sexta-feira, 24 de julho de 2015

(Chá Chá Chá dos) Sonhadores & outros poemas de Felipe Magnus

Sonhadores, Felipe Magnus, 2015


Os poemas de Felipe Magnus, Porto Alegre/RS, nos trazem um forte conteúdo social e político. Mas não só. Começamos a série com “Sonhadores” que também é a trilha sonora da semana com chá chá chá deste Inventor do Vento, C. A. Albani da Silva, em seu Laboratório de Sons.

Sonhadores
Os restos
das lendas
de ontem
são concreto
hoje.

O concreto
que nós
quebramos
diariamente
a marteladas
de sonhos.



Imagens do Novo Mundo
propagam a guerra
escondem diário massacre
nossa suposta paz erra
a violência veste fraque

depois de pólvora e chumbo
a verdade como cadáver moribundo
mundo livre, mundo novo
promessas no prato do povo

Elevador
teatro silêncio deserto
no hall hálito de mofo
elevador atende gemendo
como um velho geme de dor

andares desbotados no painel
ao primeiro movimento mecânico
meus versos quebram ao chão
seria aliteração da vida?

a queda queda queda
"queda" tudo em suspenso!
o chão perde vigência
baque poeira: sobrevivência

Brasa Lume
um êxodo
das energias todas
partes do corpo
que hoje hesitam
ensaiando êxito
esperando você
ser brasa lume
a me queimar
no frio de julho
transborda
seu fogo
léguas em volume
nas tuas tranças
labaredas ruivas
tua brasa lume
as energias todas
buscando teu ar
mergulho

Distopia: Bala
bala
é a palavra
dos jornais
a ponto de
bala
no cidadão
bala
é sem resquício
julga a ferida
aberta com a mesma
bala
doce a criança come
e a transgenia consome
bala
que bala essa coca zero
licor de câncer nos rins
bala
mas bala mesmo é ritalina
filho robô vai muito bem
bala
é o saudável sendo proibido
drogas legais e assassinas
bala
é viver para trabalhar
trabalhar para consumir
e consumir para… viver
bala
ponto final.

Mar Morto
na banal filosofia humana
plantamos em cada dia
sementes de eternidade

no mar morto, somos ilhas
prestes a serem engolidas

tempo onda, vida areia.


Reprise
O Repórter Esso informa:
é a reprise da História
depois da Inquisição
(o Holocausto Cristão)
o moderno império
chama-se corporação

Grita a escória Telejornal
"O Islaã é o novo vilão!"
dando ao ianque poder policial

esta vanglória predatória
é a reprise da História
rumo à nova Cruzada mundial


Chama
nasce
após inúmeros colapsos
se aquieta
arrepia cabelo
aprende a transpassar
e a consumir tudo
se reproduz
em um pavio curto
morre
beijando cera


Fome de Tudo
Salários
Cada vez mais
Cruzados novos

Sorrisos
Cada vez mais
Privatizados

Fome que resta
Cada vez mais
Nos alimenta


Engarrafamento
Quando houver pouco rio
e muito navio;
Quando houver muito avião
e pouco céu,
desistirei da humanidade.

quem sou eu?
que rei sou eu?
que mulambo sou eu?

mulambo eu mulambo tu
escravo ou mandante
de escolhas e abismos
nessa escada da vida
desgastante via
nos ístmos
míngua
recomeço
desistir não dá
ser saltimbanco com medo
também não dá
a lua cheia tem seu preço
sendo escravo ou rei

calçam a rua para pisar o solo
mulambo se suja

quem sou eu?

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