(Letra e música de C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)
Lucy, pare de tomar LSD
Lucy, o
vizinho da esquina quer comer você
Lucy, pare de ler Edgar Allan Poe
Lucy,
nunca deixe de escutar o bom e velho roque enrow
Ah! Lucy, não te esqueças
de mim
Ah! Lucy, nosso amor chegou
ao fim
Lucy,
pare de pensar no amor e na fé
Lucy,
Jesus Cristo pega ônibus e anda a pé
Lucy,
por favor, pare de sorrir
Lucy,
teu olhar é tão doce e eu não consigo dormir
Ah! Lucy, por favor, não se
vá
Ah! Lucy, o teu nome é amar
Lucy, por
favor, me desperte antes das seis
Lucy, o
sonho acabou outra vez
Lucy,
não estou atrasado, mas preciso ir
Sinto o
coração quebrado, mas eu vou partir
Ah! Lucy, por favor, não se
vá
Ah! Lucy, o teu nome é me amar
Ah! Lucy, não te esqueças
de mim
Ah! Lucy, nosso amor chegou
ao fim
*Escrita originalmente em
2004 para a maior banda da galáxia, a
banda Madame Satã, esta canção também integra o repertório autoral do CoV
desde sempre. Em 2013 surgiu a sua gravação beatnik, direto do Laboratório
de Sons do Vento. Já no primeiro semestre de 2014, foi a vez do Inventor
do Vento e seu comparsa, Mick Oliveira, o Profeta do Vento,
registrarem uma versão acústica da canção em uma noite abençoada.
Quadro negro e giz branco, De Comenius até as estagiárias
de 2014
Desde 1995 quando foi
gravada pela sambista Leci Brandão, a canção “Anjos da Guarda” tem sido um símbolo da luta dos educadores, Brasil
adentro, pela educação pública de qualidade – hino entoado em greves e
mobilizações; credo inconsciente nos conselhos de classe.
Muitas vezes me pediram para que eu cantasse essa música...
E este Inventor do Vento nunca conseguiu. Até chegar a tarde de primavera
do dia 15 de outubro de 2014: exatamente o Dia do Professor!
Passei o dia no asilo para professores aposentados “Saudosa
Sociedade dos Mestres Queridos”, lá na Praia de Baunilha, ao sul de
Moçambique. E lá me deparei com seis velhinhos que, para minha boa fortuna, tinham
aprendido a tocar algum instrumento como terapia após se afastarem do giz e da
lousa. Sendo assim, realizamos esta estranha gravação.
A idéia era gravarmos no pátio de uma escola próxima, mas
a preguiça não nos deixou passar do quarto do Professor Arquimedes Vieira,
matemático e tocador do cajón, dono
também de uma vasta biblioteca que ajudou a atrasar nosso ensaio. Na guitarra, contamos
com Ary Tolueno, biólogo e professor da rede pública de Viamão, nos anos
1950, onde criava tigres nos Laboratórios de Ciências das escolas para deixar suas
aulas mais atraentes aos filhos dos agricultores locais. No violão, conheci Dona
Capitolina de Assis Machado, professora de língua portuguesa, francês,
espanhol e latim, assanhada que só ela: embestou de me achar bonito. Lecionar,
lecionou apenas 5 anos logo após sair do Magistério, pros pimpolhos do
primário, isto em Porto Alegre. No mais de sua carreira, foi diretora nos anos
1960 e 1970 de uma escola hoje desativada, pois atendia apenas 75 alunos por
ano, todos muito comportados, embora houvesse milhares de camponeses e
sem-terra analfabetos (adultos e crianças) se achegando no bairro: na sua época, portanto, as
comunidades não votavam para a direção das escolas como acontece hoje em dia após a
redemocratização brasileira e sua LDBEN, dos anos 1990.
Nas percussões, o General Positivista Quem Manda Aqui
Sou Eu, Educador Físico ainda saradão, no alto dos seus 87 aninhos: evidentemente
desritimado, mas teimoso que só, armado com seus galardões, foi também quem propôs
o arranjo da canção e, talvez inconscientemente cumprindo a sina dos militares
no Brasil, tentou pôr ordem no processo criativo, em busca de algum progresso,
entenda-se, do melhor andamento musical, o que acabou transformando um samba autêntico
num rock anárquico.
Nos vocais de apoio, ainda contamos com o teólogo,
professor de História e Geografia e Religião e padre jesuíta, Pedro Paulo
dos Santos Inácio de Loyola: por três vezes paramos a gravação para ouvir
sua maravilhosa explanação sobre a profissão de professor não ser uma profissão
qualquer, muito menos ser qualquer profissão: mas, sim, uma predestinação: uma
missão civilizatória e evangélica na América.
Tecnocrático da Cunha, professor universitário e, por
um triz, quase que o primeiro professor do ensino profissionalizante do Brasil (perdeu
a vaga inexplicavelmente para um amigo seu de infância, ruim pra dedéu em
cálculo) decidiu não participar da releitura, embora tocasse apito. Achou perda
de tempo essa homenagem excêntrica e apressada (além de tudo, atrasada, pois conforme
sua previsão, só na madrugada do dia seguinte este Inventor do Vento chegaria
em Gravataí para poder escrever aos leitores do blogue do CoV sobre a aventura no
asilo). Da mesma forma, julgou nossos instrumentos ultrapassados, nossas competências
e habilidades como artistas incompetentes e inábeis. Se estivesse na ativa, estaríamos
todos rodados na matéria de engenharia de ruídos ou canto orfeônico.
Thomas Gainsborough, George
Venable Vernon, [seria o rapaz ou o cão?], 1767
“Numa extremidade da gôndola, indiferente aos que iam e
vinham pelo tombadilho, batendo de vez em quando a cauda de modo expressivo
contra as tábuas do assoalho, o focinho enterrado nas páginas de um volume do Sr. Henry James,
um cão de nenhuma raça em particular parecia absorto no texto à sua frente.
Desde o dia em que os Amigos
(do Acaso), no decorrer de uma missão na capital da nação (ver Os Amigos do Acaso e o pateta perverso),
salvaram Pugnax, na
época ainda um mero filhote, de um conflito furioso, à sombra do Monumento a
Washington, entre duas
matilhas rivais de cães sem dono, ele tinha o hábito de perscrutar as
páginas de qualquer material impresso que porventura encontrasse a bordo do Inconveniência, desde abordagens teóricas das artes
aeronáuticas até leituras bem menos apropriadas, como folhetins sensacionalistas
– embora, ao que parecia, ele gostasse mais de narrativas sentimentais a respeito
de sua própria espécie do que de histórias que destacassem os extremos do comportamento humano, que
lhes pareciam um tanto extravagantes. Ele aprendera, com aquela facilidade
característica dos cães, a virar as páginas do modo mais delicado, utilizando o
focinho ou as patas, e todo aquele que o visse entretido dessa forma não podia
deixar de perceber as
mudanças de expressão em seu rosto, em particular as sobrancelhas
excepcionalmente articuladas, que contribuíam para o efeito geral de interesse,
envolvimento e – impossível evitar a conclusão – compreensão”.
(Thomas Pynchon, Contra o dia, 2006, tradução de
Paulo Henriques Britto)
Sugestão de trilha sonora para ler Thomas Pynchon>