SOBRE HERÓIS & LÍDERES
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)
1.
“Revolução, revolta ou um simples protesto precisam de líderes
fortes. Acaba-se com o antigo regime - o governante corrupto, o rei
já sem poder; mas acaba-se também com os “niveladores” e
“escavadores” que propõem redistribuir a riqueza, mas pouco
fazendo para isso, restritos a discursos ou ao enriquecimento
pessoal. Ao menos foi assim na minha República, entre 1649 e 1660,
na Inglaterra. Tudo começou quando o rei Carlos I quis enfiar goela
abaixo o anglicanismo em terras escocesas e presbiterianas. E eu fui
o líder forte, o Lorde Protetor, vindo do Exército a derrubar os
conservadores, a eliminar os igualitários”.
(E-mail
enviado por Oliver Cromwell a Luís XIV, então criança, em 1650,
mas já querendo mandar)
2.
“Os motivos para uma revolta generalizada podem ser muitos: a falta
de diálogo; o excesso de diálogo; a fome e a seca; a falta de
liberdade; o excesso de liberdade; o desemprego e a inflação;
mentiras repetidas que viram verdades; verdades que de tão
distorcidas voltam a ser translúcidas até ao mais cego dos mortais;
mulheres e livros; mas, sobretudo, a revolta parte de uma ideia ou
sentimento de que 'morrer não é nada; não viver é que é
horrível'”!
(No
tuítter de Jean Valjean com dedicatória ao miserável Vitor Hugo em
1862)
3.
“O que faz um líder? Lidera, oras. Mas como se lidera? De
preferência protagonizando ações a partir do que se conhece bem –
como eu: filho e neto de marinheiros, naveguei mares e rios da Europa
e da América do Sul em nome de boas causas. Assim como, um líder
começa liderando seus amigos mais próximos - aqueles que comungam
dos mesmos ideais ou apertos: em meu caso, as ideias republicanas de
Giuseppe Mazzini e o exílio político no Brasil em
1836. Mas acima de tudo, um líder não pode ser apenas um guerreiro.
Vejamos o caso de Davi Canabarro, na Guerra dos Farrapos,
que foi talentoso em combate, mas arrogante e autoritário na paz
após a conquista de Laguna durante a República Juliana de 1839. Mas
como dizia, a principal virtude de um herói, ou melhor, líder
(estou tentando ser modesto!), é não perder a esperança!
Quando meu lanchão, Seival, naufragou na barra do rio
Araranguá, na expedição a Santa Catarina, com os farroupilhas,
perdi meus maiores parceiros, brilhantes corsários: Carniglia,
Starderini, Mutru – morreram todos afogados. Perdi
também a guerra, já que em Imbituba os farrapos foram
expulsos da província sitiada e voltaram ao Rio Grande do Sul pra
continuar sua luta regional, igualmente fracassada, contra o Império
brasileiro. Mas eu, particularmente, saí vitorioso de tudo isso:
ganhei uma bela morena catarininha - Ana Maria de Jesus Ribeiro,
minha Anita Garibaldi. Viveu tão pouco, a morena, mas tão
intensamente... Lutando ao meu lado... Me amando... Não me considere
um individualista a pensar só em meu umbigo por causa do amor!
Entenda minha situação: já que dediquei minha vida a lutar pela
liberdade dos povos, por governos republicanos, nada mais justo do
que a busca e a conquista da felicidade pessoal. Um direito
essencialmente moderno e que deve ser garantido pelo Estado laico e
democrático que ajudei a inventar.
(Escrito
nas areias de Marselha por um Garibaldi já meio caduco aos 75 anos
de idade em 1882)
4.
“O Garibaldi sempre foi um exagerado”.
(Whatsapp
enviado em 2013 por Anita
ao Albani após um cruzeiro pelo Mediterrâneo com a amiga Angelina
Jolie que a interpreta no longa “Dois Mundos, Uma Heroína”)
5.
“Para quem defende a ordem, a desordem sempre pode
ser útil. O espírito carnavalesco, a anarquia cômica, o burlesco
são coisas que podem reforçar o senso comum e costumam agradar às
massas, acalmando-as mais até do que a porrada e o medo.
Tinha isso em mente quando criei meu espetáculo sobre o “Velho
Oeste Selvagem” em 1883 – renovava então a estética
circense com suas acrobacias (utilizando-me de cavaleiros e
pistoleiros) assim como valendo-me de excentricidades para cativar o
público: mulheres masculinizadas como Jane Calamidade;
árabes, cossacos e mongóis; e índios americanos como você, Touro
Sentado – diga-se de passagem você nunca viveu tão bem
quanto nos anos de Wild West Show: longe das guerras por terra
contra o General Custer e sua cavalaria, como lá em
Little Big Horn, ou melhor ainda do que agora nesta
seita mística que entrastes e que prega o extermínio do homem
branco pelo próprio Cristo que voltará só não se sabe quando.
Essas paranoias místicas ainda serão o seu fim, Touro Sentado!
Enquanto você busca a salvação, índio velho, eu
colho os louros de ser o precursor dos programas debochados ou
sensacionalistas de auditório – que depois foram parar na TV: do
Chacrinha ao Ratinho chegando ao Pânico. Sendo
assim, líderes de verdade na história atual somente os empresários,
os empreendedores, que enriquecem e sabem ganhar no jogo da vida”.
(Mensagem
telepática enviada por Buffalo Bill a Touro Sentado depois que este
mugiu e levantou em 1890)
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