quarta-feira, 23 de abril de 2014

Cadê Ogum?

Carybé, Ogum, s/d


Sofrimento de um santo guerreiro
(Conto do Inventor do Vento)

Cadê Ogum?
O que se manifestou no soldado romano seguidor de Cristo
Matando o Dragão
Esmagando-lhe a cabeça
Arrancando-lhe as tripas
Cadê esse Ogum Rompe Mato?
Na Lua não está...
Não o vejo mais por lá: tenho uma luneta!
Foi pro mar
Pro mar?
Fazer o quê?
Chorar!
O matador de dragões e outras feras, o empalador de gauleses, o holocausto dos bárbaros, o incansável pregador da Palavra de Jesus?
Este mesmo
Não conseguiu conquistar o coração de Iansã
E agora chora
Solitário
Sentindo a maresia na cara
A tristeza que apunhala a alma
Suas lágrimas são as mais salgadas:
Inundam o Atlântico
Engolindo assim Lisboa
Arrebentando com os diques do Mississipi
Transborda o Guaíba de pranto divino!

//Toda dor de amor dura séculos
Senão for assim não é por amor que se sofre

Para os deuses, todo infortúnio, todo benefício
Tende a ser imorrível!

Abençoados sejamos nós, os mortais
Pois nossas mesquinharias não duram muito mais que 70 anos//

(...)
Iansã se despiu
Deitando-se
Na cama de Xangô
Por todo reino de Oyó
Ressoaram tambores
Enquanto eguns rolaram de barriga rindo da triste sina do
Santo guerreiro.


 CoVA Deusa dos Orixás: Clássico de Clara Nunes em releitura ao vivo no Sarau do Dia das Mulheres, 08.03.2014, SESC de Gravataí/RS.


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