terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A trilogia de Nana - Parte I: Blues

Grafiteiro Sumério, Ishtar, a estrela da manhã, 3000 a. C


                Quando uma deusa perde seus fiéis, ela deixe de ser imortal. Foi o que aconteceu com Nana, ou Ishtar, divindade na Antiga Mesopotâmia. Agora, não precisa ser babilônico ou assírio para meditar mais um pouco, no século XXI, sobre a fertilidade dos campos, as águas do Tigre e Eufrates, a sensualidade feminina, a maternidade.
            Sendo assim, o poema, em forma de carta, à ex-deusa, Nana, será entoado em três ritmos: o primeiro deles, nesta semana calorenta no Paralelo 30, será o bluesgrito primordial, lamento dos negros escravizados de cabo a rabo na América moderna.

Nana
(C. A. Albani da Silva, o Inventor do Vento)

Nana, veja quantos livros na estante e você não leu
Quantos dos seus amantes você já esqueceu?
Nana, se ao menos eu tivesse um bom conselho...

Nana, quantos dias eu sequer pude olhar na tua cara
Mas quantas vezes mais, desesperadamente, precisei do teu sorriso?
Nana, se ao menos eu tivesse uma explicação...

Nana, fique com suas mentiras que eu fico com as minhas
Eu sei que você sabe que nossas vidas não são tão nossas assim
Nana, se ao menos eu sentisse saudade...

Nana, saiba que ainda te levo no peito
Para todo soldado cicatrizes são medalhas
Nana, se ao menos eu tivesse um bom motivo...

Nana, se um dia eu voltar a me enxergar nos teus olhos
Espero enfim reencontrar tudo aquilo que perdi
Nana, todo mundo leva um pouco dos outros consigo...

Nana, em quantas canções já ouvi o teu nome?
Mas nenhuma delas foi feita pra ti
Nana, se ao menos eu soubesse compor...

Nana, sei que o que todos querem é ser felizes
Mas não será este mundo pequeno para tantas felicidades diferentes?
Nana, se ao menos eu me calasse...
(Gravada no Carnaval de 2011, no Laboratório de Sons do Vento, com a participação da Amazona do Vento: Aline Albani).

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