Cássio Loredano, Marx e Engels, 2007
Em fevereiro de 2011, na Praça Tahrir, Egito,
Mahmed, 22,
conversava com o jornalista inglês Chris Orwell, 70, que viveu na Argélia durante a descolonização, em 1962, e participara também da rebelião
jovem que sacudiu Paris
e a França em Maio de 1968.
[...]
“Mahmed, os
jovens franceses tomaram as ruas, prédios públicos, fábricas, praças a partir das universidades
- Nanterre, Sorbonne, do bairro que era nosso reduto, o Quartier Latin: isso foi
de uma ousadia inédita em meio ao conformismo da sociedade de consumo. E
quando as centrais sindicais declararam greve geral, de 13 a 30 maio de 68, com
cerca de 10 milhões de operários cruzando os braços, Charles De Gaulle e a elite francesa estremeceram.
Metade do país ficou à espera da revolução, de alguma revolução; a outra metade
(que depois também sairia às ruas aos milhares e elegeria um novo Congresso amplamente
conservador) ficou assustada, desconfiada de tudo. Mas foi somente com a greve
geral da classe trabalhadora que passamos de um levante essencialmente simbólico e espontâneo, nascido da
insatisfação universitária e atuando como um desabafo coletivo, para afetarmos
diretamente a economia, ameaçando assim os privilegiados”.
Enquanto
Orwell fazia seu relato, a Praça Tahrir inteira cantava acerca da primavera, daquela, a Primavera Árabe, e de outras, passadas
e futuras. A primavera não é apenas uma estação, mas um estado de espírito. Ao
som de suas próprias palmas, 100, 120 ou 1120 rapazes e moças entoavam uma prece
a Mohamed Bouazizi,
27, que tocou fogo no próprio corpo protestando contra o desemprego, a
inflação, a falta de perspectivas, na Tunísia, em 2011. Começava
assim a rebelião no norte africano e no Oriente Médio que derrubou velhas
ditaduras.
[...]
“Em momentos como
o que vivemos agora, Chris, lhe pergunto: optamos pelo realismo ou pelo
romantismo”?
Evitando respostas fáceis, Chris O.
entregou a Mahmed um velho bloco de
notas seu, já bastante amarelado. Na capa, um título: “Anotações de 1968”; no miolo, pensamentos
manuscritos acompanhados de comentários entre parênteses...
Minhas leituras das
leituras de Max Beer
“Autoridades de Jerusalém [...], os abrigos
em que vocês confiam não são seguros; eles serão destruídos por chuvas de
pedra, serão arrasados por trombas-d´água”.
Isaías, capítulo 28,
versículo 17. (A rebeldia em estado bruto)
“Há uma desvantagem adicional à propriedade
comum: quanto maior o número de proprietários, menor o respeito à propriedade.
As gentes são muito mais cuidadosas com suas próprias posses do que com os bens
comunais; exercitam o cuidado com a propriedade pública apenas quando isso as
afeta de maneira pessoal”.
Aristóteles, Política,
Parte II. (Sempre discordei desse
cara, tipicamente de direita).
“Porque ele (o Pai) faz com que o sol brilhe
sobre os bons e sobre os maus e dá chuvas tanto para os que fazem o bem como
para os que fazem o mal”.
Sermão da Montanha, Jesus segundo Mateus, capítulo 5, versículo 46. (Deus, ainda irão longe as
injustiças então? Há que se garantir ao menos o livre-arbítrio).
“A História é uma disciplina largamente
cultivada entre as nações e raças. É avidamente procurada. O homem da rua e o
povo vulgar aspiram a conhecê-la. Os reis e os chefes disputam-na”.
Averróis
(Ao falar das lutas sociais na Idade Média, Max Beer enfocou os
heréticos cátaros, mas preferi beber em outra fonte medieval: a sabedoria
muçulmana).
“Foi Utopus (o mesmo que rebatizou a ilha de
Abraxas como Utopia) que elevou homens ignorantes e rústicos a um grau de
cultura e civilização que nenhum outro povo parece ter alcançado atualmente”.
Tomás Morus, A
Utopia. (A esperança de que a democracia se aprende e se ensina).
“Empunharam, à guisa de bandeira, a trouxa
de mendigo do proletário, para conclamar o povo à sua volta. Mas todas as vezes
que este dispunha-se a segui-las, divisava-lhes nas costas os velhos brasões
feudais e então se dispersava com gargalhadas insolentes”.
Marx e Engels, Manifesto Comunista de 1848 (Cumprem, a imprensa, a polícia
e os políticos demagogos, atualmente, o papel que cabia aos aristocratas no
século 19?).
Wado – Reforma agrária do ar (2009):
Wado – Se vacilar o jacaré abraça (2007):
Wado
– Jejum/Cavaleiro de
Aruanda (2011):
Wado – Pavão Macaco (2009):
Nenhum comentário:
Postar um comentário