sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Franz Marc, O Sonho, 1911

O TEMPO - Cheiro, som e aparência 
Ray Bradbury (1920-2012), grande escritor de ficção científica norteamericano, descobriu em Marte, e relatou em suas "Crônicas Marcianas" (1950), que o Tempo pode ter cheiro, som e aparência:

"Havia um cheiro de Tempo no ar. Ele sorriu e examinou essa fantasia na mente. Era uma ideia. Qual seria o cheiro do Tempo? Cheirava a poeira, a relógios e a pessoas. E se perguntasse qual seria o barulho do Tempo, era como água correndo em uma caverna escura, vozes gritando, sujeira caindo pelas tampas das caixas vazias, e chuva. E, indo ainda mais longe, qual seria a aparência do Tempo? O Tempo era como a neve pingando em silêncio em uma sala escura ou se parecia com um filme silencioso em um teatro antigo, cem bilhões de rostos caindo como aqueles balões de Ano-Novo, caindo e caindo para o nada. Assim eram o cheiro, a aparência e o som do Tempo. E, naquela  noite, Tomás esticou a mão para fora da caminhonete, para sentir o vento, naquela noite quase dava para tocar o Tempo". 

O Tempo e a Beleza
            Mal se passa da página 10 de “No teu deserto” (2009) e  o escritor português Miguel Sousa Tavares (1952) vem com esta reflexão sobre a beleza que não tem idade:
            Fico sempre perturbado com as mulheres demasiado bonitas, nunca sei se são para ser olhadas ou evitadas, contempladas como merecem ou deixadas em paz, porque aquele dom não é culpa que se carregue para devassa alheia. Mas esta mulher parecia uma aparição, uma fada, saída da mata em frente, que era uma mata verdadeiramente encantada. Não estou a brincar, isto foi mesmo assim: eu estava deslumbrado pela beleza dela e ela devia ter uns setenta e muitos anos, talvez mesmo oitenta. Levantei-me no fim do almoço e, quando ia a passar pela mesa dela, não resisti e, em francês – porque a tinha ouvido falar francês -, perguntei-lhe delicadamente se lhe podia dizer uma coisa. Ela fez que sim, com os seus olhos de água, e eu disse-lhe exactamente o que pensava: que ela era, talvez, a mulher mais bonita que eu já tinha visto. Ela sorriu, um sorriso lindo mas triste, como se aquilo lhe causasse mais sofrimento do que alegria, pousou uma mão de dedos esguios sobre a que eu tinha apoiado na mesa, e disse-me:
               
Agora é com você, Ventoso leitor, cate esse livro em alguma livraria ou então invente o que a bela senhora disse...
U2Beautiful Day (2000): 

U2 With or without you (1987): 

ESPAÇO DO LEITOR
Atendendo aos pedidos da leitora Clarice Lispector (1920-1977), que não perde uma atualização sequer do CoV, dois poemas de Federico García Lorca (1898-1936):

Casida II
DO PRANTO
Federico García Lorca (do livro “Divã do Tamarit”, 1936)
Fechei a minha sacada
porque não quero ouvir o pranto,
mas por detrás dos muros grises
não se ouve outra coisa que o pranto.

Há pouquíssimos anjos que cantem,
há pouquíssimos cães que ladrem,
mil violinos cabem na palma da minha mão.

Mas o pranto é um cão imenso,
o pranto é um anjo imenso,
o pranto é um violino imenso,
as lágrimas amordaçam o vento,
e não se ouve outra coisa que o pranto.

Casida VII
DA ROSA
Federico García Lorca (do livro "Divã do Tamarit", 1936)
A rosa,
não buscava a aurora:
quase eterna em seu ramo,
buscava outra coisa.

A rosa,
não buscava nem ciência nem sombra;
confim de carne e sonho,
buscava outra coisa.

A rosa,
não buscava a rosa.
Imóvel lá no céu
buscava outra coisa. 

U2 Sweetest Thing (1988):

U2I still haven´t found what I´m lookin´ for (1987): 







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