Luh Moraes, Tremenda Luz e Nivaldo, o Jegue*, 2014
* Tremenda
Luz e Nivaldo, o Jegue são personagens do Inventor do Vento (C. A. Albani
da Silva), nesta semana carinhosamente ilustrados pela estudante Luh
Moraes.
Há um porto
chamado coração
(C. A. Albani da
Silva, o Inventor do Vento)
Há um porto chamado coração
por ele passam caravelas, barcos, navios, todo tipo de embarcação
Uns ali jogam âncora
ancorando suas naves
na enseada da amizade, do amor, da paixão
Mas há tantos e tantos barquinhos que içam suas velas
e na imensidão de outros portos esperam encontrar paisagens mais belas
Tradução de Aurélio Buarque de
Holanda, “Grandes vozes líricas hispano-americanas” (1990)
Com marmelos maduros
Perfumo os meus armários.
Tem toda a minha roupa
Um aroma de fruta que ao meu
corpo
Dá um constante sabor a
primavera.
Quando dos guarda-roupas
Polidos e profundos
Tiro um braçado branco
De roupa íntima,
Pelo quarto se esparze
Um ambiente de horto.
Dir-se-ia que eu tivesse nos
armários
Preso o verão!
Esse perfume é o meu. Beijarás
mil mulheres
Amorosas e jovens, mas nenhuma
Há de dar-te a impressão de amor
agreste
Que eu te dou.
Por isso, em meus armários
Guardo frutas maduras,
E entre as dobras de minhas
roupas íntimas
Escondo, com manolhos secos de
vetiver,
Marmelos redondos, maturescentes.
Trago a pele impregnada
Desta fragrância viva;
Beijarás mil mulheres, mas
nenhuma
Há de dar-te a impressão de
arroio e selva
Que eu te dou.
El cuarteto de
nos– Ya no sé qué hacer conmigo (2007):
Segunda, 21 de julho
(mas poderia ser Quinta, 29 de
novembro)
“Cheguei à minha casa despenteado, com a garganta
ardendo e os olhos cheios de terra. Tomei banho, troquei de roupa e me instalei
atrás da janela para beber mate. Senti-me protegido. E também profundamente
egoísta. Via passarem homens, mulheres, velhos, crianças, todos lutando contra o vento,
e agora também contra a chuva. No entanto, não tive vontade de abrir a porta e
chamá-los para que se refugiassem na minha casa e me acompanhassem num mate
quente. E não porque não me tenha ocorrido fazer isso. A ideia me passou pela
cabeça, mas me senti profundamente ridículo e comecei a imaginar as caras de
desconcerto que as pessoas fariam, mesmo no meio do vento e da chuva.
[...]
Francamente, não sei se creio em Deus. Às vezes, imagino que, no caso de
existir Deus, esta dúvida não o desgostaria. E então? Talvez Deus tenha uma face de crupiê
e eu seja apenas um pobre-diabo que joga no vermelho quando dá preto, e
vice-versa”.
*Erick
Lopes da Silva é estudante do
Nono Ano na EMEF Alberto Pasqualini, Gravataí/RS: arranha seus primeiros
acordes no violão e desenha a vida, vivida-imaginada. ------X------
Em 09.07, no Novo Tutti, Centro de Porto
Alegre, a poetisa Léris Seitenfus
lançou seu livro “Grito Segredos”: quinto
lançamento da microeditora “Gente de Palavra” e sua
coleção “Caderno
de Poemas”. A trilha sonora ficou a cargo do
CoV. Abaixo, uma palhinha dos poemas da moça (com trilha sonora do CoV, claro)!!!!
Inspirado
na postagem dessa galerinha ventosa pensei nos meus cinco: mas todos
personagens de músicas!
1)Jesus:
Há mil anos
o mais famoso dos super-heróis; está sempre na boca dos cantores gospel.
2)Maluco Beleza:
Na lei da
sociedade alternativa a gente embarca no trem das 7 rumo à cidade de Thor; a
gente perde o medo da chuva; super-heróis são ironizados, mas se reza a Ave
Maria da rua e declama-se Gita; pra gente não ter ouro de tolo um maluco beleza
pode ser também mosca na sopa, metamorfose ambulante.
3)Sargento Pimenta:
Há 40 anos é
o maestro da Banda dos Corações Solitários. Entraram e saíram de moda, mas
ainda garantem que nos fazem sorrir.
4)O Lôco da Guitarra:
Irmão gêmeo
do “Cachorro Louco” é mais um fruto do expressionismo porraloka roque enrow de
adolescentes suburbanos tirando sarro de suas desilusões amorosas e da grana
curta tirando sarro dos amantes correspondidos e da burguesia ou melhor das
burguesas.
5)O Grosso:
O grosso
reconhece a sua grossura. Conhece o sistema antigo. Não tem tempo de ser
vagabundo. Lida o campo cantando pros bichos. Lálárilálálá. Dança aos domingos no galpão. Dá adeus de mão em mão.
O respeito é muito lindo.