segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

#13 REFRESCOS da ALMA


PLAYLIST DO LIVRO
CONTOS PRA CANTAR DO INVENTOR DO VENTO
#13 REFRESCOS da ALMA

Foi num dia de 2011:
À tarde, recebi uma jovem cantora
Para gravar um jingle político
No meu estúdio caseiro
Era um reggae e falava alguma coisa sobre
O conselho tutelar;
À noite, participei de uma roda de samba
Com serestas boêmias tipo Nelson Gonçalves
Dois músicos veteranos da cidade:
Um crooner elegante já branquejando as melenas
Um violonista de sete cordas e dez dedos ligeiros
Pensei então nessas ocasiões benfazejas
Que nos refrescam a alma!
Seriam os mesmos refrescos
Para personagens anônimos como nós
Ou ilustres personagens históricos
Teriam outros refrescos para suas almas?
A letra toda é metáfora
A resposta cabe a cada leitor e ouvinte inventar…
*
Em uma primeira tentativa
Toquei esta canção em ritmo samba torto
Que é como chamo
Minha incapacidade de tocar samba direito
Fracassando, apelei para o meu chão: rock
E meti um tchá cum dum no violão
Continuou a mesma porcaria!
Anos depois
Experimentando em meu laboratório
Baterias eletrônicas no tecladinho do Seu Fulê
Com som de trilha de videogame (16 bits!)
Consolidei duas partes com andamentos distintos
Daí foi um pulo para meu amigo
Alemão Cristiano
Entrar quebrando tudo com a sua bateria!
Vuuuuush
***
REFRESCOS DA ALMA

(c. a. albani da silva, o inventor do vento)

Não prometa a Pandora o que não se pode cumprir
Não menospreze a sabedoria daquele que não sabe ler
Nem Maomé, nem Jesus, nem Buda, nem Sócrates
Rabiscaram um bilhete só

Dia desses encontrei-me com a última das deusas
Astreia, a Virgem, cantou docemente para mim
Mandei-lhe presentes e um abraço apertado
Por sua mãe, a Justiça

Por muito pouco ela não entendeu a cabala
Mas se esqueceu dos burocratas de terno, gravata, sorriso e mala

Ela trouxe um prato de comida requentada
Para um Prometeu acorrentado

Não explique a Arjuna aquilo que nem você entende
Os tempos são duros, mas ainda podem piorar
Nem Conselheiro, nem Sepé, nem Zumbi, nem Prestes
Desistiram de causas perdidas

Noite dessas encontrei-me ouvindo velhas serestas
Nesta cidade bastam sete cordas para uma canção
Voar livre como um pássaro

Por muito pouco ele não perdeu a novela
E se lembrou que para cada meia-noite há uma Cinderela

Ele trouxe uma caixa de sapatos usada
Não cabiam muitas coisas, afinal,
ele não precisava 

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