segunda-feira, 23 de março de 2020

O ENCONTRO COM O CONDE LEÃO



Quer conhecer um pouquinho de um dos maiores escritores do mundo, o russo Leão TOLSTÓI (1828-1910)? Ouça então esse pod POEMA cast do Inventor do Vento! Vuuush


O ENCONTRO COM O CONDE LEÃO
*Dedicado ao meu amigo Tiago Oliveira

Foi durante aquela gripe danada
Três anteontens e o mundo parado
Me encontrei com o Conde Leão
Ele veio atrás de mim
Me convidou para lecionar
Na escola que havia fundado
Para os agricultores do seu feudo
Chamava Poliana, a Escola do Campo Limpo
Logo ali na Rússia, tão grande Rússia
Único lugar do mundo onde o conde cabia
Eu disse que ia pensar sobre o caso…
Para me convencer, afirmou o conde ser
O Cristo um tipo de anarquista
E que nenhuma igreja prestava
E que nenhum governo inspirava confiança
Mas eu soube depois que
O conde escreveu uma cartinha bajulando o imperador também…
Claro, não falei nada sobre isso
Perguntei sobre o funcionário Ivan, como ia?
O conde me disse “esse já morreu”
Perguntei sobre sua esposa então, Sofia Andreia
Tão prestativa para organizar os seus livros famosos
O conde começou a discursar contra o adultério
Citou o caso de uma conhecida sua chamada Ana
Ela traíra o marido
Mas ele falou de forma tão linda, tão intensa,
Tão apaixonadamente sobre Ana
Que me pareceu que invés de condenar
Ele estava elogiando o adultério
E a guerra, como vai”?
Ele havia servido, por anos, quando guri
Nas batalhas do Leste europeu
Entre as montanhas do Cáucaso e dos Cárpatos
Na península balcã
Matou gente, bebeu vodca, jogou dados
Fez muita sacanagem o conde nessa época
Mas agora, idoso, se arrependia de tanta grosseria
E a paz então como vai, velho conde”?
Ele disse que “o único caminho para a paz”
Era resumindo o Sermão da Montanha”
Em quatro princípios”:
Não queira mal a ninguém / Não traía a sua mulher / Não minta / Não resista à maldade usando da violência”
Deus existe e está dentro de cada homem”
Escondido ou escancarado”
Eu completei o seu nobre pensamento assim
O velho conde sorriu para mim orgulhoso
E afirmou:
Portanto a paz é uma questão de consciência moral”
E de iluminação pessoal, meu garoto”
Me enfureço com a pobreza dos trabalhadores”
E com o luxo dos ricos”
Mas não adianta nada fazer uma revolução ou a rebeldia”
A liberdade pode muito bem ser uma ilusão”
Velho conde, vou te dizer”:
Foi por isso que um escritor francês”
Seu fã”
Te chamou de 'conservador revolucionário'”
Numa biografia feita um ano depois que tu morreu”
O conde, ao ouvir isso, grunhiu
E me mostrou um punhado de cartas que
Ele havia trocado com Gandhi, aquele da Índia
Ele ainda trabalhava na África do Sul, nessa época”
Me corrigiu o conde
Falei “bonito, bacana, gosto desse cara”
Mas perguntei: “o que tu anda lendo além das cartinhas do Gandhi?”
Ele disse que tinha lido tudo que
Havia sido escrito no Ocidente
Desde a Grécia até a Roma
Até os Renascentistas europeus
Até os modernos do século XIX
Mas que ele achava tudo uma bosta!
Ele só gostava mesmo da Bíblia
Porque era a única coisa que o povo entendia
Eu lhe lembrei que o seu calhamaço sobre Napoleão
(Guerra e Paz)
Tinha agradado ao grande público também, lá em 1869
Ele disse que esse seu romance também era uma bosta!
Para encerrar lhe perguntei então
Por que você fugiu de casa para morrer?”
Em 1910, Conde Leão Tolstói”
Porque mesmo aos 82 anos de idade”
Tudo aqui dentro de mim, meu filho”
Era desconforto, queimava e doía”.

*Texto e narração por Inventor do Vento, C. A. Albani da Silva.

Nenhum comentário:

Postar um comentário