Albrecht
Dürer, A Lebre, 1502
Hora nos borramos todos com
o sumiço da poliça que não recebe seus salários de merda pra nos encher de
porrada.
Adispois nos comovemos todos
com os heróis atrás da medalha de ouro nos Jogos Ornitolímpicos de Bruzundanga.
...
Ah! Só me deixem aqui
sozinho com meus poemas:
CANTIGA
DO CAMINHO E O PASSAGEIRO
Luiz de Miranda – Livro do
Passageiro (1986 a 1992)
Passageiro:
Todo o caminho é fio de
estrada,
onde o exercício da lonjura
aprende do tempo a armadura
armam-se num só amor e
amar.
Caminho:
Aqui dorme teu denso
destino,
lições de pedra, pó e
distância,
pátrias antigas e ruas da
infância,
vozes que andam sempre
sozinhas.
Passageiro:
Todo meu ser é pólen e
arminho,
onde planto o dever
interno,
desespero de noite e
inverno,
internos prazeres de só
viver.
Caminho:
Aqui mora tua doida
travessia,
nuvens tontas de outono,
tuas irmãs febris de
abandono,
o que vive antes e depois
do andar.
PELOS
CAMINHOS, CAMINHO
Luiz de Miranda – Livro do
Passageiro (1986 a 1992)
Pelos caminhos, caminho.
Só sei do pó nas narinas,
dentro dos quartos do corpo,
onde renascemos em nós.
Um pedaço de mim vai morto,
numa balsa de lenha do rio
Uruguai.
Outras partes se dividem em
dor,
perto do amor, ah, perto do
amor,
e não chega com a estrela
tão pálida e louca, a
manhã,
necessária ternura de lã.
Sob o céu roxo da paixão,
somos aquém dos caminhos
e nos perdemos nos desvãos,
rasos e públicos da
solidão.
ALUMIA-SE
Luiz de Miranda – Livro do
Passageiro (1986 a 1992)
Alumia-se o longe
com a lanterna dos
caminhos.
Nada retorna,
tudo se esvai,
no linho da manhã.
O
HOMEM TRABALHA O SEU DESTINO
Luiz de Miranda – Livro do
Passageiro (1986 a 1992)
O homem trabalha o seu
destino
no sublime da alma.
Fica, depois, sua marca:
um filho, uma palavra,
um quadro na parede.
Difícil é sabermos do
destino.
Que punhal azul sopra nos
ventos?
Que pandorga sobrevoa nossa
casa?
Os amigos mortos espiam por
nós
e se inscrevem na
eternidade da morte.
O
MUNDO É PEQUENO
Luiz de Miranda – Livro do
Passageiro (1986 a 1992)
O mundo é pequeno,
não vai além de nossa casa.
A estrada e o aramado
vizinham mas não se amam.
O silêncio morre
neste tapete de ausências
onde procuro o sono e a
manhã.
O vinho é a esperança
onde escrevo e permaneço.
O
PERDIDO E O GANHO
Luiz de Miranda – Livro do
Passageiro (1986 a 1992)
Há em mim a luz,
estrela e estrada,
o perdido e o ganho,
a lã do rebanho.
Inezita Barroso
– Soca Pilão
(1954):
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