segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012



José Lutzenberger, Antigo Acampamento na Redenção, s/d.


HOMENAGEM
Em homenagem a todos os brutamontes, brucutus e valentões, nascidos no Brasil ou fora, ditos e feitos do Sargento Getúlio (1972) de João Ubaldo Ribeiro (1941).
“A hora de cada um é a hora de cada um / ...nunca permiti um cristão misturar indevidos, beber água depois de chupar cana, comer coco tendo tosse / Nuncão / Mosca não se afoga / Todo Peixoto é macho / Tonico gostava, era mais pistoleiro do que político. Eu sou político, não mato à toa / Fidumaégua, fidumavaca, fidumajega / Se eu sentisse saudade de homem, sentia saudade dele (de Tonico, o pistoleiro) / Eu mesmo decoro pouco, que não sou de muito aprendizado / Desque nasce começa a morrer / E ficou de olho pregado no assento dela, pensando besteira / Estou tirando bicho de pé, não sei mais o que eu podia estar fazendo com uma agulha na mão e o pé para cima, só se quisesse costurar os pés”. (ALBANI DA SILVA, 27.02.2012)

UMBIGANDO no tuyttter:
Agora estou abrindo os olhos / Agora acordei / Levantei da cama / Tirando o pijama suado / Tive pesadelos / Lavando a cara (Eta! Cara feia!) / Agora tomando café sem açúcar com pão-dormido / Na parada de ônibus / De pé no ônibus lotado / Agora alguém passou a mão na minha bunda / Tô de olho na loira falando com o cobrador / Desceu a loira / Agora trabalhando / Chateado / ): / Conversando no MSN / Minha colega brigou com o noivo / Agora tô chamegando ela / O gerente dizendo que tem balada nova bombando em Poa / 0: / Agora almoçando uma gororoba / Tarde estressante / Agora tentando trabalhar um pouco / Agora mandando longe o banco que liga no celular vendendo aplicação / Agora de olho na minha colega de novo / Que brigou com o noivo / Agora não tô olhando mais pra ela / Fez as pazes com o noivo / Pelo feicebuques / Agora voltando pra casa / Jantando miojo / Banho / Bosta, molhei o notebook / Agora secando o note / Agora deitei / Fritando na cama / E agora sozinho / Não conseguindo dormir. (ALBANI DA SILVA, 00.02.2012)

O SILÊNCIO E O AMOR
Disse o Silêncio ao Amor:
- Andas tão calado, Amor!
Respondeu-lhe o Amor:
- Você é que tem falado demais!
(Albani da Silva, poema publicado originalmente nos “Poemas no Ônibus” Gravataí/2006)

Crônicas desde Porto Alegre: Bob Dylan
Primeiro dia de vendas dos ingressos para o show do Bob Dylan (1941) em Porto Alegre (24/04/2012). Baita fila pela Praça da Alfândega. Primeiro lote esgotado. O cara perdeu a voz, mas não os fãs. Em meio aquela tênue linha que separa o pop da contracultura, via-se muito RayBan bonito, universitário lendo Jack Kerouac (1922-1969) - o célebre “Pé na estrada” de 1957 -, moças formosas; muita barba, cabelo e bigode, dos que compravam ingresso e dos bustos, monumentos, estátuas da Praça. Imponente General Osório, de costas para o poeta norteamericano! 

Ladeando a fila (uma hora de espera sob as guapuruvus e palmeiras e ipês) um indiozinho guarani pedia esmola. Não encheu a cuia, mas deu pro café. Indiferentes ao Bob Dylan, duas sem-teto sem-teteavam, autênticas beatniks. A moça negra estendeu uma fralda na grama e comeu restos de pão; sua amiga encontrou uma garrafinha de água mineral, no lixo, com sobras do precioso líquido dentro e calmamente lavou os cotovelos e joelhos. Água gelada. Refri gelado. Salgadinho”. E os ambulantes tirando um troquinho. Voltou a crescer a economia no Brasil, depois dos anos 1980 e 1990 de estagnação, nosso país virou, outra vez, joia do capitalismo mundial na Era Lula. A classe média e os grãos-finos regozijam-se pela música folk, a música folk cobra caro os ingressos (mais caros ainda em Brasília, SP, RJ, BH) e os ambulantes ganham seu troquinho. 

Surgido das tradicionais tendas de artesanatos e camisetas contraculturais (Bob Marley, Che Guevara, Legião Urbana, Raul Seixas...), da Rua da Praia, um profeta denunciava o imperialismo ianque, a Guerra do Iraque e outros senões. Tinha razão em quase tudo, apesar do jeito folclórico de esbravejar; e do jeito folclórico da gente desdenhar dele. 

A velha arquitetura positivista da Rua da Praia fica mais bonita ainda com o incenso que sobe das tendas. Enquanto alguns cheiravam calados, três rapazes bobos e petulantes falavam em alto e bom som sobre Nova Iorque, diplomacia, Oscar, judeus. Comprado o passaporte para o museu, não falo do MARGS (Museu de Arte do RS), mas, sim, do show, vem a calhar dizer que foi o Bob Dylan, cantor de protesto nos anos 1960, poeta concretista nos 1970, cantor evangélico nos 1980, vanguardista do blues nos anos 1990 e 2000 que consolidou o discurso poético na indústria cultural e no cancioneiro globalizado. (Albani da Silva, 27.02.2012).

Dylan cantando "Blowin´ in the wind" (1971):


E cantando "Subterranean Homesick Blues" (1965): 

E cantando e encantando (com) a musa JOAN BAEZ em "Blowin´in the wind" (1976) - outra vez:


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