Canções, poesia e ficções.
Ventiladores contra o Inferno geral em que estamos metidos.
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
Paul Cézanne, O negro cipião, 1867
Viva o desenho animado
brasileiro!!!
Entre
2009 e 2010, a TV Brasil e o Ministério da Cultura (MinC) lançaram o
programa ANIMATV em que foram
produzidos 17 episódios pilotos de animações inéditas e brasileiras. Para quem está
cansado do padrão Disney/DreamWorks
de animações fica o convite para conhecer, abaixo, estes trabalhos saborosos.
P.S.: No portal do
ANIMATV
há a indicação da faixa-etária do público-alvo de cada animação. Resolvi não apontar
idade nenhuma aqui, pois às vezes é bom lembrar-se do mote romântico que diz “a
boa arte não tem idade”.
P.S 2.: Cada
animação tem apenas 11 minutos de duração.
Piratas x Ninjas x
Robôs x Caubóis(Dir.:
João Penna):A Esponja do Poder leva
a uma grande batalha, estilo fliperama, entre heróis clássicos com um visual
que lembra as animações do Genndy
Tartakovsky (Samurai Jack; O Laboratório de Dexter; As Meninas Super-Poderosas).
Vivi Viravento(Dir.: Alê
Abreu):A
simpática Vivi e a sua procura por Viravento – o lugar onde nascem as ideias.
Estimulada nessa busca por sua avó, a escritora Rosa Rara, acompanham Vivi, pela Amazônia, os personagens Mochilão e Lanterninha. Realmente, Vivi,
é muito bom ouvir
com os olhos...
Scratch(Dir.: Fred Luz):Ed, Led e Stive são três
baratas que vivem no porta-luvas do carro do detetive Larry. Não muito competente, são elas que solucionam os casos investigados
por ele. É o que ocorre neste “A Morte do Sr.
Ming”. Mais baratas assim é o que nos falta para melhorar a
Segurança Pública no Brasil.
Vai Dar Samba(Dir.: Humberto Avelar):Assinamos em baixo o manifesto do Clube Secreto
Vai Dar Samba.
Pausa para a
Música da Semana
Clementina de Jesus – Marinheiro Só(1982):Em homenagem ao Clube
Vai Dar Samba!
A Princesa do Coração Gelado
(Dir.: Antonio Navarro, Deca Furtado, Zu
Escobar):“Como descongelar um coração”? Pergunta-se a Princesa do Coração
Gelado. “Como congelar um coração”?
Pergunta-se o Doutor do Mal.
Wilbor(Dir.:
Clewerson Saremba, Rodrigo Gava):Este é Wilbor. O primeiro Wilbor.
Direto da Pré-História para a imaginação do narrador.
Abílio e Traquitana(Dir.: Henrique Barone, Fernanda Ribeiro):Agora sabemos por que os vaga-lumes piscam; a diferença
entre as lâmpadas incandescentes e as fluorescentes; e a origem do cinema – de certo
modo, uma parceria entre Thomas Edson
e os Irmãos Lumière.
Zica e os Camaleões(Dir.: Ari Nicolosi):
O mundo pelos olhos da adolescente Zica; e de seus amigos imaginários, os Camaleões.
Platz na Cidade(Dir.: Animatório e Paulo Miyada):Entregar
uma pizza em 10 minutos pode ser uma das tarefas mais difíceis do mundo na
Cidade Grande – ainda mais quando se é um trabalhador autônomo como Platz.
Bolota e Chumbrega(Dir.:
Frederico Pinto):Todo cachorro adora arroz de carreteiro!Bolota não é diferente. E junto de Chumbrega e de Vonvon, voando pelos céus num guarda-chuva multicolorido, ele
encontrará uma chácara onde a matilha se empanturra com tal iguaria.
Hiperion(Dir.: Bruno
Vidigal):Agora com Cadu,
o Hiperion, já não mais precisamos de
Ben 10, Mega Man e Peter Parker
para salvar o mundo. Ah! E o vilão Hyrus é
bem estiloso!
Historietas Assombradas para Crianças Malcriadas(Dir.: Victor-Hugo Borges): Essa Vovó é demais! Mete medo, mas diverte.
Ainda mais ao contar a história de “Alphonsinho, o Inventor”, dentre
outras coisas, do primeiro mp3 player
da História. Ah! E ele ainda se apaixonou por uma cigana, ou melhor, por uma
bruxa, que mantinha a juventude sugando a energia dos homens, presos por seu
feitiço em corpos de gato.
