quinta-feira, 20 de junho de 2013

Protestos nas ruas / Profetas nos livros

Cássio Loredano, Marx e Engels, 2007
           
            Em fevereiro de 2011, na Praça Tahrir, Egito, Mahmed, 22, conversava com o jornalista inglês Chris Orwell, 70, que viveu na Argélia durante a descolonização, em 1962, e participara também da rebelião jovem que sacudiu Paris e a França em Maio de 1968.
            [...] “Mahmed, os jovens franceses tomaram as ruas, prédios públicos, fábricas, praças a partir das universidades - Nanterre, Sorbonne, do bairro que era nosso reduto, o Quartier Latin: isso foi de uma ousadia inédita em meio ao conformismo da sociedade de consumo. E quando as centrais sindicais declararam greve geral, de 13 a 30 maio de 68, com cerca de 10 milhões de operários cruzando os braços, Charles De Gaulle e a elite francesa estremeceram. Metade do país ficou à espera da revolução, de alguma revolução; a outra metade (que depois também sairia às ruas aos milhares e elegeria um novo Congresso amplamente conservador) ficou assustada, desconfiada de tudo. Mas foi somente com a greve geral da classe trabalhadora que passamos de um levante essencialmente  simbólico e espontâneo, nascido da insatisfação universitária e atuando como um desabafo coletivo, para afetarmos diretamente a economia, ameaçando assim os privilegiados”.
               Enquanto Orwell fazia seu relato, a Praça Tahrir inteira cantava acerca da primavera, daquela, a Primavera Árabe, e de outras, passadas e futuras. A primavera não é apenas uma estação, mas um estado de espírito. Ao som de suas próprias palmas, 100, 120 ou 1120 rapazes e moças entoavam uma prece a Mohamed Bouazizi, 27, que tocou fogo no próprio corpo protestando contra o desemprego, a inflação, a falta de perspectivas, na Tunísia, em 2011. Começava assim a rebelião no norte africano e no Oriente Médio que derrubou velhas ditaduras.
            [...] “Em momentos como o que vivemos agora, Chris, lhe pergunto: optamos pelo realismo ou pelo romantismo”?
            Evitando respostas fáceis, Chris O. entregou a Mahmed um velho bloco de notas seu, já bastante amarelado. Na capa, um título: “Anotações de 1968”; no miolo, pensamentos manuscritos acompanhados de comentários entre parênteses...

Minhas leituras das leituras de Max Beer

“Autoridades de Jerusalém [...], os abrigos em que vocês confiam não são seguros; eles serão destruídos por chuvas de pedra, serão arrasados por trombas-d´água”.
Isaías, capítulo 28, versículo 17. (A rebeldia em estado bruto)

“Há uma desvantagem adicional à propriedade comum: quanto maior o número de proprietários, menor o respeito à propriedade. As gentes são muito mais cuidadosas com suas próprias posses do que com os bens comunais; exercitam o cuidado com a propriedade pública apenas quando isso as afeta de maneira pessoal”.
Aristóteles, Política, Parte II. (Sempre discordei desse cara, tipicamente de direita).

“Porque ele (o Pai) faz com que o sol brilhe sobre os bons e sobre os maus e dá chuvas tanto para os que fazem o bem como para os que fazem o mal”.
Sermão da Montanha, Jesus segundo Mateus, capítulo 5, versículo 46. (Deus, ainda irão longe as injustiças então? Há que se garantir ao menos o livre-arbítrio).

“A História é uma disciplina largamente cultivada entre as nações e raças. É avidamente procurada. O homem da rua e o povo vulgar aspiram a conhecê-la. Os reis e os chefes disputam-na”.
Averróis (Ao falar das lutas sociais na Idade Média, Max Beer enfocou os heréticos cátaros, mas preferi beber em outra fonte medieval: a sabedoria muçulmana).

“Foi Utopus (o mesmo que rebatizou a ilha de Abraxas como Utopia) que elevou homens ignorantes e rústicos a um grau de cultura e civilização que nenhum outro povo parece ter alcançado atualmente”.
Tomás Morus, A Utopia. (A esperança de que a democracia se aprende e se ensina).

“Empunharam, à guisa de bandeira, a trouxa de mendigo do proletário, para conclamar o povo à sua volta. Mas todas as vezes que este dispunha-se a segui-las, divisava-lhes nas costas os velhos brasões feudais e então se dispersava com gargalhadas insolentes”.
Marx e Engels, Manifesto Comunista de 1848 (Cumprem, a imprensa, a polícia e os políticos demagogos, atualmente, o papel que cabia aos aristocratas no século 19?).

Wado Reforma agrária do ar (2009): 

Wado Se vacilar o jacaré abraça (2007):

Wado Jejum/Cavaleiro de Aruanda (2011):

Wado Pavão Macaco (2009): 



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