Quando uma
deusa perde seus fiéis, ela deixe de ser imortal. Foi o que aconteceu com Nana,
ou Ishtar, divindade na Antiga Mesopotâmia. Agora, não precisa ser babilônico
ou assírio para meditar mais um pouco, no século XXI, sobre a fertilidade dos
campos, as águas do Tigre e Eufrates, a sensualidade feminina, a maternidade.
Sendo
assim, o poema, em forma de carta, à ex-deusa, Nana, será entoado em
três ritmos: o terceiro, e último, deles, nesta semana de Carnaval, será o samba – folia de Momo, arlequim e colombina, reinventada por Tias Ciatas e pelas batucadas nos morros cariocas após a
Abolição e antes da Justiça social.
Nana
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)
Nana, veja quantos
livros na estante e você não leu
Quantos dos seus
amantes você já esqueceu?
Nana, se ao menos eu
tivesse um bom conselho...
Nana, quantos dias eu
sequer pude olhar na tua cara
Mas quantas vezes mais,
desesperadamente, precisei do teu sorriso?
Nana, se ao menos eu
tivesse uma explicação...
Nana, fique com suas
mentiras que eu fico com as minhas
Eu sei que você sabe
que nossas vidas não são tão nossas assim
Nana, se ao menos eu
sentisse saudade...
Nana, saiba que ainda
te levo no peito
Para todo soldado
cicatrizes são medalhas
Nana, se ao menos eu
tivesse um bom motivo...
Nana, se um dia eu
voltar a me enxergar nos teus olhos
Espero enfim
reencontrar tudo aquilo que perdi
Nana, todo mundo leva
um pouco dos outros consigo...
Nana, em quantas
canções já ouvi o teu nome?
Mas nenhuma delas foi
feita pra ti
Nana, se ao menos eu
soubesse compor...
Nana, sei que o que
todos querem é ser felizes
Mas não será este mundo
pequeno para tantas felicidades diferentes?
Nana, se ao menos eu me
calasse...
(Gravada
no Laboratório de Sons do Vento, um pouco antes do bloco passar, logo depois da Mangueira entrar na Avenida)
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