sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Qual o MENOR brasileiro de todos os tempos?


Qual o MENOR brasileiro de todos os tempos?
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)

Tenho um amigo dono de canal de televisão. Nunca cantei lá. Sabe como é, meu amigo não gosta de parecer que está privilegiando os conhecidos. Acredita na meritocracia. Mesmo assim, sabendo-me especialista em História do Brasil, esse meu amigo rico me perguntou em 2012: “Quem é o MAIOR brasileiro de todos os tempos”?. Eu disse: “O maior é coisa muito grande que não cabe em lugar nenhum. Comece pelo MENOR brasileiro de todos os tempos”. Ele me agradeceu e, claro, não me ouviu. Depois disso eu fui pra casa dormir. Estranhos sonhos me atacaram àquela noite. Fantasmas vieram e se candidataram ao posto. A urna era de papel inclusive.

CAPITÃO NASCIMENTO (?) – Sou um “herói” do cinema brasileiro, torturador e pistoleiro, integrante da polícia militar carioca. Protagonista dos filmes “Tropa de Elite” 1 & 2 (2007 e 2010, respectivamente, Dir.: José Padilha), eu, Capitão Roberto Nascimento, virei astro pop ao atuar na segurança pública do Brasil agindo tal qual os criminosos. Soldado profissional, mas pai e marido amador, virei Sub-Secretário de Inteligência no RJ. Como um bom moço, ingênuo e logrado, percebi que era fantoche de políticos pilantras.

DITADORES MILITARES – Como uma espécie de Hidra de 5 Cabeças (nem um pouco rara na fauna da América Latina), protagonizamos o Regime Militar brasileiro (1964 a 1985). Fomos presidentes generais, eleitos pelos próprios colegas militares na seguinte hierarquia (pilar virtuoso para uma Nação Ordenada e Desenvolvida): 1) Humberto de Alencar Castelo Branco (1897-1967); 2) Artur da Costa e Silva (1899-1969); 3) Emílio Garrastazu Médici (1905-1985); 4) Ernesto Geisel (1907-1996); 5) João Batista Figueiredo (1918-1999). Censura, perseguições e torturas contra a oposição política; centenas de mortos e desaparecidos; industrialização dependente da tecnologia e do dinheiro de empresas estrangeiras; êxodo rural gigante; destruição do primeiro período democrático brasileiro (1946 a 1964); crise da dívida externa; eis alguns trunfos nossos - Hidra verde-oliva que viveu 21 anos. Tinha corrupção? Fale de novo e você perde a língua.

DOMINGOS JORGE VELHO (? – 1703): Fui Bandeirante. Procurei ouro nos sertões. Caçador de índios e protagonista da destruição do Quilombo dos Palmares em 1695. Matei Zumbi. Levei a cabeça dele para Recife com André Furtado de Mendonça. Um absurdo esse negócio de não aceitar a escravidão. Sem ela não haveria açúcar, ouro, café, algodão, tabaco, no mundo moderno.

EU (!) – Levanto na matina. Pego ônibus lotado. Sou trabalhador assalariado. Gremista. Casei há 5 anos. Tenho duas amantes. Pai. Mas só de vez em quando. Fazer filho é melhor que educar. Pago 1352 impostos. Só sei o nome de 2. Mas quem sofre mesmo é o empresário. Tadinho: tanta burocracia. Sou Católico não-praticante. Não. Mais ou menos Espírita. Não. Evangélico total. Não. Umbandista. Cruzes. Isso era segredo. Sei lá. Político é tudo ladrão. Voto nulo. Gosto de novela. De cerveja. Sou gremista. Ah! Já disse. Não gosto de cemitério. Tenho medo. Mas não conte a ninguém. Conte que gosto de loura. Furo fila e olho o pinto dos outros no banheiro do shopping. Vou trabalhar na Copa. Só não sei se do bar ou do Mundo. Morri aos 27 com uma bala perdida. Não. Nada. Num racha de carro na Avenida Dorival. Amo carros. Creio na vida eterna. E em Deus. E no revólver raspado que comprei. Gooooool. Dou tiros pro céu ganhando Grenal. Só pra isso uso a arma. Amanhã pagaria a prestação 3458 do meu Fiat Uno. Começaria cursinho de Inglês e Informática. Fazer o quê. Morri. Ou melhor. Me mataram. Não tinha soro, nem seringa, nem agulha, nem esparadrapo, nem enfermeira, nem médico no Hospital público. O médico só queria atender no seu escritório particular. O consultório particular eu não tinha renda pra entrar. Sou favorável a privatizar os hospitais mesmo assim. O meu vizinho baixou com um problema igual ao meu e o Hospital público o salvou. Não me sinto sozinho. Mas quando me sinto procuro mulher em cabaré (ou na internet), não conseguindo vou ao padre ao pastor. Ler não leio. Finjo ler a Bíblia. Mas é muito grande. Minha mãe me disse que quem lê enlouquece.

