Allan Sieber,
Uma obra de arte tem que fazer o público
pensar, s/d
O primeiro dia do resto de sua vida
Enquanto
aguardamos ansiosamente, outra vez, pelo fim do mundo – tal qual no ano 1000, em
1962, em 2000, ficamos com a poesia de João Cabral de Melo Neto...
Habitar o tempo
A F.A. Bandeira de Melo
(João Cabral de Melo Neto, do livro “A
educação pela pedra”, 1966)
Para não matar seu tempo, imaginou:
vivê-lo enquanto ele ocorre, ao vivo;
no instante finíssimo em que ocorre,
em ponta de agulha e porém acessível;
viver seu tempo: para o que ir viver
num deserto literal ou de alpendres;
em ermos, que não distraiam de viver
a agulha de um só instante, plenamente.
Plenamente: vivendo-o de dentro dele;
habitá-lo, na agulha de cada instante,
em cada agulha instante: e habitar nele
tudo o que habitar cede ao habitante.
vivê-lo enquanto ele ocorre, ao vivo;
no instante finíssimo em que ocorre,
em ponta de agulha e porém acessível;
viver seu tempo: para o que ir viver
num deserto literal ou de alpendres;
em ermos, que não distraiam de viver
a agulha de um só instante, plenamente.
Plenamente: vivendo-o de dentro dele;
habitá-lo, na agulha de cada instante,
em cada agulha instante: e habitar nele
tudo o que habitar cede ao habitante.
2.
E de volta de ir habitar seu tempo:
ele corre vazio, o tal tempo ao vivo;
e como além de vazio, transparente,
o instante a habitar passa invisível.
e como além de vazio, transparente,
o instante a habitar passa invisível.
Portanto: para não matá-lo, matá-lo;
matar o tempo, enchendo-o de coisas;
em vez do deserto, ir viver nas ruas
onde o enchem e o matam as pessoas;
pois como o tempo ocorre transparente
e só ganha corpo e cor com seu miolo
matar o tempo, enchendo-o de coisas;
em vez do deserto, ir viver nas ruas
onde o enchem e o matam as pessoas;
pois como o tempo ocorre transparente
e só ganha corpo e cor com seu miolo
(o que não passou do que lhe passou),
para habitá-lo: só no passado, morto.
para habitá-lo: só no passado, morto.
Rita Lee – Hoje é o primeiro
dia do resto de sua vida (1972): ´Cê tá entendo?:
Nei Van Soria – Cara Comum (2012): Espécie em extinção?
Barão Vermelho e Cazuza – Codinome Beija-Flor (2005): Mesmo acabando o mundo, o amor
continuará sendo mera coincidência...
O Ano Mil
O historiador francês Georges Duby
(1919-1996) escreveu em “O Ano Mil” (1967) a respeito do pensamento apocalíptico na
Idade Média (500 a 1500 d.C.):
Capítulo II – A espera
“Para o
cristianismo, a História possui uma orientação. O mundo tem uma idade. Foi
criado por Deus numa certa época. Então ele escolheu-se um povo cuja marcha
guia. Num certo ano, num certo dia, tornou-se homem entre os homens. Alguns
textos, os da Sagrada Escritura, permitem o cálculo das datas, a da criação, a
da encarnação, logo discernir os ritmos da História. Estes mesmos textos [...],
os Evangelhos, o Apocalipse anunciam que um dia virá o fim do mundo. Ver-se-á
surgir o Anti-Cristo que seduzirá os povos da terra. Depois o céu abrir-se-á
para o retorno do Cristo em glória, vindo julgar os vivos e os mortos. No
Reino, na Jerusalém celeste terminará a longa procissão do povo de Deus. Convém
estar-se preparado para enfrentar o dia da cólera. Os monges dão o exemplo:
cobriram-se com as vestes da abstinência e postaram-se na vanguarda da marcha
coletiva. O seu sacrifício só tem sentido em função da espera. Mantêm-na.
Exortam cada um a perscrutar os preliminares da Parúsia (2ª vinda de Cristo)”.
No mundo atual, todos esperamos pelo Armageddon, mas quem seriam os
monges abstinentes?
Johnny
Cash – The man comes around (2002):
O sentido da vida ou os deuses apenas apostando como a Terra acabará: Fogo? Água? Guerras nucleares? Limites absolutos do Capital? Poluição? Meteoros? Solidão?
O sentido da vida ou os deuses apenas apostando como a Terra acabará: Fogo? Água? Guerras nucleares? Limites absolutos do Capital? Poluição? Meteoros? Solidão?
O
Apocalipse de São João
Capítulo 14, Versículos
14:19
Então olhei e vi uma nuvem branca, na qual estava sentado alguém que parecia
um ser humano, com uma coroa de ouro na cabeça e uma foice afiada na mão. Outro
anjo saiu do templo e gritou bem forte para aquele que estava sentado na nuvem:
-
Use a sua foice e faça a colheita porque
já chegou a hora de colher. A terra está pronta para a colheita!
Depois
o que estava sentado na nuvem passou a foice sobre a terra e fez a colheita.
Aí
outro anjo saiu do templo que está no céu e ele também tinha uma foice afiada.
Depois
outro anjo, que era o encarregado do fogo, saiu de perto do altar. Com voz
forte ele gritou para o anjo que tinha a foice afiada:
-
Use a foice e corte os cachos de uvas da
videira da terra, pois as uvas estão maduras!
Então
o anjo passou a foice sobre a terra, cortou os cachos de uvas da videira e os
jogou no tanque da violenta ira de Deus, onde as uvas são pisadas. As uvas
foram pisadas no tanque que ficava fora da cidade, e o rio de sangue que saiu
desse tanque tinha trezentos quilômetros de comprimento por um metro e meio de
fundura.
Susana Félix e Jorge Drexler – A idade do Céu (2012): Tentando chegar ao Céu antes que fechem os portões.
Adorei... O fim é só o começo... Ou o Fim será agora?! Parabéns!!!
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