Um
amigo me disse que se sente vivendo na Idade Média: Com medo do
Tribunal da Inquisição e dos novos Reis Taumaturgos.
Recomendei
a ele a leitura dos poetas goliardos. Eles eram poetas malditos na
Idade Média, muitas vezes padres medievais que preferiam a taberna
do que a batina.
O
mais famoso deles foi FRANÇOIS VILLON, que viveu no século XV.
Talvez ele tenha sido o último poeta medieval e o primeiro poeta
moderno. Não sei. Agora cabe ao meu amigo ler.
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BALADA
DAS COISAS SEM IMPORTÂNCIA
François
Villon, 1431 a 1463
1.
Conheço se há moscas no leite, Conheço pela roupa o homem, Conheço
o tédio e o deleite, Conheço a fartura e a fome, Conheço a mulher
pelo enfeite, Conheço o princípio e o fim, Conheço pela chama o
azeite, Conheço tudo, menos a mim. 2. Conheço o gibão pela gola,
Conheço o rico pelo anel, Conheço o fiel pela sacola, Conheço a
monja pelo véu, Conheço o porco pela tripa, Conheço o irmão pelo
latim, Conheço o vinho pela pipa, Conheço tudo, menos a mim. 3.
Conheço a mula e o cavalo, Conheço o carro e a carreta, Conheço a
galinha e o galo, Conheço o sino e a sineta, Conheço a flor pelo
talo Conheço Abel e Caim, Conheço o pote e o gargalo, Conheço
tudo, menos a mim. 4. Oh! Senhor Príncipe, te ofereço tudo que eu
conheço E eu conheço tudo em suma, Conheço o branco e o carmim, E
a morte que o fim consuma. Conheço tudo, menos a mim.
Tradução
por Ferreira Gullar, 1930 a 2016
Música
por Inventor do Vento, C. A. Albani da Silva, 2016.
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