Alberto Guignard, Marília de Dirceu, 1957
40 anos do
disco EXILE ON MAIN STREET (1972) – THE ROLLING STONES
Trinta
anos antes de qualquer Funk Batidão falar de sacanagem e botar todo mundo
pra dançar, escandalizando alguns carolas, papais e intelectuais, os Stones já
cantavam algumas bobagens sensuais, eróticas, por vezes, obscenas. A diferença?
Os Stones vieram primeiro; são
bons músicos; fazem cara de mau, mas Mick Jagger levanta a bandeira da androginia,
e todos eles se vestem como ciganos; de vez em quando, falam de outras coisas que
não apenas sexo, alguma poesia, alguma política, alguma história; e, sim,
muitas vezes, o amor é tudo pra eles (geralmente isso supera a sacanagem na hora
de compor boas músicas). Exile on main street é um dos
melhores momentos da contracultura. Antes dela
ter sido domesticada, embalada e colocada na prateleira dos supermercados como
mais uma mercadoria, metida à rebelde e drogada...
(Albani da Silva, 21.04.2012)
Rocks Off (Stones, 1972)
- “Só
tenho sossego dormindo” - E olhe lá,
quando não vem um daqueles sonhos intranquilos de que falávamos outro dia...
Tumbling Dice (Stones,
1972) –“Bem que você poderia ser minha
parceira no crime”.
A
Inconfidência Mineira
Ao
escrever sobre a Inconfidência Mineira (1789), uma quase rebelião que quase
sonhou com a Independência do Brasil contra Portugal e que quase lutou pela
República e que quase defendeu a Abolição da escravidão, no seu livro “Romanceiro da Inconfidência”
(1953), Cecília Meireles (1901-1964) imortalizou
essas palavras que, desgraçadamente, ainda pesam sobre os corações ainda quase
não-mortos:
"...Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda..."
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda..."
TIRADENTES, 21.04
Joaquim José da Silva Xavier, apelidado Tiradentes (1746 a 21.04.1792) foi o quase herói
da quase rebelião conhecida como Inconfidência Mineira, também quase liderada
pelo poeta e advogado Cláudio Manuel
da Costa (1729-1789) e pelo
escritor Tomás
Antônio Gonzaga (1744-1810), este o autor das satíricas “Cartas Chilenas”, de 1787, em que denuncia as fanfarronices dos governadores da Vila Rica de então.
No coração do Brasil Colônia, esses rapazes foram pioneiros ao quase se
apropriar de algumas ideias revolucionárias que começavam a sacudir a Europa na
época – eram as ideias Iluministas e liberais que surgiram em meio à Revolução
Industrial inglesa (1760), à Revolução
Francesa (1789), além da
Independência dos EUA (1776). Outras quase
rebeliões, ou Conjuras,
aconteceram na mesma época no Rio de Janeiro (1794) e na Bahia (1798), esta quase conhecida
também como revolta
dos Alfaiates.
Quase
todos os Inconfidentes eram pessoas de posses, profissionais liberais e até
mesmo mineradores, quase todos endividados com a Coroa portuguesa que cobrava
pesados impostos sobre o ouro das Minas Gerais. Em troca de anistia para suas
dívidas, Joaquim
Silvério dos Reis (1756-1819), entre outros
quase Inconfidentes, entregaram os conspiradores que queriam começar a rebelião
convencendo os soldados coloniais, ou Dragões, a lutar contra Portugal. Entre
esses soldados, estava o alferes Tiradentes,
também quase dentista.
Dezenas
de quase revolucionários foram quase mortos, degredados para a África –
enforcado, esquartejado e exposto em via pública somente Tiradentes, por isso
alçado a mártir da República brasileira em 1890. Tomás Antônio Gonzaga foi um dos Inconfidentes exilados em
Moçambique e escreveu, antes de partir, o belo poema de amor “Marília de
Dirceu” (1792) para Maria Doroteia Joaquina de Seixas (1767-1853), sua bela
amada, uma donzela de 15 anos, que ficou abandonada no Brasil. Até hoje os
linguarudos discutem se Marília
morreu fiel ao poeta. Tomás, pouco
tempo depois de chegar a Moçambique, casou-se com outra moça... Se na política Tomás foi um quase herói, no amor ele
não teve nada de revolucionário. (Albani
da Silva, 21.04.2012)
Trechinho da
Lira XIV de “Marília de Dirceu” de Tomás Antônio Gonzaga
Ornemos nossas testas com
as flores
E façamos de feno um
brando leito
Prendamo-nos, Marília, em
laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos
Amores,
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter, o
tempo corre;
E para nós o tempo, que
passa,
Também, Marília, morre.
Happy – (Stones, 1972): "Preciso
de amor pra ser feliz. Não pretendo ser como papai, trabalhando noite e dia pro
patrão"...
DIA do
TRABALHO, DIA do TRABALHADOR, DIA da PREGUIÇA
Epigramas de Mário Quintana (1906-1994) em “Da Preguiça como Método de
Trabalho” (1987):
Verso Avulso
...
O luar é a luz do sol que está dormindo...
Vento
Pastor das nuvens.
Diálogo Bobo
- Abandonou-te?
- Pior ainda: esqueceu-me...
- Pior ainda: esqueceu-me...
Antigamente e agora
Antigamente,
era preciso virar todos os retratos
dos
nossos antepassados contra a parede, para não
continuarem
espiando a gente.
Espiando
ou espionando, nunca se sabe...
Mas
agora, alheios a tudo o mais, eles ficam
olhando
juntamente conosco, noite adentro, as intermináveis novelas da TV.
Os Crocodilos
Pior,
mas muito pior mesmo do que as lágrimas de crocodilo são os sorrisos de
crocodilo.
Do direito à preguiça
Alguns economistas e jornais dizem que vivemos atualmente em uma época de “pleno-emprego”,
ou quase isso, em algumas regiões do Brasil. Mas e se reduzíssemos a jornada laboral de 44h para
35h semanais, sem perda salarial? Alguns empresários e conservadores
empedernidos alegam que isso é impossível, pois além dos “custos de produção” o
que os assalariados fariam com mais tempo livre? Bobagens, na certa, dizem
eles. Mesmo que a depender da burguesia a gente deva mesmo é gastar ainda mais com
bugigangas pop, badulaques
eletroeletrônicos, bebida, sexo e entretenimento fútil. Ora, e se lembrarmos do ensinamento marxista de
que as máquinas, a tecnologia e a Ciência devem nos servir e não servirmos a
elas?
Um amigo espírita, em recente sessão mediúnica, recebeu a alma do
saudoso Paul Lafargue (1842-1911) autor “Do direito à preguiça” (1880). O velho
sábio, casado com Laura Marx (1845-1911), filha de Karl Marx (1818-1883), comentou sobre o Brasil
contemporâneo: “Camaradas brasileiros, vocês continuam trabalhando feito burros
de carga. E a maioria de vocês em profissões que não lhes agrada. Então o que
mudou da minha época pra cá? Agora, mesmo nas horas de folga, em seu tempo 'livre', cada vez menor, todos
estão sempre ‘naquela correria’ e a burguesia lhes diverte com pão e circo
pop-tecnológico-fuxiqueiro. Muitos dizem adorar isso, que não tem como ser diferente, apesar de ainda se deprimirem
em fábricas, escolas e escritórios”. (Albani da Silva, 25.04.2012)
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