ALGUNS
MOTIVOS PARA NÃO SENTIRMOS SAUDADES DA DITADURA MILITAR (1964-1985)
Há
55 anos, na
madrugada de 31/03 para 1° de abril de 1964, o Exército derrubou o
Presidente João Goulart (1919-1976) e passou a ditar as regras,
através dos seus coturnos, no
Brasil. Jango era um discípulo mais
moderno e liberal da herança trabalhista do presidente Getúlio
Vargas. Este foi o gaúcho que havia se suicidado em 1954 após ser
acusado de corrupção por criar coisas que desagradaram grande parte
dos interesses da burguesia no Brasil: A Carteira de Trabalho, a
Petrobras, a siderurgia e a mineração públicas, entre outras.
Lembro que Getúlio não foi nenhum santo e boa parte de suas obras
em 19 anos de governo foram conduzidas também de forma autoritária.
Mas foi assim que, apoiado por
empresários nacionais e estrangeiros, por
grande parte da Igreja, por setores da
classe média, fazendeiros e pelo governo dos EUA, o GOLPE
MILITAR foi uma reação das elites
econômicas contra
as então crescentes reivindicações sociais de sindicatos,
agricultores, partidos de Esquerda,
estudantes, intelectuais e artistas. Essas lutas populares eram em
prol das REFORMAS
de BASE (reforma agrária,
reforma urbana, reforma educacional e política). O pessoal
da Direita,
que deu o Golpe Militar, temia que essas
grandes e fundamentais reivindicações trabalhistas levassem o
país a uma
Revolução Comunista, como na Cuba de Fidel Castro e “Che”
Guevara em 1959. Saíram com tiros,
bombas, tanques e cavalos pelas capitais do país em defesa da
propriedade privada sem limites, do poder do dinheiro sobre o
trabalho, do ultracapitalismo moralista,
direcionando os recursos do governo à
iniciativa privada, celebrando a alienação cultural e reprimindo
grosseiramente a
oposição. Sendo assim:
1) É
verdade que havia mais segurança nas ruas durante a Ditadura? Não!
Durante a Ditadura, a repressão policial se concentrou contra grupos
políticos de Esquerda (guerrilheiros,
estudantes, líderes sindicais, intelectuais, artistas críticos). Se
as ruas eram mais pacatas é porque os centros urbanos brasileiros
eram bem menores e muita gente (cerca de 60% da população) vivia no
campo. Em 1970,
por exemplo, Gravataí tinha menos de 70 mil habitantes.
Em 2000,
tinha 270 mil habitantes!
2) As
favelas e o êxodo rural têm a ver com a Ditadura então? Tudo
a ver! Entre 1967 e 1979 os militares incentivaram a vinda de muitas
empresas estrangeiras para o Brasil, sobretudo empresas
norteamericanas. O país se industrializou de vez. Porém, o campo
continuou dominado pelo latifúndio,
ou seja, muita terra na
mão de poucos fazendeiros e pouca terra na mão de muitos
agricultores. Resultado
disto? Milhões de camponeses
sem-terra abandonaram o
campo (estima-se uns 40 milhões),
ocupando as periferias das cidades atrás de emprego nas fábricas.
Alguns conseguiram... Outros, não!
3) Não
existiam drogas durante a Ditadura? Foi
exatamente durante a Ditadura que o
campo, no Brasil, se industrializou também,
a partir de 1972. Máquinas agrícolas substituíram a mão-de-obra
de milhões de agricultores e
isso ocasionou ainda mais êxodo rural.
Nesse embalo, fazendeiros, empresas multinacionais de agrotóxicos e
equipamentos agrícolas investiram
pesado na produção de
alimentos, mas também, de
entorpecentes (tudo em
nome do lucro, claro!) em um processo simultâneo em quase toda a
América Latina. Rapidamente, as drogas inundaram as cidades...
4) Não
havia corrupção na Ditadura? Enormes
obras de infraestrutura (estradas, pontes, hidrelétricas,
aeroportos) aconteceram no Regime Militar, quase todas superfaturadas
e com muitos desvios. Veja o caso da Rodovia
Transamazônica, caríssima e
até hoje inacabada. Ou mesmo a enorme dívida
externa, contraída pelo
Governo Militar para industrializar o país. Poucas denúncias
apareciam na TV, pois o próprio governo censurava a imprensa, e
porque também grande
parte da imprensa apoiava o Regime Militar (a
Rede Globo, a Folha de SP, o SBT...)
5) Mas
a Globo não foi censurada também? Algumas
novelas da Globo foram censuradas, mas quase todas por cenas de sexo,
beijos e nádegas, não por ideias políticas como foram censurados
dezenas de compositores, escritores e professores. Mesmo assim, foi a
Ditadura que patrocinou dezenas de filmes estilo PORNOCHANCHADA,
via Embrafilme,
aqueles filmes brasileiros de comédia-erótica que fizeram muito
sucesso no país nos anos 1970.
6) A
Ditadura no Brasil foi menos violenta que as Ditaduras no Uruguai,
Paraguai, Argentina, Bolívia, Chile? Não!
Ainda hoje centenas
de pessoas estão desaparecidas por terem sido torturadas e mortas
por órgãos militares e policiais:
outras centenas
morreram assassinadas. Atualmente, a resistência ainda é grande
entre os militares e políticos de Direita que, por vezes, contestam
a Comissão
Nacional da Verdade,
instituída pelo governo Dilma Roussef em Maio de 2012 e que busca
apurar os crimes de torturadores e terroristas de
Estado do Regime Militar, resgatando
e preservando também documentos históricos do Regime. Muitos desses
torturadores seguem hoje recebendo salários, homenagens e mantêm
títulos militares. Mesmo a Lei
da Anistia Geral, de 1979,
promoveu a impunidade dos torturadores e não prescreveu, como
deveria, em 2009.
7) Alguém
votava na Ditadura? Na
maior parte da Ditadura, não! Os militares liberaram o voto em
certos momentos, mas apenas para os alfabetizados (milhões de
brasileiros eram analfabetos então) e para algumas prefeituras e
Estados. Nada
de voto para presidente! A
lógica era: o povo brasileiro é incompetente, incapaz de votar por
ser ignorante. Ou seja, novela
(ou pornochanchada), futebol e cerveja pro povo,
pois assim o povo deixava que os Generais, os “técnicos” do
Exército e das empresas governassem o país.
RESUMINDO: Grande
parte dos problemas do Brasil de hoje tem sua origem nos 21 anos de
Ditadura Militar!!!!
(C.
A. Albani da Silva, o Inventor do Vento, 31/03/2019)