sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

80 anos escavoucando as Raízes do Brasil


     Clássico de nascência, o livro “Raízes do Brasilde 1936, escrito pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda, futricou lá no fundo da matéria d´alma brazuca. Entre outras coisas achou uma certa cordialidade da nossa gente que não tem a ver com sermos gentis e alegres o tempo inteiro, mas sim passionais e emotivos em se tratando da vida diária.
     Um desses livros maravilhosos a fazer a cabeça dos brasileiros dispostos a superar a casa-grande e finalmente, quem sabe, um dia, abolir todas as escravidões. Segue a última página da obra:
     “Se no terreno político e social os princípios do liberalismo têm sido uma inútil e onerosa superfetação, não será pela experiência de outras elaborações engenhosas que nos encontraremos um dia com a nossa realidade. Poderemos ensaiar a organização de nossa desordem segundo esquemas sábios e de virtude provada, mas há de restar um mundo de essências mais íntimas que, esse, permanecerá sempre inato, irredutível e desdenhoso das invenções humanas. Querer ignorar esse mundo será renunciar ao nosso próprio ritmo espontâneo, à lei do fluxo e do refluxo, por um compasso mecânico e uma harmonia falsa. Já temos visto que o Estado, criatura espiritual, opõe-se à ordem natural e a transcende. Mas também é verdade que essa oposição deve resolver-se em um contraponto para que o quadro social seja coerente consigo. Há uma única economia possível e superior aos nossos cálculos para compor um todo perfeito de partes tão antagônicas. O espírito não é força normativa, salvo onde pode servir à vida social e onde lhe corresponde. As formas superiores da sociedade devem ser como um contorno congênito a ela e dela inseparável: emergem continuamente das suas necessidades específicas e jamais das escolhas caprichosas. Há, porém, um demônio pérfido e pretensioso, que se ocupa em obscurecer aos nossos olhos estas verdades singelas. Inspirados por ele, os homens se veem diversos do que são e criam novas preferências e repugnâncias. É raro que sejam das boas”.
(Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda, 27ª edição, editora Cia das Letras, 2014)

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