o noivo / Agora não tô olhando mais pra ela / Fez as pazes com o noivo / Pelo feicebuques / Agora voltando pra
casa / Jantando miojo / Banho / Bosta, molhei o notebook / Agora secando o note
/ Agora deitei / Fritando na cama / E agora sozinho / Não conseguindo dormir. (ALBANI DA SILVA, 00.02.2012)
O SILÊNCIO E O AMOR
Disse o Silêncio ao Amor:
- Andas tão calado, Amor!
Respondeu-lhe o Amor:
- Você é que tem falado demais!
(Albani da Silva, poema publicado
originalmente nos “Poemas no Ônibus” Gravataí/2006)
Crônicas
desde Porto Alegre: Bob Dylan
Primeiro dia de vendas dos ingressos para o show do
Bob Dylan (1941) em Porto Alegre (24/04/2012). Baita fila pela Praça da Alfândega. Primeiro lote
esgotado. O cara perdeu a voz, mas não
os fãs. Em meio aquela tênue linha que separa o pop da contracultura,
via-se muito RayBan bonito,
universitário lendo Jack Kerouac (1922-1969) - o célebre “Pé na estrada” de 1957
-, moças formosas; muita barba, cabelo e bigode, dos que compravam ingresso e
dos bustos, monumentos, estátuas da Praça. Imponente General Osório, de costas
para o poeta norteamericano!
Ladeando a fila (uma hora de espera sob as guapuruvus
e palmeiras e ipês) um indiozinho guarani pedia esmola. Não
encheu a cuia, mas deu pro café. Indiferentes ao Bob Dylan, duas sem-teto sem-teteavam,
autênticas beatniks. A moça negra estendeu uma fralda na grama e comeu
restos de pão; sua amiga encontrou uma garrafinha de água mineral, no lixo, com
sobras do precioso líquido dentro e calmamente lavou os cotovelos e joelhos. – “Água
gelada. Refri gelado. Salgadinho”. E os ambulantes tirando um
troquinho. Voltou a crescer a economia no Brasil, depois dos anos 1980 e 1990
de estagnação, nosso país virou, outra vez, joia do capitalismo
mundial na Era Lula. A classe média e os grãos-finos regozijam-se pela música
folk, a música folk cobra caro os ingressos (mais caros ainda em
Brasília, SP, RJ, BH) e os ambulantes ganham seu troquinho.
Surgido das
tradicionais tendas de artesanatos e camisetas contraculturais (Bob Marley,
Che Guevara, Legião Urbana, Raul Seixas...), da Rua da Praia, um profeta
denunciava o imperialismo ianque, a Guerra do Iraque e outros senões. Tinha
razão em quase tudo, apesar do jeito folclórico de esbravejar; e do jeito
folclórico da gente desdenhar dele.
A velha arquitetura positivista da
Rua da Praia fica mais bonita ainda com o incenso que sobe das tendas. Enquanto alguns cheiravam calados, três
rapazes bobos e petulantes falavam em alto e bom som sobre Nova Iorque,
diplomacia, Oscar, judeus. Comprado o passaporte para o museu, não falo do MARGS
(Museu de Arte do RS), mas, sim, do show, vem a calhar dizer que foi o Bob
Dylan, cantor de protesto nos anos 1960, poeta concretista nos 1970, cantor
evangélico nos 1980, vanguardista do blues nos anos 1990 e 2000 que
consolidou o discurso poético na indústria cultural e no cancioneiro
globalizado. (Albani da Silva, 27.02.2012).
Nenhum comentário:
Postar um comentário