quinta-feira, 1 de agosto de 2019

GIL SCOTT-HERON


AUDIÇÕES de FÉRIAS 6
GIL SCOTT-HERON

Gil Scott-Heron é um dos precursores do movimento HIP HOP ao lado de outros artistas dos bairros Harlem e Bronx em Nova York: Afrika Bambaata, o DJ Kool Herc, o coletivo LAST POETS, por exemplo. Gil, portanto, é uma das primeiras e melhores vozes do RAP, música feita de ritmo e de poesia.

Ele nasceu em 1949, na cidade ventosa de Chicago, filho de uma professora e de um jamaicano jogador de futebol. Viveu a infância com a avó materna, Lily, que lhe ensinou a tocar o piano. Só conheceu o pai aos 26 anos, como cantou em algumas de suas canções, quando então já estava na ilha de Manhattan, cidade de Nova York. Sendo assim, antes do pai, ele havia conhecido o movimento negro com o poeta AMIRI BARAKA (1934-2014) e o escritor LANGSTON HUGHES (1902-1967)

Trancou a sua faculdade para se dedicar a um projeto ousado: o livro ABUTRE, lançado em 1970, no mesmo ano em que lançou outro livro, de poesia, e o seu primeiro álbum de canções, ambas as obras chamadas COCHICHOS na AVENIDA LENOX com a RUA 125. Ao longo dos anos 1970 seriam lançados vários outros álbuns, incluindo uma grande parceria com o músico BRIAN JACKSON e a BANDA da MEIA-NOITE.

Gil é um dos poetas mais criativos ao enfrentar a um dos piores legados do capitalismo e do mundo moderno, mundo este criado por essa mesma civilização capitalista (industrial, urbana, burguesa): falo da ESCRAVIDÃO AFRICANA, uma das tantas maldições legadas pela modernidade. E o livro ABUTRE, com seu enredo de romance policial, trata de três crenças que se confrontam e, em vários momentos, embaralham-se em todas as grandes cidades das três Américas (Do Norte, Do Centro e Do Sul), lugares manchados pelo racismo, pela desigualdade social, pela violência e pela pobreza, elementos fundamentais para o lucro burguês sobre o trabalho (escravo) moderno.

Nas quebradas das periferias urbanas encontramos uma corrente pacifista, que propõe resolver os conflitos de classe e do etnocentrismo (preconceito racial e outros) através da comoção dos sentimentos das pessoas, um autêntico apelo amoroso de igualdade e fé, conforme o pastor batista MARTHIN LUTHER KING JR. (1929-1968) foi morto por defender e, talvez, o valentão SPADE tenha, sem querer, se aproximado, no livro de Gil, ao se apaixonar pela primeira vez.

Encontramos também, especialmente nos anos 1960 e 1970, época do livro de Gil, a corrente revolucionária, que não teme recorrer, não só à força das ideias e dos sentimentos de igualdade, mas também à força das armas, contra os gorilas fascistas, armados até os dentes com os seus preconceitos, privilégios e propriedades sem fim, conforme encarnou o rebelde MALCOLM X (1925-1965): o que inspirou o grupo PANTERAS NEGRAS, entre outros, como o URNA (União Revolucionária dos Negros Americanos), invenção de Gill para seu livro, dispostos a encarar os policiais e as forças de segurança racistas e autoritárias.

Por fim, e provavelmente a corrente predominante, é a corrente gangsta, ou seja, aqui no Brasil, a corrente da ostentação, muitas vezes mergulhada na vida bandida mesmo, consciente ou inconscientemente disso, abandonando qualquer resistência cultural e política negra ou popular, simplesmente aderindo, de forma marginal, ao capitalismo dominante – suas crenças e símbolos, entrando de cabeça na guerra urbana com sua competição puramente comercial, que é o tráfico de armas e drogas, sem nenhum freio humanista ou trabalhista, no melhor espírito de cartel, que sempre prevalece no capitalismo, disfarçado de individualismo, seja entre as gangues, seja entre grandes corporações empresariais com marcas famosas. É o espírito moderno de império e colonização em nome do dinheiro: cagando e andando para as consciências, aliás entupindo as consciências mais frágeis com drogas-mercadorias que servem como mais um tipo de alienação (burrice) das massas, entenda-se, do povão.

Logo no seu primeiro álbum, Gil gravou um de seus maiores clássicos: THE REVOLUTION WILL NOT BE TELEVISED - A REVOLUÇÃO NÃO VAI PASSAR NA TV. No que pode se entender o seguinte: nunca as grandes empresas de comunicação (propriedades de poucas famílias) vão colaborar, através dos seus estúdios de TV, estações de rádio, portais de internet e redes de jornais, com as lutas contra a supremacia do dinheiro e dos burgueses. Para eles, será muito mais conveniente para os seus negócios midiáticos, tolerar, senão mesmo, apoiar, os projetos de governos brutamontes de topetudos bestas como Donald Trump ou de playboys ignorantes, com conhecimento de, no máximo, 5ª série, como o atual presidente do Brasil. O lance é, uma alternativa a esses panacas, é a gente manter a consciência em movimento e em expansão, sem esse papo de cabeça-dura ou de mente fechada, independente da tua classe, cor, sexo e religião.

Gil, além de vários álbuns de música e livros de poesia, fez também outro romance (A Fábrica Negra) e uma autobiografia, publicada depois que faleceu. Ele cantou no seu último disco lançado em vida, “SOU NOVO POR AQUI”, uma frase, dentre muitas, linda pra caramba: “Não importa o quão errado você já esteve, sempre dá para mudar”.

Já no seu comentário número um (Comment #1) ouve-se: “O que o dicionário fala sobre a alma? Tudo o que eu quero é uma casa limpa, uma companheira, crianças por perto e um pouco de comida para jantarmos todas as noites”.

A grande sacada desse artista é desejar, no seu canto negro e universal, que isso seja para todos, brancos e negros, todos e todas.

Vuuuush




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