Sonhadores,
Felipe Magnus, 2015
Os poemas de Felipe
Magnus, Porto Alegre/RS, nos trazem um forte conteúdo social e político. Mas
não só. Começamos a série com “Sonhadores”
que também é a trilha sonora da semana com chá
chá chá deste Inventor do Vento, C.
A. Albani da Silva, em seu Laboratório de Sons.
Sonhadores
Os restos
das lendas
de ontem
são concreto
hoje.
O concreto
que nós
quebramos
diariamente
a marteladas
de sonhos.
Imagens do Novo Mundo
propagam a guerra
escondem diário
massacre
nossa suposta paz erra
a violência veste
fraque
depois de pólvora e
chumbo
a verdade como cadáver
moribundo
mundo livre, mundo
novo
promessas no prato do povo
Elevador
teatro silêncio
deserto
no hall hálito de mofo
elevador atende
gemendo
como um velho geme de
dor
andares desbotados no
painel
ao primeiro movimento
mecânico
meus versos quebram ao
chão
seria aliteração da
vida?
a queda queda queda
"queda" tudo
em suspenso!
o chão perde vigência
baque poeira: sobrevivência
Brasa Lume
um êxodo
das energias todas
partes do corpo
que hoje hesitam
ensaiando êxito
esperando você
ser brasa lume
a me queimar
no frio de julho
transborda
seu fogo
léguas em volume
nas tuas tranças
labaredas ruivas
tua brasa lume
as energias todas
buscando teu ar
mergulho
Distopia: Bala
bala
é a palavra
dos jornais
a ponto de
bala
no cidadão
bala
é sem resquício
julga a ferida
aberta com a mesma
bala
doce a criança come
e a transgenia consome
bala
que bala essa coca
zero
licor de câncer nos
rins
bala
mas bala mesmo é
ritalina
filho robô vai muito
bem
bala
é o saudável sendo
proibido
drogas legais e
assassinas
bala
é viver para trabalhar
trabalhar para
consumir
e consumir para… viver
bala
ponto final.
Mar Morto
na banal filosofia
humana
plantamos em cada dia
sementes de eternidade
no mar morto, somos
ilhas
prestes a serem
engolidas
tempo onda, vida
areia.
Reprise
O Repórter Esso
informa:
é a reprise da
História
depois da Inquisição
(o Holocausto Cristão)
o moderno império
chama-se corporação
Grita a escória
Telejornal
"O Islaã é o novo
vilão!"
dando ao ianque poder
policial
esta vanglória
predatória
é a reprise da
História
rumo à nova Cruzada
mundial
Chama
nasce
após inúmeros colapsos
se aquieta
arrepia cabelo
aprende a transpassar
e a consumir tudo
se reproduz
em um pavio curto
morre
beijando cera
Fome de Tudo
Salários
Cada vez mais
Cruzados novos
Sorrisos
Cada vez mais
Privatizados
Fome que resta
Cada vez mais
Nos alimenta
Engarrafamento
Quando houver pouco
rio
e muito navio;
Quando houver muito
avião
e pouco céu,
desistirei da
humanidade.
quem sou eu?
que rei sou eu?
que mulambo sou eu?
mulambo eu mulambo tu
escravo ou mandante
de escolhas e abismos
nessa escada da vida
desgastante via
nos ístmos
míngua
recomeço
desistir não dá
ser saltimbanco com
medo
também não dá
a lua cheia tem seu
preço
sendo escravo ou rei
calçam a rua para
pisar o solo
mulambo se suja
quem sou eu?
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