John Everett Millais, A enchente, 1870
Mário Quintana
Mário Quintana (1906-1994) dá as boas-vindas a Feira do Livro de Porto Alegre (26/10 a
11/11) aqui no CoV. Como disse Manuel Bandeira
(1886-1968), seus poemas são QUINTANARES e, desde adolescente, os QUINTANARES
encantam este Inventor do Vento...
Quintanares
ao Vento
C. A. Albani da Silva
C. A. Albani da Silva
Quintanares
para salvar o gato na árvore
a
árvore da serra
Quintanares
para salvar a semana
o mês,
o dia, o ano
Quintanares
para salvar a todos os Quintanas, Santos, Silvas
ricos,
pobres, claros, escuros
Quintanares
contra os amores perdidos
chaves,
óculos, celulares, esperanças
Quintanares
contra os males
em
doses extravagantes nunca homeopáticas
Quintanares
contra o muro
dos
que não pensam, não sentem, não vivem os
Quintanares.
(C. A. Albani da Silva, 26.10.2012)
As estrelas
Mário
Quintana (Do livro “A cor do invisível” – 1989)
Foram-se
abrindo aos poucos as estrelas...
De
margaridas lindo campo em flor!
Tão
alto o Céu!... Pudesse eu ir colhê-las...
Diria
alguma se me tens amor.
Estrelas
altas! Que se importam elas?
Tão
longe estão... Tão longe deste mundo...
Trêmulo
bando de distantes velas
Ancoradas
no azul do céu profundo...
Porém
meu coração quase parava,
Lá
foram voando as esperanças minhas
Quando
uma, dentre aquelas estrelinhas,
Deus
a guie! Do céu se despencou...
Com
certeza era o amor que tu me tinhas
Que
repentinamente se acabou!
(1934)
Viagem de trem
Mário
Quintana (Do livro “A cor do invisível” – 1989)
Esses burrinhos
pensativos que a gente
encontra às vezes
na estrada dispensam
a gente de
pensar...
Paulinho
da Viola – Filosofia (Noel Rosa, 2003):
Paulinho
da Viola e Marisa Monte – Dança da Solidão (2003):
Poema para uma exposição
Mário
Quintana (Do livro “A cor do invisível” – 1989)
O
quadro na parede abre uma janela
que dá
para o outro mundo
deste
mundo...
Um
mundo isento de rumores
e de
mil flutuações atmosféricas
-
alheio a toda humana contingência...
Onde
um momento é sempre
e o
mal e o bem não têm nenhum sentido...
Mundo
em
que a forma também é a própria essência.
Ó
Vida
Transfixada
ao muro – e que palpita,
entanto,
num
misterioso, eterno movimento!
Não basta saber amar...
Mário
Quintana (Do livro “A cor do invisível” – 1989)
Para Milton Quintana
Neste
mundo, que tanto mal encerra,
não
basta saber amar,
mas
também saber odiar,
não
só servir a paz, mas também ir para a guerra.
Seguiremos
assim o próprio exemplo
de
Jesus, que tanto amor pregou na Terra...,
quando
Ele, num ímpeto de cólera,
a
relhaço expulsou os vendilhões do templo!
Paulinho
da Viola – Coisas do mundo, minha nêga (2003):
Paulinho
da Viola – Meu mundo é hoje (2003):
Às vezes tudo se
ilumina
Mário
Quintana (Do livro “A cor do invisível” – 1989)
Às vezes
tudo se ilumina de uma intensa irrealidade
E é como
se agora este pobre, este único, este efêmero
[instante do mundo
Estivesse pintado
numa tela, sempre...
Quem ama inventa
Mário
Quintana (Do livro “A cor do invisível” – 1989)
Quem
ama inventa as coisas a que ama...
Talvez
chegaste quando eu te sonhava.
Então
de súbito acendeu-se a chama!
Era
a brasa dormida que acordava...
E
era um revoo sobre a ruinaria,
No ar
atônito bimbalhavam sinos,
Tangidos
por uns anjos peregrinos
Cujo
dom é fazer ressurreições...
Um ritmo
divino? Oh! Simplesmente
O palpitar
de nossos corações
Batendo
juntos e festivamente,
Ou sozinhos,
num ritmo tristonho...
Oh!
Meu pobre, meu grande amor distante,
Nem
sabes tu o bem que faz à gente
Haver
sonhado... e ter vivido o sonho!
Sambô – (I can´t get no) Satisfaction (The Rolling Stones,
2012):
Sambô – Sunday Bloody
Sunday (U2, 2012):