Franz Marc, O Sonho, 1911
O TEMPO - Cheiro, som e aparência
Ray Bradbury (1920-2012), grande escritor de ficção científica norteamericano, descobriu em Marte, e relatou em suas "Crônicas Marcianas" (1950), que o Tempo pode ter cheiro, som e aparência:
"Havia um cheiro de Tempo no ar. Ele sorriu e examinou essa fantasia na mente. Era uma ideia. Qual seria o cheiro do Tempo? Cheirava a poeira, a relógios e a pessoas. E se perguntasse qual seria o barulho do Tempo, era como água correndo em uma caverna escura, vozes gritando, sujeira caindo pelas tampas das caixas vazias, e chuva. E, indo ainda mais longe, qual seria a aparência do Tempo? O Tempo era como a neve pingando em silêncio em uma sala escura ou se parecia com um filme silencioso em um teatro antigo, cem bilhões de rostos caindo como aqueles balões de Ano-Novo, caindo e caindo para o nada. Assim eram o cheiro, a aparência e o som do Tempo. E, naquela noite, Tomás esticou a mão para fora da caminhonete, para sentir o vento, naquela noite quase dava para tocar o Tempo".
O Tempo e a Beleza
Mal se passa da página 10 de “No teu
deserto” (2009) e o escritor português Miguel Sousa Tavares (1952) vem com esta reflexão sobre a beleza que não tem idade:
“Fico
sempre perturbado com as mulheres demasiado bonitas, nunca sei se são para ser
olhadas ou evitadas, contempladas como merecem ou deixadas em paz, porque aquele
dom não é culpa que se carregue para devassa alheia. Mas esta mulher parecia
uma aparição, uma fada, saída da mata em frente, que era uma mata
verdadeiramente encantada. Não estou a brincar, isto foi mesmo assim: eu estava
deslumbrado pela beleza dela e ela devia ter uns setenta e muitos anos, talvez
mesmo oitenta. Levantei-me no fim do almoço e, quando ia a passar pela mesa
dela, não resisti e, em francês – porque a tinha ouvido falar francês -,
perguntei-lhe delicadamente se lhe podia dizer uma coisa. Ela fez que sim, com
os seus olhos de água, e eu disse-lhe exactamente o que pensava: que ela era,
talvez, a mulher mais bonita que eu já tinha visto. Ela sorriu, um sorriso lindo
mas triste, como se aquilo lhe causasse mais sofrimento do que alegria, pousou
uma mão de dedos esguios sobre a que eu tinha apoiado na mesa, e disse-me:”
* Agora é com você, Ventoso
leitor, cate esse livro em alguma livraria ou então invente o que a bela
senhora disse...
U2 – Beautiful Day (2000):
U2 – With or without you (1987):
ESPAÇO DO LEITOR
Atendendo aos pedidos da leitora Clarice Lispector
(1920-1977), que não perde uma atualização sequer do CoV, dois poemas de Federico
García Lorca (1898-1936):
Casida II
DO PRANTO
Federico García Lorca (do livro “Divã do Tamarit”, 1936)
Fechei
a minha sacada
porque
não quero ouvir o pranto,
mas
por detrás dos muros grises
não
se ouve outra coisa que o pranto.
Há
pouquíssimos anjos que cantem,
há
pouquíssimos cães que ladrem,
mil
violinos cabem na palma da minha mão.
Mas
o pranto é um cão imenso,
o
pranto é um anjo imenso,
o
pranto é um violino imenso,
as
lágrimas amordaçam o vento,
e
não se ouve outra coisa que o pranto.
Casida
VII
DA
ROSA
Federico García Lorca (do livro "Divã do Tamarit", 1936)
A
rosa,
não
buscava a aurora:
quase
eterna em seu ramo,
buscava
outra coisa.
A
rosa,
não
buscava nem ciência nem sombra;
confim
de carne e sonho,
buscava
outra coisa.
A
rosa,
não
buscava a rosa.
Imóvel
lá no céu
buscava
outra coisa.
U2 – Sweetest Thing (1988):
U2 – I still haven´t
found what I´m lookin´ for (1987):
Que super trilha sonora! Amei, Naza! Beijos da Di Dori!
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