Quando uma
deusa perde seus fiéis, ela deixe de ser imortal. Foi o que aconteceu com Nana,
ou Ishtar, divindade na Antiga Mesopotâmia. Agora, não precisa ser babilônico
ou assírio para meditar mais um pouco, no século XXI, sobre a fertilidade dos
campos, as águas do Tigre e Eufrates, a sensualidade feminina, a maternidade.
Sendo assim, o
poema, em forma de carta, à ex-deusa, Nana, será entoado em três ritmos:
o segundo deles, nesta semana de Iemanjá, a Nossa Senhora dos Navegantes,
será o brega – malandragem sentimental, um pouco
debochada, outro pouco desesperada, criação de uma arte brasileira feita para
o povão, às vezes pelo povão, nos subdesenvolvimentos do nosso
país.
Nana
(C. A.
Albani da Silva, o Inventor do Vento)
Nana,
veja quantos livros na estante e você não leu
Quantos
dos seus amantes você já esqueceu?
Nana,
se ao menos eu tivesse um bom conselho...
Nana,
quantos dias eu sequer pude olhar na tua cara
Mas
quantas vezes mais, desesperadamente, precisei do teu sorriso?
Nana,
se ao menos eu tivesse uma explicação...
Nana,
fique com suas mentiras que eu fico com as minhas
Eu sei
que você sabe que nossas vidas não são tão nossas assim
Nana,
se ao menos eu sentisse saudade...
Nana,
saiba que ainda te levo no peito
Para
todo soldado cicatrizes são medalhas
Nana,
se ao menos eu tivesse um bom motivo...
Nana,
se um dia eu voltar a me enxergar nos teus olhos
Espero
enfim reencontrar tudo aquilo que perdi
Nana,
todo mundo leva um pouco dos outros consigo...
Nana,
em quantas canções já ouvi o teu nome?
Mas
nenhuma delas foi feita pra ti
Nana,
se ao menos eu soubesse compor...
Nana,
sei que o que todos querem é ser felizes
Mas não
será este mundo pequeno para tantas felicidades diferentes?
Nana,
se ao menos eu me calasse...
(Gravada
no Laboratório de Sons do Vento, verão mormacento de 2015, após 06 cervejas
quentes e um pastel com ovo numa lancheria com cheiro de óleo de cozinha no ar e
uma moça me olhando na esquina dos seus olhos, Avenida Voluntários da Pátria,
Centro de Porto Alegre/RS)
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