quinta-feira, 8 de novembro de 2012


Yinka Adeyemi, Música para agradar no almoço, 2000

NEGRITUDE
Mataram Zumbi dos Palmares em 20/11 de 1695, em Alagoas: e foi Domingos Jorge Velho, o Bandeirante - já falado no CoV (ver postagem do dia 04/10). O professor e poeta Oliveira Silveira (1941-2009), aqui de Porto Alegre, foi um dos mentores, na década de 1970, do Dia da Consciência Negra - justamente no 20/11. Conforme seu poema, “Treze de Maio”, abaixo reproduzido, não bastou a Princesa Isabel abolir a escravidão em 1888. A verdadeira abolição é uma luta permanente, pois o negro sem-terra, o preconceito e o racismo, o desconhecimento da cultura negra, as favelas, a mão-de-obra barata estão aí, 124 anos depois da Lei Áurea. O Dia da Consciência Negra é uma conquista. Mas há outros 364 dias do ano para seguirmos buscando a dignidade pessoal e coletiva. (Albani da Silva, 06/11/2012).  

Mulher Negra
Oliveira Silveira (Do livro “Banzo, saudade negra” – 1970)

E tens o peculiar
de – nuinha na noite –
ser ouvida, sentida,
tateada e não vista.

Treze de Maio
Oliveira Silveira (Em 13/05 de 2007)

Treze de maio traição,
liberdade sem asas
e fome sem pão.

Liberdade de asas quebradas
como
                este verso.

Liberdade asa sem corpo:
sufoca no ar,
se afoga no mar.

Treze de maio – já dia 14
o Y da encruzilhada:
seguir
banzar
voltar?

Treze de maio – já dia 14
a resposta gritante:
pedir
servir
calar.

Os brancos não fizeram mais
que meia obrigação.

O que fomos de adubo
o que fomos de sola
o que fomos de burros cargueiros
o que fomos de resto
o que fomos de pasto
senzala porão e chiqueiro
                nem com pergaminho
                nem pena de ninho
                nem cofre de couro
                nem com lei de ouro.

O que fomos de seiva
                de base
                de Atlas
o que fomos de vida
                e luz
chama negra em treva branca

                quem sabe só com isto:
que o que temos nós lutamos
para sobreviver
e também somos esta pátria,
em nós ela está plantada,
nela crispamos raízes
de enxerto mas sentimos
e mutuamente arraigamos.

                Quem sabe só com isto:
que ela é nossa também, sem favor,
e sem pedir respiramos seu ar
                a largos narizes livres
bebemos à vontade de suas fontes
                a grossas beiçadas fartas
tapamos-destapamos horizontes
                com a persiana graúda das pálpebras
escutamos seu baita coração
                com nosso ouvido musical
e com nossa mão gigante
batucamos no seu mapa.

                Quem sabe só com isto:
que esta bandeira deveria ser
acobreado-indígena e também
brancolusa e também
pretinegra, na essência afro-diáspora,
etnicor ou de todas as cores
como a alma do Brasil.

                Quem sabe nem com isto
e então vamos rasgar
a máscara do treze
para arrancar a dívida real
com nossas próprias mãos.


Fela Kuti and the Africa ´70Upside Down (1976)


Jimi HendrixHey, Joe (1967): 

Particípio presente
Oliveira Silveira  (Do livro “Anotações à margem” - 1994)

Cada um se faz declarante
conforme seja querente.
Por isso te estou dizente:
Eu sou muito te gostante.


Batuque
Oliveira Silveira (Do livro “Roteiro dos Tantãs” - 1981)
           
            Batuque
                                tuque
                               tuque
                todo o muque
                no tambor.

Puxaram o corpo cá pra longe
mas a alma espichou
e as raízes crisparam-se lá
e o caule é este tambor
e a seiva, este som de cratera
que a gente vai fundo buscar.

                Batuque
                                tuque
                               tuque
                todo o muque
                no tambor.

Esses negros loucos batendo
já com a cor de Exu-Bará nos dedos,
couro contra couro,
mas couro de inhã é mais forte,
lá vai seu ronco de trovoada
e a terra vai rachar em fendas
- toque de Xangô.

                 Batuque
                                tuque
                               tuque
                todo o muque
                no tambor.

AmplexosQuando te encontrei (2012): 

Bixiga 70Grito de Paz (2010): 

Vida e Arte
Oliveira Silveira(Do livro “Anotações à margem” - 1994)

Assim como vai a vida
vai a arte.
Como vai a vida?
A vida vai
indo.

Ser e não ser
Oliveira Silveira -1988

O racismo que existe,
o racismo que não existe.
O sim que é não,
o não que é sim.
É assim o Brasil
Ou não?

Fela Kuti and the Africa ´70Water no get enemy (1975): 


Jimi HendrixThe wind cries Mary (1968): 


Jimi HendrixPurple Haze (1967): 





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