Oswald Wirth, A Imperatriz, 1927
Agradecimento
(Wislawa Szymborska, 1923-2012)
Devo
muito
aos
que não amo.
O
alívio de aceitar
que sejam
mais próximos de outrem.
A
alegria de não ser eu
o lobo
de suas ovelhas.
A
paz que tenho com eles
e a
liberdade com eles,
isso
o amor não pode dar nem consegue tirar.
Não
espero por eles
andando
da janela à porta.
Paciente
quase
como um relógio de sol,
entendo
o que o amor não entende,
perdoo,
o que o
amor nunca perdoaria.
Do
encontro à carta
não
se passa uma eternidade,
mas
apenas alguns dias ou semanas.
As
viagens com eles são sempre um sucesso,
os
concertos assistidos,
as
catedrais visitadas,
as
paisagens claras.
E
quando nos separam
sete
colinas e rios
são
colinas e rios
bem
conhecidos dos mapas.
É
mérito deles
eu viver
em três dimensões
num
espaço sem lírica e sem retórica,
com
um horizonte real porque móvel.
Eles
próprios não vêem
quanto
carregam nas mãos vazias.
“Não
lhes devo nada” –
diria
o amor
sobre
essa questão aberta.
(Do
livro “Poemas”, tradução de Regina Przybycien, 2011)
LAN-HOUSE NOS CAMPOS ELÍSEOS
Direto de uma lan-house nos Campos Elíseos, Italo Calvino (1923-1985) enviou o seguinte
e-mail:
“Caro Albani, lendo
tuas postagens no “CoV” lembrei-me de minhas próprias palavras em “Amor longe
de casa”, do livro “Um general na biblioteca” (1993). Assim escrevia eu, com
uma menina na cabeça: [...] havia entre nós aquilo que se diz ser amor, esse rude
descobrir-se e procurar-se, esse áspero sabor um do outro, sabe como é, o amor. [...] Tristeza
e solidão dos novos amores, tristeza e saudade dos velhos amores, tristeza e
desespero dos amores futuros. [...] Se sentia um vazio por dentro e ela disse: ‘É que nem
quando você me beija´.
Aqui no céu, caro
Albani, já não se pode fazer essas coisinhas boas aí da Terra".
Calvino – 5773 anos desde a criação do mundo.
(Publicado
originalmente na postagem de 15/03 de 2012)
Gazel I
Do amor imprevisto
(Federico-García Lorca, 1898 a 1936)
Ninguém compreendia o perfume
da escura magnólia do teu
ventre
Ninguém sabia que martirizavas
entre os dentes um colibri de
amor
Mil cavalinhos persas dormiam
na praça com luar de tua
fronte,
enquanto eu enlaçava quatro
noites
tua cintura, inimiga da neve.
Entre gesso e jasmins, o teu
olhar
em um pálido ramo de sementes.
Eu procurei, para dar-te, em
meu peito
as letras de marfim que dizem sempre,
sempre,
sempre: jardim de minha agonia,
teu corpo fugitivo para
sempre,
o sangue de tuas veias em
minha boca,
tua boca já sem luz para minha
morte.
(Publicado originalmente na postagem
de 13/07 de 2012)
Yanto Laitano – Meu
amor:
Yanto Laitano – Eu não
sou daqui:
Yanto Laitano – A
Equilibrista:
P.S.: A Imperatriz -
Terceiro Arcano Maior no Tarot de Marselha e no Tarot cabalístico: Gimel.
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