Nave Sub-D(Dir.:
Coletivo Manada):Bom demais também. O dia a dia
dos tripulantes de uma nave intergaláctica subdesenvolvida.
Tromba Trem(Dir.: Maurício Maia):Ganjah, o elefante
indiano; Eduarda Tamanduá Bandeira da
Silva; Mestre Urubu e um Trem de Cupins andam atrás de um
dirigível (ou balãozinho, diria a Duda; nave-mãe, diria a Rainha dos Cupins)
que os leve para a Índia ou para Varginha.
Jajá Arara Rara(Dir.: Chico Zullo):Todas
as araras contra o Seu Jailson, contrabandista
de aves silvestres na floresta amazônica. Guardemos as sábias palavras de Salomão, a arara-azul com 3 metros de
altura: “A
individualidade do todo do um é o que possibilita a totalidade do um no todo”.
Carrapatos e Catapultas(Dir.: Almir Correia):Surrealismo animado.
Miúda e o Guarda-Chuva(Dir.:
Amadeu Alban e Jorge Alencar):“Gosto de sentar naquele banco por horas a fio. Olhando de
lá tudo se abre em perspectiva”. Plena de poesia, esta animação
é de uma delicadeza requintada em diálogo franco com a literatura – do Absurdo.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
João Baptista Mottini, Negrinho do
Pastoreio, s/d
Modernos Causos Fantásticos
Em plena Semana Farroupilha,
os estudantes de 8ª série da EMEF Alberto Pasqualini,
Gravataí/RS, foram desafiados a trazer para o mundo contemporâneo alguns dos
personagens do folclore regional. No centenário de publicação da obra “Contos Gauchescos”
de Simões Lopes Neto
(1865-1916) a gurizada invocou Blau Nunes para
contar histórias assim:
Os Três Profetas (ou o Surrealismo da
Literatura Fantástica)
Leandro Silva
Bagolin
– pesquisa oral, argumento e texto
C. A. Albani da
Silva
– edição do poema
Há
duas semanas / Um grupo de Profetas / Vagava / De pago em pago / Rumando / Ao
seu caminho / Sem Rumo.
Eles
resolveram parar / Debaixo de uma árvore / Sem galhos / Sem sombra.
Era
mais ou menos / Meia-Noite / Em meio às trevas / De um dia claro / E um Negro careca /
Penteava sua cabeleira / Loura.
Sentado
num toco / De pedra / Feito de madeira / Um cego / Lia jornal / Com letras de
perna pra cima.
A
vaca assobiava / Enquanto / O passarinho mugia / Falando, mudo:
“Prefiro
morrer a perder a vida”.
“E
os 4 Profetas do Mundo são só 3: Moisés e Elias”.
Amor de Santo (Um conto
do Negrinho do Pastoreio)
Angélica
Andrade Reis
O Negrinho do Pastoreio nunca foi esquecido
pela população de Gravataí. Ele, menino bom – Santo Protetor -, sempre esteve
disposto a ajudar a todos que precisassem encontrar algo. Bastava acender uma
vela e o chamar que ele aparecia, concentrado apenas na procura do que fosse perdido.
O Negrinho nunca falhara.
Certo dia, estava passeando pelo céu
com seus cavalos, como de costume, quando ouviu o choro de uma garota. Não
pensou duas vezes e foi ver o que estava acontecendo. A menina estava sentada
no meio-fio de uma rua vazia. Com a cabeça baixa, escondia seu rosto coberto de
lágrimas. Negrinho se aproximou.
- O que aconteceu? – Perguntou o
Santo, sem jeito. – Posso ajudá-la?
A menina levantou sua cabeça lentamente,
enxugando seu rosto.
- Quem é você? – Ela quis saber.
- Sou o Ne... isto é... Nicolas. –
Mentiu. Não sabia por que, mas mentiu.
- Tudo bem. Se puder me ajudar, fico
grata. É que perdi meu cachorrinho.
Então o Negrinho, experiente em
resgate de animais, começou a ajudá-la. Ficaram um bom tempo juntos procurando
o cão perdido. Tiveram sucesso. A menina, chamada Dora, ficou muito grata pela
ajuda e agradeceu. Mas o Negrinho não entendeu por que ela não tinha pedido
ajuda a ele, do jeito que todos costumavam fazer. Será que ela não conhecia sua
lenda?
