quinta-feira, 18 de abril de 2013

100 anos de Vinícius de Moraes


Alfredo Volpi, Sereia, 1960


A primeira e única vez de Ana com Vinícius
C.A. Albani da Silva

            A professora ensina sobre Vinícius de Moraes (1913-1980) e alguns bocejam. Juliana suspira. No compasso do suspiro dela, Dion, o roqueiro do fundão, até que simpatiza com o poeta que cresceu ouvindo o canto de antigos escravos e o violão de tios boêmios no Rio de Janeiro dos anos 1920.
            Ao som de um funk batidão, vibrando nos fones de ouvindo, Ricardo decora, quem sabe cai na prova, “Vinícius se casou 9 vezes”. E foi por influência de uma das esposas que o poeta se transformou num homem de esquerda. Isso Ricardo já não entende. Mas quem é que entende de política?
            Dizem que Vinícius de Moraes não gostava de desarmonia, por isso, agrada Marcela, a dos olhos verdes, sendo que esta anda em dúvida se é hippie, rastafári ou beatnik: “Paz e Amor”. A mesma Marcela que, no futuro, beberá tanto quanto o poeta.
            “Na peça de teatro, ‘Orfeu da Conceição’, adaptada para o cinema como ‘Orfeu Negro’, por Marcel Camus, Vinícius de Moraes alcançou uma criativa mistura entre a tradição erudita e a cultura popular – mistura esta que marca sua poesia. Sonetos e odes convivem com baladas, serestas e sambas. A arte de Vinícius contribuiu para renovar a música brasileira, via Bossa Nova, de 1958 em diante. Sua parceria com o maestro Tom Jobim foi a mais famosa parceria dentre tantas com grandes músicos. Com o violonista Baden Powell inventou diversos afro-sambas.” Lê-se no livro de literatura.
            Lá fora, sempre atento ao que se passa na sala de aula, um cachorrinho pulguento late que late. Claro está que canta “Chega de Saudade”, de Tom e Vinícius, gravada por João Gilberto. Acrescenta o cão apreciador de música “meu tataravô escutou essa canção em rádio para jovens, verdadeiro sucesso pop”.
            Ana, por sua vez, dá-se conta que, assim como o poeta, pouco liga para o dinheiro. Embora o salário de diplomata de Vinícius não seja comparável ao salário do seu pai – metalúrgico. Ela gosta também de parcerias! Compõe lá suas artes no grêmio estudantil, com Júlia, Rodrigo, Gabriel e Luciana. Luciana que vai à terreira de batuque enquanto Júlia participa do grupo de jovens católicos da Igreja São Miguel.
          Quando Lu convencer Júlia de que muitos adolescentes vivem, gostariam de viver ou ainda viverão como na lírica de Vinícius, muita coisa já vai ter mudado na vida de Júlia. Ela terá ponderado, também através de experiências pessoais, sobre a importância da intensidade das paixões mais do que seu tempo de duração. É a mãe que xinga o pai, é o pai que reclama da mãe há 30 anos...
            Teria sido Vinícius um “poetinha” ao cantar, sentir e viver a brevidade do amor por vários seres, especialmente femininos, ao mesmo tempo? Gabriel jamais formulará essa pergunta. Deixará de lado a literatura logo ao se formar no Ensino Médio. Mas Lu acabará voltando às dúvidas levantadas, naquela aula distante, pela personalidade do poeta. Lá pela casa dos 30, quando nascer seu primeiro filho. Assistindo a um documentário sobre Vinícius de Moraes, na TV a cabo, discordará da opinião de Chico Buarque sobre o Brasil pós-Ditadura Militar: “sou ingênua e generosa”, pensará, “nem tudo está perdido”.    


Vinicius, Toquinho, Tom & MiúchaCanto de Ossanha (1978): Resgatando as raízes africanas do samba.


Ney MatogrossoRosa de Hiroshima (s/d): Libelo pacifista de Vinícius.


Adriana CalcanhottoEu sei que vou te amar (2005): O lirismo musical e emotivo de Vinícius.


Balada do MangueTrecho do documentário “Vinícius – Quem pagará o enterro e as flores se eu morrer de amores?” (2005) 




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