quinta-feira, 7 de novembro de 2013

A deusa de todas as mitologias

Oswald Wirth, A Imperatriz, 1927

Agradecimento
(Wislawa Szymborska, 1923-2012)

Devo muito
aos que não amo.

O alívio de aceitar
que sejam mais próximos de outrem.

A alegria de não ser eu
o lobo de suas ovelhas.

A paz que tenho com eles
e a liberdade com eles,
isso o amor não pode dar nem consegue tirar.

Não espero por eles
andando da janela à porta.
Paciente
quase como um relógio de sol,
entendo o que o amor não entende,
perdoo,
  o que o amor nunca perdoaria.

Do encontro à carta
não se passa uma eternidade,
mas apenas alguns dias ou semanas.

As viagens com eles são sempre um sucesso,
os concertos assistidos,
as catedrais visitadas,
as paisagens claras.

E quando nos separam
sete colinas e rios
são colinas e rios
bem conhecidos dos mapas.

É mérito deles
eu viver em três dimensões
num espaço sem lírica e sem retórica,
com um horizonte real porque móvel.

Eles próprios não vêem
quanto carregam nas mãos vazias.

“Não lhes devo nada” –
diria o amor  
sobre essa questão aberta.
(Do livro “Poemas”, tradução de Regina Przybycien, 2011)


LAN-HOUSE NOS CAMPOS ELÍSEOS
Direto de uma lan-house nos Campos Elíseos, Italo Calvino (1923-1985) enviou o seguinte e-mail:

“Caro Albani, lendo tuas postagens no “CoV” lembrei-me de minhas próprias palavras em “Amor longe de casa”, do livro “Um general na biblioteca” (1993). Assim escrevia eu, com uma menina na cabeça: [...] havia entre nós aquilo que se diz ser amor, esse rude descobrir-se e procurar-se, esse áspero sabor um do outro, sabe como é, o amor. [...] Tristeza e solidão dos novos amores, tristeza e saudade dos velhos amores, tristeza e desespero dos amores futuros. [...] Se sentia um vazio por dentro e ela disse: ‘É que nem quando você me beija´.

Aqui no céu, caro Albani, já não se pode fazer essas coisinhas boas aí da Terra".
Calvino – 5773 anos desde a criação do mundo.  
(Publicado originalmente na postagem de 15/03 de 2012)

Gazel I
Do amor imprevisto
(Federico-García Lorca, 1898 a 1936)

Ninguém compreendia o perfume
da escura magnólia do teu ventre
Ninguém sabia que martirizavas
entre os dentes um colibri de amor

Mil cavalinhos persas dormiam
na praça com luar de tua fronte,
enquanto eu enlaçava quatro noites
tua cintura, inimiga da neve.

Entre gesso e jasmins, o teu olhar
em um pálido ramo de sementes.
Eu procurei, para dar-te, em meu peito
as letras de marfim que dizem sempre,

sempre, sempre: jardim de minha agonia,
teu corpo fugitivo para sempre,
o sangue de tuas veias em minha boca,
tua boca já sem luz para minha morte.
(Publicado originalmente na postagem de 13/07 de 2012)

Yanto LaitanoMeu amor


Yanto LaitanoEu não sou daqui


Yanto LaitanoA Equilibrista



P.S.:  A Imperatriz - Terceiro Arcano Maior no Tarot de Marselha e no Tarot cabalístico: Gimel. 

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