Ele não suportou a dúvida e
perguntou a ela. Como tinha previsto, ela não conhecia o Negrinho do Pastoreio.
Mas não quis contar a verdade a Dora, preferia estar com ela como menino, não
como Santo. Despediram-se e Negrinho foi ajudar a outras pessoas.
A partir disso, o menino, sempre que
conseguia um tempo de folga, em meio a tantos milagres, ia se encontrar com a
garota. Logo, criaram uma bela amizade, coisa que Negrinho nunca tinha
experimentado em sua breve vida.
Dias depois, o menino se apavorou
consigo mesmo. Ele falhara pela primeira vez ao ajudar uma pessoa e, depois, de
novo, seguidamente. Negrinho não compreendeu então foi pedir uma explicação
para sua madrinha, Nossa Senhora.
- Minha Senhora, o que está havendo
comigo?
- Pensei que você soubesse,
Negrinho.
O menino não disse nada, não sabia
onde a madrinha queria chegar.
- Negrinho, você não está mais se
concentrando para ajudar aos outros, sua cabeça só tem espaço para a Dora.
- Desculpe, minha Senhora. Mas não
posso evitar.
- Eu entendo, Negrinho. Mas é isso
que você quer? Deixar tudo de lado devido a um sentimento que não te pertence
mais?
O garoto ficou quieto, perdido em
pensamentos. Ele começou a lembrar de cada sorriso que conquistou após um
milagre realizado. Não queria deixar de ajudar aos outros. Essa era a coisa que
mais gostava de fazer, e era seu dever. Não podia parar com aquilo. Então
disse:
- Passei todo esse tempo focado em
fazê-la feliz que acabei esquecendo o meu dever: ajudar a quem precisa! É isso
que vou fazer, minha Senhora, vou voltar para ajudar a quem não consegui, não
posso deixá-los assim, desapontados comigo, desamparados.
- E a Dora? – Perguntou Nossa
Senhora.
- Contarei a verdade a ela e me
afastarei.
- Fico feliz que tenha entendido,
meu afilhado.
Então Negrinho cumpriu com o que
disse e continuou a conquistar muitos sorrisos por dia.
Mitorama – Negrinho do Pastoreio(2011): Versão musical e animada do mito original.
Pausa para as músicas da semana
Maysa– A Noite do Meu Bem(2009):Hoje estas velhas músicas são
para os velhos. Mas há 50 anos eram música Pop. Veio o Rock, então, e deixou mais
alegre até mesmo as desilusões amorosas. (Vídeo da
minissérie global “Quando fala o coração” dirigida pelo filho de Maysa – Jayme Monjardim).
Edith Piaf – Rien
de Rien(s/d):
Maysa
– Meu mundo caiu(1958):
Edith Piaf – Ne
me quitte pas(s/d):
Retomando, em grande estilo, os causos modernos:
Homem da Corda
Mariana
Pereira e Nátali Sarmento
-
É verdade, sim. Vi com meus próprios olhos. Ele estava lá, estou certo disso!
-
Se tens tanta certeza, explique-me!
-
Tudo bem. Vou contar-te...
No meio do zum zum zum de Porto Alegre,
gente amontoada por todos os lados, avistei aquele imenso índio perambulando
sem rumo. Olhar perplexo, parecia um tanto confuso. Foi então que girou seu
corpo em 180 graus, mirou-me profundamente nos olhos, começando a andar em
minha direção a passos largos e firmes, até chegar tão perto que pude sentir
sua respiração. Encarei-o, nervoso, e decidi questioná-lo:
-
Onde comprastes este pala velho?
***
-
Não! Duvido que tu tenhas dito isto a Sepé! Ele arrancaria teus olhos.
-
Te juro que falei, Joaquim.
***
Por um momento, realmente pensei que
Sepé Tiaraju arrancar-me-ia os olhos. Mas não, ele apenas balbuciou palavras
sem nexo:
- Onde se encontra o Homem da Corda?
Fiquei sem ação. ‘’Homem da Corda’’?
Barbaridade! Não acreditava naquilo. Será que ele estava se referindo ao André?
Gurizinho magricela que brincava com barbantes na porta do bar, em dias de
Gre-Nal?
