sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Tyrteu Rocha Vianna – Saco de Viagem (1928)

José Lutzemberger, Aquarela sem título, 1935


Tyrteu Rocha Vianna (1898 a 1963) fez um só livro de poesia: Saco de Viagem, em 1928. E atrafuncou a boa bagunça modernista nesses pagos longe demais das capitais no sul do sul do Brasil. Entre a “Vontade de versos futuristas” e os “Churrascos de Viagens”, partes do seu sumido livro, percebemos que alguns cavalos estão montados em homens neste rincão e muitos gaúchos vão de a pé mesmo pelas veredas empoeiradas do asfalto quente.

Recordações
Tyrteu Rocha Vianna – Saco de Viagem (1928)

O general Bento Gonçalves da Silva 
Fez a separatória república de 35 
Com bandeira 
Verde amarela encarnada 
Escudo complicado 
Ajutório de Garibaldi dei due mondi 
E o rubro barrete frígio 
Da mulher deusa Razão parisiense 
Quando eu gurizava fundaços passarinheiros 
Em um São Chico bastante menor 
Que o 
O atualíssimo de empréstimo americano 
Asseio público e praça de esportes 
Hipotéticas hipóteses relatoriaes 
Ditadurazinha desgovernamental de Trois...tky 
Felizmente quadrienal 
Homenageavam filarmônica churrasco 
Cervejada subscrição República de Piratinim 
Subindo barbante 
Foguetório vivarada 
Discurso obrigatório major Laláo 
Meio metro bandeiral 
Histórico reverenciando respeito 
Trapo nem verde nem amarelo nem mais nada 
Meu Pai respondente 
Sentado me dizia 
É o regime econômico vaca magra 
Das tetudas economias invisíveis 
Do dinheiro municipal calotíssimo

No Galpão
(a Raul Bopp)
Tyrteu Rocha Vianna – Saco de Viagem (1928)


Lá fora o patrão D. Inverno
Mais D. Frio e seu capataz Minuano
Mais a peonada deles feita de pingos de garoa
Iam repontando
A manada retacona dos peães
Do pasto alto das noturnas calaveiragens pelos ranchos
Da vizinhança grávida de gurias cubiços palpáveis
Para a mangueira das 4 paredes do galpão
E à roda do fogo D. Chimarrão os pastorejava
Formados
Seu Tibúrcio era o contador de histórias de plantão
Sia dona Conversa foi vindo vagarosa e lerda
Como a baia aguateira lunanca
E pela boca desdentada do Aurélio chegou-se
Na história recente dos fantasmas assombradores
Do posto do rodeio das bragadas
Houve risadas mui reticênciais dos circunstantes
Largas longas e cortantes como facão marca touro
E D. Silêncio chegou montado no pschit
Do capataz bandaoriental D.Fulano
Seu Tibúrcio mandou D. Silêncio à fava
E foi se defendendo na maciota
Retrucão a fechar um criolo filado
Mas não foi eu que o sobreintendente
Ia prender na cadeia
Como desencaminhador da fia mais moça
Da siá dona Anaia
E o pai do aleijadinho
E logo em seguida
Deu vontade de fazer pipi no capataz
Bandaoriental D. Fulano
Peleador de amores impuberes abafados




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