sábado, 7 de abril de 2018

QUERIDA PODE CRÊ


Ainda é Primeiro de Abril:
QUERIDA PODE CRÊ
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)
Eu ando fora de moda
nem sei o que se passa na televisão
Eu nem sei de que grife,
eu só tenho gripe em qualquer estação
Talvez não seja um gato, mas eu tenho um bafo de leão
E quando chego em casa, entro pela janela,
pois levaram o portão
Se você acha a minha vida louca
Mais louca é você que
Paga as contas todo mês em dia
Mas não sabe por quê
E isso tudo é um grande tédio, querida, pode crer
Talvez não tenha o teu remédio, mas sei o que te faz sofrer
Eu chego sempre atrasado,
pois no calendário é tudo invenção
Eu tô sempre por fora,
pois o espaço de dentro já encheu de montão
Talvez não seja bonito ou o cara mais rico deste país
Mas te confesso, querida
te dou uma margarida e te faço feliz!
Se você acha...
Eu vou armar minha rede
à sombra de uma árvore digital
E acender duas velas
com a bituca de cigarro que achar no quintal
Quando trocar o teu carro por uma bicicleta
ou um burrico alado
Fico de ponta cabeça
pra ver se vejo o mundo assim desvirado
Se você acha a minha vida doida
Mais doida é você que
Paga as contas todo mês em dia
Mas não consegue viver
E isso tudo é um bayta tédio, querida, pode crer
Talvez não tenha o teu remédio, mas sei o que te faz sofrer

(Capítulo XIV, p. 69, do livro "Contos Pra Cantar")

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