quinta-feira, 29 de novembro de 2012


Lourenço Mutarelli, Quando meu pai se encontrou com o ET fazia um dia quente, 2011

Promoção prorrogada
até 13/12!!!
ConcursoCoV
A vida em um parágrafo
Leitores e leitoras do Vento,
convidamos a todos e todas a soltarem a imaginação e, filosofando, cada um a sua maneira, resumirem, em um parágrafo, essa coisa curiosa, por vezes doída, por vezes embriagante, que é a VIDA. Envie o seu parágrafo até o dia 13/12 (aqui pro blog ou pro nosso Feicebuques) e concorra a um CD demo do CoV. Os melhores textos serão publicados no blog e o texto predileto da Ventania, ou seja, o mais criativo/poético/filosófico/bacanudo leva um CD nosso!!!!
       
Dia de filhotes desamparados
(Albani da Silva – 28/11/2012)

“Hoje foi o dia dos filhotes desamparados”
Pensou Luiz quando pôs a cabeça no travesseiro.

Três gatinhos mirrados miavam na esquina
Esguios e sapecas quando grandes
Ainda filhotes
Os gatos evocam a fragilidade do que é bonito
            Ou será só mais um tipo de esperteza da parte deles?

Miavam languidamente pela mãe desaparecida
Luiz supôs – não estava certo de nada
Cursava Língua Inglesa – a última mensalidade até pagou com atraso
Nada sabia da Língua Felina
            Embora houvesse cursos à distância.

E se fora a Mãe dos Gatos quem derrubara
Da árvore
O ninho
          Dos pardais?

Estava ali
No meio da rua
Encolhido sobre si mesmo
O passarinho de penugem
Cinzenta
Olhinhos apavorados
Luiz nunca tinha visto alguém tão sozinho
            No mundo.

Ainda que seu lar seja um pardieiro
Ao fim das contas continua sendo
Seu lar
Daí vem o vento
Algum moleque impertinente
A Mãe dos Gatos
E o pobrezinho do pardal
Sem saber voar
            Fica desolado no asfalto quente.

Mas e os homens nas calçadas – quem os teria derrubado?
Adormecidos sobre papelão
Sujos famintos esfarrapados
Também não sabem voar
Quem escangalhou os seus ninhos?
            Eles próprios – Talvez
            Em definitivo – Talvez.

Não importa a idade
Todo homem
Prostrado
Denota a ausência de uma
Mãe
Ou
De uma
Amada
Ou
            De ambas.

“Hoje foi o dia dos filhotes desamparados”
Pensou Luiz quando pôs a cabeça no travesseiro
Cabelo molhado do banho.

O repórter trazia estatísticas atualizadas
Da multidão de crianças
Enjauladas em pardieiros
Prisões sem grades:
            O dia todo sem as mães por perto – estas cuidam dos filhotes e da casa dos outros em troca de um salário.

Luiz costumava avaliar aquilo
Que de fato lhe importava
Tomando como medida
As coisas, pessoas e situações
Em que pensava
Antes de
Dormir.

“Hoje foi o dia dos filhotes desamparados”
Concluiu – não muito certo de nada.

Arthur de Faria e Fernando Pezão (Música de Bolso) Saudades da Maloca (2011):

La FranelaLo que me mata (2009): 


Gal CostaChovendo na Roseira (2012): 

Sexta, 29 de março
(mas poderia ser Quinta, 29 de novembro)
 Cheguei à minha casa despenteado, com a garganta ardendo e os olhos cheios de terra. Tomei banho, troquei de roupa e me instalei atrás da janela para beber mate. Senti-me protegido. E também profundamente egoísta. Via passarem homens, mulheres, velhos, crianças, todos lutando contra o vento, e agora também contra a chuva. No entanto, não tive vontade de abrir a porta e chamá-los para que se refugiassem na minha casa e me acompanhassem num mate quente. E não porque não me tenha ocorrido fazer isso. A ideia me passou pela cabeça, mas me senti profundamente ridículo e comecei a imaginar as caras de desconcerto que as pessoas fariam, mesmo no meio do vento e da chuva.
   [...] Francamente, não sei se creio em Deus. Às vezes, imagino que, no caso de existir Deus, esta dúvida não o desgostaria. E então? Talvez Deus tenha uma face de crupiê e eu seja apenas um pobre-diabo que joga no vermelho quando dá preto, e vice-versa”. (Mario Benedetti, A Trégua, 1959).


Erasmo Carlos Jogo Sujo (2010): 

 Arthur de Faria e Seu ConjuntoMilonga da Moça Gorda (2006): 

Luiz Melodia Tristeza (2009):

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