sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Poemas de Luiz de Miranda na Bruzundanga

Albrecht Dürer, A Lebre, 1502

Hora nos borramos todos com o sumiço da poliça que não recebe seus salários de merda pra nos encher de porrada.
Adispois nos comovemos todos com os heróis atrás da medalha de ouro nos Jogos Ornitolímpicos de Bruzundanga.
 ...

Ah! Só me deixem aqui sozinho com meus poemas:

CANTIGA DO CAMINHO E O PASSAGEIRO
Luiz de Miranda – Livro do Passageiro (1986 a 1992)

Passageiro:
Todo o caminho é fio de estrada,
onde o exercício da lonjura
aprende do tempo a armadura
armam-se num só amor e amar.

Caminho:
Aqui dorme teu denso destino,
lições de pedra, pó e distância,
pátrias antigas e ruas da infância,
vozes que andam sempre sozinhas.

Passageiro:
Todo meu ser é pólen e arminho,
onde planto o dever interno,
desespero de noite e inverno,
internos prazeres de só viver.

Caminho:
Aqui mora tua doida travessia,
nuvens  tontas de outono,
tuas irmãs febris de abandono,
o que vive antes e depois do andar.

PELOS CAMINHOS, CAMINHO
Luiz de Miranda – Livro do Passageiro (1986 a 1992)

Pelos caminhos, caminho.
Só sei do pó nas narinas,
dentro dos quartos do corpo,
onde renascemos em nós.
Um pedaço de mim vai morto,
numa balsa de lenha do rio Uruguai.
Outras partes se dividem em dor,
perto do amor, ah, perto do amor,
e não chega com a estrela
tão pálida e louca, a manhã,
necessária ternura de lã.

Sob o céu roxo da paixão,
somos aquém dos caminhos
e nos perdemos nos desvãos,
rasos e públicos da solidão.

ALUMIA-SE
Luiz de Miranda – Livro do Passageiro (1986 a 1992)

Alumia-se o longe
com a lanterna dos caminhos.
Nada retorna,
tudo se esvai,
no linho da manhã.

O HOMEM TRABALHA O SEU DESTINO
Luiz de Miranda – Livro do Passageiro (1986 a 1992)

O homem trabalha o seu destino
no sublime da alma.
Fica, depois, sua marca:
um filho, uma palavra,
um quadro na parede.
Difícil é sabermos do destino.
Que punhal azul sopra nos ventos?
Que pandorga sobrevoa nossa casa?
Os amigos mortos espiam por nós
e se inscrevem na eternidade da morte.

O MUNDO É PEQUENO
Luiz de Miranda – Livro do Passageiro (1986 a 1992)

O mundo é pequeno,
não vai além de nossa casa.
A estrada e o aramado
vizinham mas não se amam.
O silêncio morre
neste tapete de ausências
onde procuro o sono e a manhã.
O vinho é a esperança
onde escrevo e permaneço.

O PERDIDO E O GANHO
Luiz de Miranda – Livro do Passageiro (1986 a 1992)

Há em mim a luz,
estrela e estrada,
o perdido e o ganho,
a lã do rebanho.



 Inezita BarrosoSoca Pilão (1954):

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