Alfredo Volpi,
Sereia, 1960
A primeira e única vez
de Ana com Vinícius
C.A.
Albani da Silva
A professora ensina sobre Vinícius de
Moraes (1913-1980) e alguns bocejam. Juliana suspira. No compasso do
suspiro dela, Dion, o roqueiro do fundão, até que simpatiza com o poeta que
cresceu ouvindo o canto de antigos escravos e o violão de tios boêmios no Rio
de Janeiro dos anos 1920.
Ao som de um funk batidão, vibrando
nos fones de ouvindo, Ricardo decora, quem sabe cai na prova, “Vinícius se
casou 9 vezes”. E foi por influência de uma das esposas que o poeta se transformou
num homem de esquerda. Isso Ricardo já não entende.
Mas quem é que entende de política?
Dizem que Vinícius
de Moraes não gostava de desarmonia, por isso, agrada
Marcela, a dos olhos verdes, sendo que esta anda em dúvida se é hippie, rastafári
ou beatnik: “Paz e Amor”. A mesma Marcela que, no futuro, beberá tanto quanto o
poeta.
“Na peça de
teatro, ‘Orfeu da Conceição’, adaptada para o cinema como ‘Orfeu Negro’, por
Marcel Camus, Vinícius de Moraes alcançou uma criativa mistura entre
a tradição erudita e a cultura popular – mistura esta que marca sua
poesia. Sonetos e odes convivem com baladas, serestas e sambas. A arte de
Vinícius contribuiu para renovar a música brasileira, via Bossa Nova,
de 1958 em diante. Sua parceria com o maestro Tom Jobim foi a mais famosa parceria
dentre tantas com grandes músicos. Com o violonista Baden Powell inventou
diversos afro-sambas.” Lê-se no livro de literatura.
Lá fora, sempre atento
ao que se passa na sala de aula, um cachorrinho pulguento late que late. Claro
está que canta “Chega de Saudade”,
de Tom e Vinícius, gravada por João Gilberto. Acrescenta o cão apreciador de
música “meu tataravô escutou essa canção em rádio para jovens, verdadeiro sucesso
pop”.
Ana, por sua vez,
dá-se conta que, assim como o poeta, pouco liga para o dinheiro.
Embora o salário de diplomata de Vinícius não seja comparável ao salário do seu
pai – metalúrgico. Ela gosta também de parcerias! Compõe lá suas
artes no grêmio estudantil, com Júlia, Rodrigo, Gabriel e Luciana. Luciana que vai
à terreira de batuque enquanto Júlia participa do grupo de jovens católicos da
Igreja São Miguel.
Quando Lu
convencer Júlia de que muitos adolescentes vivem, gostariam
de viver ou ainda viverão como na lírica de Vinícius, muita coisa já
vai ter mudado na vida de Júlia. Ela terá ponderado, também através de
experiências pessoais, sobre a importância da intensidade das
paixões mais do que seu tempo de duração. É a mãe que xinga o pai, é
o pai que reclama da mãe há 30 anos...
Teria sido
Vinícius um “poetinha” ao cantar, sentir e viver a
brevidade do amor por vários seres, especialmente femininos, ao mesmo tempo? Gabriel
jamais formulará essa pergunta. Deixará de lado a literatura logo ao se formar
no Ensino Médio. Mas Lu acabará voltando às dúvidas levantadas, naquela aula
distante, pela personalidade do poeta. Lá pela casa dos 30, quando nascer seu
primeiro filho. Assistindo a um documentário sobre Vinícius de Moraes, na TV a
cabo, discordará da opinião de Chico Buarque sobre o Brasil pós-Ditadura
Militar: “sou ingênua e generosa”, pensará, “nem tudo está
perdido”.
Vinicius,
Toquinho, Tom & Miúcha – Canto de Ossanha (1978): Resgatando
as raízes africanas do samba.
Ney
Matogrosso – Rosa de Hiroshima (s/d): Libelo
pacifista de Vinícius.
Adriana Calcanhotto – Eu sei que vou te amar (2005): O lirismo musical e emotivo de Vinícius.
Balada do Mangue
– Trecho do documentário “Vinícius – Quem pagará o enterro e as flores
se eu morrer de amores?” (2005)
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