FRODO BOLSEIRO (2968 da 3ª Era do Sol - ?) – Sou um Hobbit, portanto não passo de um metro de altura. Moro na Terra Média. Meu tio foi outro famoso baixinho, Bilbo. Meu pai era inglês, J.R.R. Tolkien (1892-1973) - escrevia livros. Se sou brasileiro? Bem, meu pai sempre me ensinou que a ficção não tem pátria. Vote em mim! Afinal, o Anel de Sauron me dá poder, deixando-me muito malvado ou, no mínimo, atormentado. Além disso, brasileiro, desde 15oo, gosta mesmo é de coisa do estrangeiro.

PEDRO ÁLVARES CABRAL (1467-1520)– Falando em 1500 e no Brasil Colônia… Chamava-me então Pedro Álvares de Gouveia quando, em nome d´El-Rei Dom Manoel, comandei a esquadra que oficializou o controle português das terras brasileiras, em 22/04 de 1500. Andei pela Índia e, após a morte de meu irmão mais velho, herdei o sobrenome do pai – Cabral. Corrigi alguns erros de português na carta do Caminha, ainda que o meu forte fosse mesmo a Matemática. Chorei ao ver o grande Bartolomeu Dias morrer no mar. Morrer no mar não é doce, não! Enganaram-se os pescadores, os poetas e a música do Dorival Caymmi.

PC FARIAS (1945-1996): Paulo César Farias. Fui tesoureiro da campanha vitoriosa de Fernando Collor de Mello (1949) nas eleições para Presidente de 1989. A primeira eleição com voto direto popular desde 1960 pra Presidente! Só porque me desentendi com o irmão do Collor, com a Veja e com a Grobo me acusaram de chefiar um enorme esquema de corrupção. Ora, sem o dinheiro arrecadado na campanha, Collor não teria desbancado o metalúrgico Lula (1945) naquele pleito de 89. Segurei o monstro operário por mais de 10 anos. São ingratos esses burgueses, não?

ROBERTO COR-de-MARINHO (1904-2003): Jornalista e empresário. Fundei um Império Grobal. Defendi a Hidra de 5 Cabeças nos editoriais do meu tabloide. Ora, recebi deles a licença pra inaugurar minha rede televisiva. Rede esta que ajuda a formar o imaginário popular brasileiro há meio século. Virei imortal da Academia de Letras, por isso.

ZÉ PEQUENO (?): Perdeu preibói se me chamá de Dadinhu! Tipu nóis semu confirmadu aqui na CDD nóis é que manda metê bala nos homi e nóis trafica e paga arrego prus colega do Capitão Nascimento mais nóis é que nem o Nascimento pobre e sanguinário. Vota em mim se não tu acorda furado maguinata! Sarve sarve, Paulo Lins (1958).

[...]

Acordei suado pra dedéu. Do meu lado, mas já sentados na cama, os amigos LIMA BARRETO e o Major POLICARPO QUARESMA me acolhiam com estas palavras de 1911:
Iria morrer, quem sabe naquela noite mesmo? E que tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara toda ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la muito, no intuito de contribuir para a sua felicidade e prosperidade. Gastara sua mocidade nisso, a sua virilidade também; e, agora, que estava na velhice, como ela o recompensava, como ela o premiava, como ela o condecorava? Matando-o. E o que não deixava de ver, de gozar, de fruir, na sua vida? Tudo. Não brincara, não pandegara, não amara – todo esse lado da existência que parece fugir um pouco à sua tristeza necessária, ele não vira, ele não provara; ele não experimentara”.
Vuuuuush
P.S.: Arte por Otto Dix, Rua de Praga, 1929.



Nenhum comentário:

Postar um comentário