-
Acho que sei a quem tu te referes. Venha comigo, vou levar-te até o boteco do Piléu.
O índio seguiu-me, sério e calado.
Conforme andávamos, ele analisava a arquitetura da cidade; muitas vezes
murmurando algumas poucas palavras, das quais não consegui compreender e até
hoje não sei se eram elogios ou críticas. Enfim, chegamos. Chamei o guri dos
barbantes, que veio voando às tranças, mas parou abruptamente com os olhos
arregalados em direção ao índio, dizendo:
-
Mas, cara! É você mesmo, Nightwolf? Do Mortal Kombat? Depois do Sub-Zero, você
é meu favorito.
O
índio, indiferente ao comentário, dirigiu-se à criatura:
-
Sou Sepé Tiaraju, guerreiro de São Miguel. Onde está o Homem da Corda?
***
-
Espere! Quem é esse maldito ‘’Homem da Corda’’?
-
Tu não perdes por esperar, compadre Joaquim.
***
Será que me enganei? Trouxe-o ao lugar
errado? Resolvi me meter:
-
Não era este “homem”que tu estavas a
procurar, índio? - apontei para o guri,
que ainda admirava com os olhos vidrados Sepé.
-
Isto não é nenhum homem! – disse Sepé. – É um curumim! Preciso do Homem da Corda,
o Homem Cinza!
Eu já estava tonto. Cada vez
confundia-me mais. Que índio paspalho! Só sabia repetir as mesmas informações.
Minha boa vontade já estava no limite.
Foi
aí que apareceu uma prenda formosa, cheia de si, tomando conta da situação. Com
um sorrisinho maroto, sentou-se à mesa e, após ouvir boa parte da história,
resolveu interferir:
-
Não é possível que vocês não consigam ver. Está bem de baixo do bigode de
vocês! Escutem: Porto Alegre... Homem da Corda... Cinza... Procurado por um índio! O que passa nas vossas cabeças?
-
Que este índio é louco e deve voltar para o videogame! – interpelou o
magricela.
-
Ah, por favor - disse a prenda, levantando-se. - Será que não é óbvio? Ele está
atrás d’O Laçador!
***
-
Mas por que, diabos, Sepé estaria atrás do Laçador? O Laçador! Uma estátua!
-
Acalma-te, a história ainda não terminou.
***
Resolvi
perguntar:
-
Está procurando O Laçador? Um monumento de pedra, frio e sem vida?
-
Acho que tu não conheces bem o Laçador – disse o índio. - Leve-me até onde ele
está e estas tuas perguntas serão respondidas.
Fomos todos até lá: o índio, a prenda,
o magricela e eu, ainda atordoado. Ao chegarmos, o índio dirigiu-se aos pés da
estátua, falando novamente palavras sem muito nexo. Congelei, pasmo, ao ver a
cena que se desenrolou diante de mim:
-
Nossa! Já estava ficando cansado. Havia tempos que não recebia uma visita. O
que queres de mim, amigo?
Esfreguei
meus olhos e tentei entender. Só me restava prestar atenção na conversa entre o
índio e a estátua.
-
Nunca iria imaginar-te assim, plantado. Procurei-te em todos os campos, baias,
em todo lugar!
-
Mas vamos logo ao assunto, tchê! Por que estás aqui, a procurar-me?
-
Lembra-te das ruínas da Catedral de São Miguel?
-
É claro, triste história... Mas, e eu com isso?
-
Nós a reformamos. Está tudo como novo! Vim convidar-te para a nossa
inauguração, queres ir?
-
Com certeza. Adoro festas!
Ficamos todos estarrecidos, observando
os dois caminhando lado a lado, conversando e dando boas gargalhadas em direção
ao horizonte...
***
-
‘’Inauguração da Catedral’’? Essa foi boa...
-
A pura verdade. Cheguei até a comparecer.
-
Juras? Como foi?
-
Ah! Daí é outro causo, meu amigo Joaquim...
Trailer HQ do Sepé Tiaraju(2010):Clica aqui e baixa a História em Quadrinhos sobre Sepé Tiaraju
editada em 2010 pelo Câmara dos Deputados federais. Feito um bom mito, este trailer tem um tom épico. Afinal, foi Sepé quem disse: "Esta terra tem dono"...
