Yinka Adeyemi,
Música para agradar no almoço, 2000
NEGRITUDE
Mataram
Zumbi dos
Palmares em 20/11 de 1695, em Alagoas: e foi Domingos Jorge Velho, o Bandeirante
- já falado no CoV (ver postagem do dia 04/10). O professor
e poeta Oliveira
Silveira (1941-2009), aqui de Porto Alegre, foi um dos mentores, na década de 1970, do Dia da
Consciência Negra - justamente no 20/11. Conforme seu poema, “Treze
de Maio”, abaixo reproduzido, não bastou a Princesa Isabel abolir a
escravidão em 1888. A verdadeira abolição é uma luta permanente, pois o negro
sem-terra, o preconceito e o racismo, o desconhecimento da cultura negra, as favelas, a mão-de-obra barata estão
aí, 124 anos depois da Lei Áurea. O Dia da Consciência Negra é uma
conquista. Mas há outros 364 dias do ano para seguirmos buscando a dignidade
pessoal e coletiva. (Albani da Silva, 06/11/2012).
Mulher
Negra
Oliveira
Silveira (Do livro “Banzo, saudade negra” –
1970)
E tens o peculiar
de –
nuinha na noite –
ser
ouvida, sentida,
tateada
e não vista.
Treze de Maio
Oliveira
Silveira (Em 13/05 de 2007)
Treze de maio traição,
liberdade sem asas
e fome sem pão.
Liberdade de asas quebradas
como
este
verso.
Liberdade asa sem corpo:
sufoca no ar,
se afoga no mar.
Treze de maio – já dia 14
o Y da encruzilhada:
seguir
banzar
voltar?
Treze de maio – já dia 14
a resposta gritante:
pedir
servir
calar.
Os brancos não fizeram mais
que meia obrigação.
O que fomos de adubo
o que fomos de sola
o que fomos de burros cargueiros
o que fomos de resto
o que fomos de pasto
senzala porão e chiqueiro
nem
com pergaminho
nem
pena de ninho
nem
cofre de couro
nem
com lei de ouro.
O que fomos de seiva
de
base
de
Atlas
o que fomos de vida
e
luz
chama negra em treva branca
quem
sabe só com isto:
que o que temos nós lutamos
para sobreviver
e também somos esta pátria,
em nós ela está plantada,
nela crispamos raízes
de enxerto mas sentimos
e mutuamente arraigamos.
Quem
sabe só com isto:
que ela é nossa também, sem favor,
e sem pedir respiramos seu ar
a
largos narizes livres
bebemos à vontade de suas fontes
a
grossas beiçadas fartas
tapamos-destapamos horizontes
com
a persiana graúda das pálpebras
escutamos seu baita coração
com
nosso ouvido musical
e com nossa mão gigante
batucamos no seu mapa.
Quem
sabe só com isto:
que esta bandeira deveria ser
acobreado-indígena e também
brancolusa e também
pretinegra, na essência afro-diáspora,
etnicor ou de todas as cores
como a alma do Brasil.
Quem
sabe nem com isto
e então vamos rasgar
a máscara do treze
para arrancar a dívida real
com nossas próprias mãos.
Fela Kuti and the Africa ´70 – Upside
Down (1976):
Jimi Hendrix – Hey,
Joe (1967):
Particípio
presente
Oliveira
Silveira (Do livro “Anotações à margem” - 1994)
Cada um se
faz declarante
conforme
seja querente.
Por isso te
estou dizente:
Eu sou muito
te gostante.
Batuque
Oliveira
Silveira (Do livro “Roteiro dos Tantãs” -
1981)
Batuque
tuque
tuque
todo
o muque
no
tambor.
Puxaram o corpo cá pra longe
mas a alma espichou
e as raízes crisparam-se lá
e o caule é este tambor
e a seiva, este som de cratera
que a gente vai fundo buscar.
Batuque
tuque
tuque
todo
o muque
no
tambor.
Esses negros loucos batendo
já com a cor de Exu-Bará nos dedos,
couro contra couro,
mas couro de inhã é mais forte,
lá vai seu ronco de trovoada
e a terra vai rachar em fendas
- toque de Xangô.
Batuque
tuque
tuque
todo
o muque
no
tambor.
Amplexos
– Quando te
encontrei (2012):
Bixiga
70 – Grito
de Paz (2010):
Vida e Arte
Oliveira
Silveira – (Do livro “Anotações
à margem” - 1994)
Assim como vai a
vida
vai a arte.
Como vai a vida?
A vida vai
indo.
Ser e não ser
Oliveira
Silveira -1988
O
racismo que existe,
o
racismo que não existe.
O
sim que é não,
o
não que é sim.
É
assim o Brasil
Ou
não?
Fela Kuti and the Africa ´70 – Water
no get enemy (1975):
Jimi Hendrix – The
wind cries Mary (1968):
Jimi Hendrix – Purple
Haze (1967):
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