AUDIÇÕES
de FÉRIAS 6
GIL SCOTT-HERON
Gil Scott-Heron é um dos precursores do movimento HIP HOP ao lado de
outros artistas dos bairros Harlem e Bronx em Nova York: Afrika
Bambaata, o DJ Kool Herc, o coletivo LAST POETS, por exemplo. Gil,
portanto, é uma das primeiras e melhores vozes do RAP, música feita
de ritmo e de poesia.
Ele
nasceu em 1949, na cidade ventosa de Chicago, filho de uma professora
e de um jamaicano jogador de futebol. Viveu a infância com a avó
materna, Lily, que lhe ensinou a tocar o piano. Só conheceu o pai
aos 26 anos, como cantou em algumas de suas canções, quando então
já estava na ilha de Manhattan, cidade de Nova York. Sendo assim,
antes do pai, ele havia conhecido o movimento negro com o poeta AMIRI
BARAKA (1934-2014) e o escritor LANGSTON HUGHES (1902-1967)
Trancou
a sua faculdade para se dedicar a um projeto ousado: o livro ABUTRE,
lançado em 1970, no mesmo ano em que lançou outro livro, de poesia,
e o seu primeiro álbum de canções, ambas as obras chamadas
COCHICHOS na AVENIDA LENOX com a RUA 125. Ao longo dos anos 1970
seriam lançados vários outros álbuns, incluindo uma grande
parceria com o músico BRIAN JACKSON e a BANDA da MEIA-NOITE.
Gil
é um dos poetas mais criativos ao enfrentar a um dos piores legados
do capitalismo e do mundo moderno, mundo este criado por essa mesma
civilização capitalista (industrial, urbana, burguesa): falo da
ESCRAVIDÃO AFRICANA, uma das tantas maldições legadas pela
modernidade. E o livro ABUTRE, com seu enredo de romance policial,
trata de três crenças que se confrontam e, em vários momentos,
embaralham-se em todas as grandes cidades das três Américas (Do
Norte, Do Centro e Do Sul), lugares manchados pelo racismo, pela
desigualdade social, pela violência e pela pobreza, elementos
fundamentais para o lucro burguês sobre o trabalho (escravo)
moderno.
Nas
quebradas das periferias urbanas encontramos uma corrente pacifista,
que propõe resolver os conflitos de classe e do etnocentrismo
(preconceito racial e outros) através da comoção dos sentimentos
das pessoas, um autêntico apelo amoroso de igualdade e fé, conforme
o pastor batista MARTHIN LUTHER KING JR. (1929-1968) foi morto por
defender e, talvez, o valentão SPADE tenha, sem querer, se
aproximado, no livro de Gil, ao se apaixonar pela primeira vez.
Encontramos
também, especialmente nos anos 1960 e 1970, época do livro de Gil,
a corrente revolucionária, que não teme recorrer, não só à força
das ideias e dos sentimentos de igualdade, mas também à força das
armas, contra os gorilas fascistas, armados até os dentes com os
seus preconceitos, privilégios e propriedades sem fim, conforme
encarnou o rebelde MALCOLM X (1925-1965): o que inspirou o grupo
PANTERAS NEGRAS, entre outros, como o URNA (União Revolucionária
dos Negros Americanos), invenção de Gill para seu livro, dispostos
a encarar os policiais e as forças de segurança racistas e
autoritárias.
Por
fim, e provavelmente a corrente predominante, é a corrente gangsta,
ou seja, aqui no Brasil, a corrente da ostentação, muitas vezes
mergulhada na vida bandida mesmo, consciente ou inconscientemente
disso, abandonando qualquer resistência cultural e política negra
ou popular, simplesmente aderindo, de forma marginal, ao capitalismo
dominante – suas crenças e símbolos, entrando de cabeça na
guerra urbana com sua competição puramente comercial, que é o
tráfico de armas e drogas, sem nenhum freio humanista ou
trabalhista, no melhor espírito de cartel, que sempre prevalece no
capitalismo, disfarçado de individualismo, seja entre as gangues,
seja entre grandes corporações empresariais com marcas famosas. É
o espírito moderno de império e colonização em nome do dinheiro:
cagando e andando para as consciências, aliás entupindo as
consciências mais frágeis com drogas-mercadorias que servem como
mais um tipo de alienação (burrice) das massas, entenda-se, do
povão.
Logo
no seu primeiro álbum, Gil gravou um de seus maiores clássicos: THE
REVOLUTION WILL NOT BE TELEVISED - A REVOLUÇÃO NÃO VAI PASSAR NA
TV. No que pode se entender o seguinte: nunca as grandes empresas de
comunicação (propriedades de poucas famílias) vão colaborar,
através dos seus estúdios de TV, estações de rádio, portais de
internet e redes de jornais, com as lutas contra a supremacia do
dinheiro e dos burgueses. Para eles, será muito mais conveniente
para os seus negócios midiáticos, tolerar, senão mesmo, apoiar, os
projetos de governos brutamontes de topetudos bestas como Donald
Trump ou de playboys ignorantes, com conhecimento de, no máximo, 5ª
série, como o atual presidente do Brasil. O lance é, uma
alternativa a esses panacas, é a gente manter a consciência em
movimento e em expansão, sem esse papo de cabeça-dura ou de mente
fechada, independente da tua classe, cor, sexo e religião.
Gil,
além de vários álbuns de música e livros de poesia, fez também
outro romance (A Fábrica Negra) e uma autobiografia, publicada
depois que faleceu. Ele cantou no seu último disco lançado em vida,
“SOU NOVO POR AQUI”, uma frase, dentre muitas, linda pra caramba:
“Não importa o quão errado você já esteve, sempre dá para
mudar”.
Já
no seu comentário número um (Comment #1) ouve-se: “O que o
dicionário fala sobre a alma? Tudo o que eu quero é uma casa limpa,
uma companheira, crianças por perto e um pouco de comida para
jantarmos todas as noites”.
A
grande sacada desse artista é desejar, no seu canto negro e
universal, que isso seja para todos, brancos e negros, todos e todas.
Vuuuush
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