Outro interlúdio musical
Maysa – O Barquinho(1961):
Maysa– Eu sei que vou
te amar(2009):
Maria
Bethânia – Sensível demais(2005): Isto
é apenas um ensaio da Maria e sua banda. Eita!
Encerrando a postagem
com um poema inédito
Quando o Vento sorri
C. A. Albani da Silva
Lá vem o
Vento!
O Vento
Que
arrasta
Descabela
Destelha
E destampa
Lá vem o
Vento!
Nordeste – Quente e opressor
Sul –
Melancólico e gelado
De
Finados – Soprando na cara o pó que viraremos
Já vem o
Vento!
Loas às
Tempestades!
Glória
aos Furacões!
Lembranças
a Hermes
Mercúrio –
Exu – E a toda a Ventania
Só não
venham
Agora
As brisas
mansas
Marolinhas
E outras
Calmarias
Já está
aqui o Vento!
E que
mais nada fique
De pé
então
Nem as
árvores, nem os postes, nem os deuses,
Nem o
Amor
Nem os
mastros das bandeiras
Nem as
perucas das velhas
Nem as ideias
de jerico
Sopra o
Vento!
Voam
pelos ares
Cadeiras
O lixo
Dança a
Sacola
Plástica
A bola
inalcançável
Já não
faz mais a criança feliz
Nem o
boné
Aperta os
miolos
De mais
uma Cabeça de Vento
Ri o
Vento
Pois
Não
Há
Nada Mais
Rebelde
Do
Que Ele.
(C. A. Albani da Silva, 19.09.2012)
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Gustave Courbet, Os Pedreiros, 1850
A Revolução Sexual em Marte
Antes de partir desta para uma
melhor o escritor norteamericano Ray Bradbury(1920-2012) me pediu, por e-mail, que indicasse um livro referente à Revolução Sexual dos anos 1960 para um amigo
seu marciano. O simpático alienígena passou aqui em casa, e após algumas taças
de café e chá, cheguei à conclusão de que o camarada extraterreno precisava ler
o mais recente título do inglês Martin Amis (1949) – “A Viúva Grávida”
(2010). O marciano explicou-me, em português correto, e sem emitir nenhum juízo
de valor, que as marcianas têm tomado cada vez mais conta da sociedade no
planeta Vermelho, assim como, cada vez mais marcianos se interessam por
marcianos e não por marcianas. Empolgado com o assunto, o E.T. curioso
nos enviou a seguinte mensagem telepática, após a atenta leitura do romance em
questão:
A Revolução Sexual na Terra
Por muito
tempo / Houve / Na Terra / O conflito de classes / O conflito de raças / O
conflito de sexos / Hoje resta apenas o / Conflito de Idades. / Um mundo
dividido / Sobretudo / Entre Jovens / E Velhos / Mas quando isso
começou? / Não! Não foi lendo o Martin Amis / Carinhosamente
recomendado a mim / pelo / Amigo / Terráqueo / Albani / Que encontrei a
resposta / Foi pesquisando / Na Wikipédia / E no Google / E nuns livros de
História bem escritos / Que a verdade me foi / Revelada.
A
minissaia de Mary Quant / Em 1955 / Permitiu ao belo sexo / Botar as mangas de fora, digo, coxas / Mas, antes de tudo / Foi a Revolução Francesa em 1789 /
Berrando “Igualdade, Liberdade, Fraternidade” / E a
Revolução Industrial / Na mesma época / Enxotando / Milhões de camponeses /
Para as cidades / Que / Criaram as burguesas charmosas / As sofridas operárias
/ Mudou-se a família desde então.
Nas
Guerras Mundiais – entre 1914 e 1945 / A
Morte, onipresente nos campos de batalha, disse: “Virem-se, senhoras e meninas /
Não há mais homens para amar – estão todos ocupados se matando / Pela
Democracia / Pelo Nazismo / Pelo Comunismo”.
Consequências dessas Guerras: 1) Mais direitos trabalhistas
mundo afora; 2) Estabelecimento da sociedade de consumo para reerguer a
economia dos países devastados; 2.1) Eletrodomésticos na casa do povão; 3) Bomba-atômica.
Não esquecendo
/ Das feministas inteligentes / Clara Zetkin / Alexandra Kollontai / Todas comunistas
/ Manuelas de outrora / Simone de Beauvoir / Tantas, tantas / Luz Del Fuego / Pagu
/ Sufragistas / Votes for Women / Não
se esquecendo delas.
