Lourenço Mutarelli, Quando meu pai se encontrou com
o ET fazia um dia quente, 2011
Promoção prorrogada
até 13/12!!!
ConcursoCoV
“A vida em um parágrafo”
Leitores e leitoras do Vento,
convidamos a todos e todas a soltarem a imaginação e,
filosofando, cada um a sua maneira, resumirem, em um parágrafo, essa coisa
curiosa, por vezes doída, por vezes embriagante, que é a VIDA. Envie o seu parágrafo até o dia 13/12 (aqui pro blog ou pro nosso Feicebuques) e
concorra a um CD demo do CoV. Os melhores textos serão publicados no blog e o
texto predileto da Ventania, ou seja, o mais criativo/poético/filosófico/bacanudo
leva um CD nosso!!!!
Dia de filhotes desamparados
(Albani da Silva – 28/11/2012)
“Hoje foi o dia dos filhotes desamparados”
Pensou Luiz quando pôs a cabeça
no travesseiro.
Três gatinhos mirrados miavam na
esquina
Esguios e sapecas quando grandes
Ainda filhotes
Os gatos evocam a fragilidade do
que é bonito
Ou
será só mais um tipo de esperteza da parte deles?
Miavam languidamente pela mãe desaparecida
Luiz supôs – não estava certo de
nada
Cursava Língua Inglesa – a última
mensalidade até pagou com atraso
Nada sabia da Língua Felina
Embora
houvesse cursos à distância.
E se fora a Mãe dos Gatos quem
derrubara
Da árvore
O ninho
Dos pardais?
Estava ali
No meio da rua
Encolhido sobre si mesmo
O passarinho de penugem
Cinzenta
Olhinhos apavorados
Luiz nunca tinha visto alguém tão
sozinho
No
mundo.
Ainda que seu lar seja um
pardieiro
Ao fim das contas continua sendo
Seu lar
Daí vem o vento
Algum moleque impertinente
A Mãe dos Gatos
E o pobrezinho do pardal
Sem saber voar
Fica
desolado no asfalto quente.
Mas e os homens nas calçadas –
quem os teria derrubado?
Adormecidos sobre papelão
Sujos famintos esfarrapados
Também não sabem voar
Quem escangalhou os seus ninhos?
Eles
próprios – Talvez
Em
definitivo – Talvez.
Não importa a idade
Todo homem
Prostrado
Denota a ausência de uma
Mãe
Ou
De uma
Amada
Ou
De
ambas.
“Hoje foi o dia dos filhotes desamparados”
Pensou Luiz quando pôs a cabeça
no travesseiro
Cabelo molhado do banho.
O repórter trazia estatísticas
atualizadas
Da multidão de crianças
Enjauladas em pardieiros
Prisões sem grades:
O
dia todo sem as mães por perto – estas cuidam dos filhotes e da casa dos
outros em troca de um salário.
Luiz costumava avaliar aquilo
Que de fato lhe importava
Tomando como medida
As coisas, pessoas e situações
Em que pensava
Antes de
Dormir.
“Hoje foi o dia dos filhotes desamparados”
Concluiu – não muito certo de
nada.
Arthur
de Faria e Fernando Pezão (Música de
Bolso) – Saudades da Maloca (2011):
La
Franela – Lo que me mata (2009):
Gal
Costa – Chovendo na Roseira (2012):
Sexta, 29 de março
(mas poderia ser Quinta, 29 de
novembro)
“Cheguei à minha casa despenteado, com a garganta
ardendo e os olhos cheios de terra. Tomei banho, troquei de roupa e me instalei
atrás da janela para beber mate. Senti-me protegido. E também profundamente
egoísta. Via passarem homens, mulheres, velhos, crianças, todos lutando contra o vento,
e agora também contra a chuva. No entanto, não tive vontade de abrir a porta e
chamá-los para que se refugiassem na minha casa e me acompanhassem num mate
quente. E não porque não me tenha ocorrido fazer isso. A ideia me passou pela
cabeça, mas me senti profundamente ridículo e comecei a imaginar as caras de
desconcerto que as pessoas fariam, mesmo no meio do vento e da chuva.
[...] Francamente, não sei se creio
em Deus. Às vezes, imagino que, no caso de existir Deus, esta dúvida não o
desgostaria. E então? Talvez Deus tenha uma face de crupiê e eu seja
apenas um pobre-diabo que joga no vermelho quando dá preto, e vice-versa”. (Mario
Benedetti, A Trégua, 1959).
Erasmo
Carlos – Jogo Sujo (2010):
Arthur
de Faria e Seu Conjunto – Milonga da Moça Gorda
(2006):
Luiz
Melodia – Tristeza (2009):