sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

80x Tom Zé & Rolando Boldrin

 
     Em 2016, dois cantadores do Brasil profundo completaram 80 anos de vida: Tom Zé, o tropicalista baiano que nos ensina a fugir do óbvio na música; Rolando Boldrin, o cantador e contador de causo, autêntico Sr. Brasil!

Nesta canção do álbum “Estudando o Samba” (1976) Tom Zé explica a clareza da sua confusão:

    Tô bem de baixo pra poder subir
    Tô bem de cima pra poder cair
    Tô dividindo pra poder sobrar
    Desperdiçando pra poder faltar
    Devagarinho pra poder caber
    Bem de leve pra não perdoar
    Tô estudando pra saber ignorar
    Eu tô aqui comendo para vomitar

    Eu tô te explicando
    Pra te confundir
    Eu tô te confundindo
    Pra te esclarecer
    Tô iluminado
    Prá poder cegar
    Tô ficando cego
    Pra poder guiar

    Suavemente pra poder rasgar
    Olho fechado pra te ver melhor
    Com alegria pra poder chorar
    Desesperado pra ter paciência
    Carinhoso pra poder ferir
    Lentamente pra não atrasar
    Atrás da vida pra poder morrer
    Eu tô me despedindo pra poder voltar

   

     Já nesta canção de 1981, Rolando Boldrin sugere meios de resistir à Gotham City Tropical, quando ela, vira & mexe, teima em se tornar a capital do Brasil. Segue a versão original e uma releitura do Inventor do Vento.


VIDE VIDA MARVADA
Corre um boato aqui donde eu moro
Que as mágoa que eu choro são mal ponteadas
Que no capim mascado do meu boi 
A baba sempre foi santa e purificada
Diz que eu rumino desde menininho
Fraco e mirradinho a ração da estrada
Vou mastigando o mundo e ruminando
E assim vou tocando essa vida marvada

É que a viola fala alto no meu peito humano
E toda moda é um remédio pros meus desenganos
É que a viola fala alto no meu peito, mano
E toda mágoa é um mistério fora desse plano
Pra todo aquele que só fala que eu não sei viver
Chega lá em casa pruma visitinha
Que no verso e no reverso da vida inteirinha
Há de encontrar-me no cateretê

Tem um ditado dito como certo
Que o cavalo esperto não espanta a boiada
E quem refuga o mundo resmungando
Passará berrando essa vida marvada
Cumpadi meu que inveieceu cantando
Diz que ruminando dá pra ser feliz
Por isso eu vagueio ponteando
E assim procurando minha flor-de-liz



     Por fim, parceria de Tom e Rolando pra cantar o apocalipse na “Moda do Fim do Mundo” (c. de 1985):

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