Mas
tudo isso / Pode ser / Resumido / Em duas palavras / PÍLULA
ANTICONCEPCIONAL / Repito / PÍLULA ANTICONCEPCIONAL. Marciano reducionista, eu? /
Conforme os marxistas vulgares de outrora? / Talvez / Mas a pílula / Lá em 1954
/ Foi um tapa na cara / Dos religiosos moralistas / Judeus / Cristãos / Muçulmanos
/ “Sexo só para procriar?” / “No escurinho?” / “Chega do homem que vira as
costas à gestante!” / Fala agora a PÍLULA, onipresente, ainda que não 100%
eficiente / No lugar da Morte / E continua falando: / “Basta do homem que impune
fica embuchando falenas” / “Basta da mulher que só / Gere / Pare / Amamenta /
Educa / Limpa / Cozinha / Lava / Educa” = “Basta da Mulher Escrava do Mundo”!
Com
a PÍLULA / Ou PIRLA / Ou PÍRULA, tanto faz / O prazer carnal deixou de ser /
Exclusividade / De barbados e bigodes / Não sendo mais a gravidez algo /
Incontrolável / Mas continuando a economia incontrolável / E continuando, como
continua, a mercadoria incontrolável / As mulheres viraram os homens do
século XXI / Diria o terráqueo Chacrinha / Sábio palhaço da TV
brasileira. Prevalecendo a busca pela felicidade / Na cama / Ganhou força / E legitimidade / A luta homoafetiva.
Muitas
conquistas / Novos problemas / Dilemas / Dramas / Ironias / Gracejos / É Martin
Amis quem cita o pensador francês do século Dezesseis, Michel Montaigne - mais
precisamente, de 1575:
O homem(a mulher, o homoafetivo – acrescenta o marciano) que
ocupa o trono mais elevado da Terra continua sentado em cima de sua bunda.
Odair
José –Pare de tomar a pílula(1973):
Papercuts
– Primitive
Future(2009):
Zeca
Baleiro –Heavy Metal do Senhor(2010):
O marciano recomenda
O marciano amigo
curtiu mesmo a obra de Martin Amis. Sendo
assim, o simpático verdinho extraterreno destaca outros trechos que dão o que
pensar em “AViúva Grávida”:
1.
E assim, mesmo
no universo maluco do sono – a gente queria algo apaixonadamente, e aquilo
acontecia, se tornava verdade. A gente acordava. E era a única hora em que
aquilo acontecia de fato (pensou ele): era naquele sentido e apenas naquele
sentido que os nossos sonhos alguma vez se tornavam realidade.
2.
Quando
saía pelas ruas de Londres, ele tinha a sensação quase constante de que toda
beleza havia desaparecido. E o que havia tomado seu lugar? Beleza é verdade, verdade é beleza. Aquilo era lindo, talvez. Mas
como podia ser lindo? Não era verdadeiro. Da maneira como ele via. A beleza,
essa coisa rara, tinha sumido. O que restara era a verdade. E havia um estoque
interminável de verdade.
Brothers of a Feather–Over the Hill(2007):
Brothers of a Feather–Soul Singing(2007):
3.
Nós somos para
os deuses aquilo que são as moscas para meninos malvados, Lily. Eles nos
torturam por diversão.
4.
Havia uma
garota linda, chamada Echo, que se apaixonou por um rapaz lindo. Certo dia,
quando estava caçando, o rapaz se perdeu de seus companheiros. Gritou chamando
por eles: Onde
vocês estão? Eu estou aqui. E Echo,
olhando para ele de uma distância cautelosa, respondeu. Eu estou aqui. Eu
estou aqui. Eu estou aqui. Eu estou aqui.
Vou ficar aqui, disse ele. Venha até a mim.
Venha até a mim. Até a mim, até a
mim, até a mim.
Fique aí!
Fique aí!, disse ela, com lágrimas nos
olhos. Fique aí, fique aí, fique aí.
Ele
parou e ficou escutando. Vamos nos encontrar no meio do caminho. Venha.
Venha, disse ela. Venha, venha, venha.
Vetiver – Wonder
Why(2011):
The Wallflowers – Reboot
the Mission(2012):
Bom demais!!!
Tem link novo no “Visite”
do CoV.
Não deixem de conferir o blog do
quadrinista Laerte Coutinho(1951) – Manual do Minotauro