quinta-feira, 15 de outubro de 2015

O dia é delas: bons ventos às professoras!

Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810 a 1885)

Nós, homens, somos a exceção que comprova a regra: o dia é delas! Bons Ventos às professoras!

Trilha sonora: Releitura com Vento pro clássico “Anjos da Guarda” da Leci Brandão.

Abaixo: uma crônica do Inventor do Vento sobre a regravação da música e sobre os diferentes professores que existem, existiram e existirão nesse mundo velho medonho maluco.

            “Desde 1995 quando foi gravada pela sambista Leci Brandão, a canção 'Anjos da Guarda' tem sido um símbolo da luta dos educadores, Brasil adentro, pela ensino público de qualidade – hino entoado em greves e mobilizações; credo inconsciente nos conselhos de classe.
            Muitas vezes me pediram para que eu cantasse essa música... E este Inventor do Vento nunca conseguiu. Até chegar a tarde de primavera do dia 15 de outubro de 2014: exatamente o Dia do Professor!
            Passei o dia no asilo para professores aposentados “Saudosa Sociedade dos Mestres Queridos”, lá na Praia de Baunilha, ao sul de Moçambique. Me deparei com seis velhinhos que, para minha boa fortuna, tinham aprendido a tocar algum instrumento como terapia após se afastarem do giz e da lousa. Sendo assim, realizamos esta estranha gravação.
            A idéia era gravarmos no pátio de uma escola próxima, mas a preguiça não nos deixou passar do quarto do Professor Arquimedes Vieira, matemático e tocador do cajón, dono também de uma vasta biblioteca que ajudou a atrasar nosso ensaio. Na guitarra, contamos com Ary Tolueno, biólogo e professor da rede pública de Viamão, nos anos 1960, onde criava tigres nos Laboratórios de Ciências das escolas para deixar suas aulas mais atraentes aos filhos dos agricultores locais. No violão, conheci Dona Capitolina de Assis Machado, professora de língua portuguesa, francês, espanhol e latim, assanhada que só ela: embestou de me achar bonito. Lecionar, lecionou apenas 05 anos logo após sair do Magistério, pros pimpolhos do primário, isto em Porto Alegre. No mais de sua carreira, foi diretora por 32 anos (de 1953 a 1985) em uma escola hoje desativada, pois atendia apenas 75 alunos por ano, todos muito comportados, embora houvesse milhares de camponeses e sem-terra analfabetos se achegando no bairro: na época da Capitolina as comunidades não votavam para a direção das escolas como acontece hoje com a redemocratização brasileira e sua LDBEN - Lei de Diretrizes da Educação, do final dos anos 1990. E, entre outras coisas, um pingo de gente estava devidamente matriculada, quando muito, terminando o Ensino Fundamental...
            Nas demais percussões, o General Positivista Quem Manda Aqui Sou Eu, Educador Físico ainda saradão, no alto dos seus 87 anos: evidentemente desritimado, mas teimoso que só, armado com seus galardões, foi também quem propôs o arranjo da canção e, talvez, sem querer, cumprindo a sina dos militares no Brasil, tentou pôr ordem no processo criativo, em busca de algum progresso, entenda-se, do melhor andamento musical, o que acabou transformando um samba autêntico num rock anárquico.
            Nos vocais de apoio ainda contamos com o teólogo, professor de História e Geografia e Religião e padre jesuíta Pedro Paulo dos Santos Inácio de Loyola: por três vezes paramos a gravação para ouvir sua maravilhosa explanação sobre a profissão de professor não ser uma profissão qualquer, muito menos ser qualquer profissão: mas, sim, uma vocação: civilizar e evangelizar pra uma América cristã.
            Tecnocrático da Cunha, professor universitário e, por um triz, quase que o primeiro professor do ensino profissionalizante do Brasil (perdeu a vaga inexplicavelmente, nos anos 1940, para um amigo seu de infância, ruim pra dedéu em cálculo) decidiu não participar da releitura, embora tocasse apito. Achou perda de tempo essa homenagem excêntrica, apressada, de mau gosto mesmo. Da mesma forma, julgou nossos instrumentos ultrapassados, nossas competências e habilidades como artistas incompetentes e inábeis. Se estivesse na ativa, estaríamos todos rodados na matéria de engenharia de ruídos e no canto orfeônico”.
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)             

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