Grafiteiro Sumério, Ishtar, a estrela da manhã, 3000 a. C
Quando uma
deusa perde seus fiéis, ela deixe de ser imortal. Foi o que aconteceu com Nana,
ou Ishtar, divindade na Antiga Mesopotâmia. Agora, não precisa ser babilônico
ou assírio para meditar mais um pouco, no século XXI, sobre a fertilidade dos
campos, as águas do Tigre e Eufrates, a sensualidade feminina, a maternidade.
Sendo
assim, o poema, em forma de carta, à ex-deusa, Nana, será entoado em três
ritmos: o primeiro deles, nesta semana calorenta no Paralelo 30, será o blues – grito primordial, lamento dos
negros escravizados de cabo a rabo na América moderna.
Nana
(C. A.
Albani da Silva, o Inventor do Vento)
Nana, veja quantos livros na estante
e você não leu
Quantos dos seus amantes você já
esqueceu?
Nana, se ao menos eu tivesse um bom
conselho...
Nana, quantos dias eu sequer pude
olhar na tua cara
Mas quantas vezes mais,
desesperadamente, precisei do teu sorriso?
Nana, se ao menos eu tivesse uma
explicação...
Nana, fique com suas mentiras que eu
fico com as minhas
Eu sei que você sabe que nossas vidas
não são tão nossas assim
Nana, se ao menos eu sentisse
saudade...
Nana, saiba que ainda te levo no
peito
Para todo soldado cicatrizes são
medalhas
Nana, se ao menos eu tivesse um bom
motivo...
Nana, se um dia eu voltar a me
enxergar nos teus olhos
Espero enfim reencontrar tudo aquilo
que perdi
Nana, todo mundo leva um pouco dos
outros consigo...
Nana, em quantas canções já ouvi o
teu nome?
Mas nenhuma delas foi feita pra ti
Nana, se ao menos eu soubesse compor...
Nana, sei que o que todos querem é
ser felizes
Mas não será este mundo pequeno para
tantas felicidades diferentes?
Nana, se ao menos eu me calasse...
(Gravada no Carnaval de
2011, no Laboratório de Sons do Vento, com a participação da Amazona do Vento:
Aline Albani).