terça-feira, 18 de dezembro de 2018

#11 VERÔNICA


PLAYLIST do LIVRO
CONTOS pra CANTAR do INVENTOR do VENTO

#11 VERÔNICA

Verônica é uma personagem quixotesca
Louca na sua lucidez para os que olham de fora
E não vivem suas lutas e sonhos
Tal qual o Cavaleiro da Triste Figura
De Miguel Cervantes em 1615.
Verônica é
Uma das personagens mais importantes
Do Recital PIMENTA PINK
Onde canto somente as personagens femininas
Do livro CONTOS pra CANTAR
E para ela
(Que pode ser eu ou você também)
O esforço é para virar a mesa da
Cultura machista em que foi criada
Chutando o balde da “mística feminina”
Que faz de muitas mulheres
Escravas santificadas do lar e dos filhos
Como disse Betty Friedan em livro de 1964
Ou Simone de Beauvoir disse
No livro “O segundo sexo” (1949)
Em que podemos lembrar (aprender?) que
O corpo pode nascer com o sexo masculino
E com o sexo feminino, sim
Mas o uso dele, os símbolos que irão preenchê-lo
(Roupas, posturas, comportamentos, crenças)
As práticas de vida, em resumo
São construções conscientes e inconscientes
Tentando ser dignas ou simplesmente sendo
Estúpidas como as que transformam as mulheres
Em bundas e peitos para deleite dos machos que
Não choram e disparam suas arminhas
Ou santas assexuadas prontas para cozinhar
Para os machos que colonizam as suas mães.
*
A letra de VERÔNICA é de 2006
(Não me lembro direito,
Na real, o ano em que escrevi)
Mas todo ano toco de um jeito diferente
No piano, acústica, elétrica, lenta, rápida…
Em fevereiro de 2008
Num ensaio maravilhoso
Pude contar com o sax & flauta do Stanis Soares
E a batera do Alemão Cristiano
Depois encorpei a canção com overdubs:
Um coral anárquico como o vento
Um baixo vintage velha guarda
Dando uma cara tipo “ao vivo no bar”
Entre a The Band do Bob Dylan
E o Clube da Esquina do Milton...
(Claro, para o meu ouvido a la Verônica:
Quixotesco).
Vuuuuush
*
VERÔNICA
*Quixotismos
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)

Ela já não pensa em marido
Ela já deixou o seu partido
E agora já não segue nenhum deus

Ela largou o clube feminino
Ela chamou o patrão de cretino
Já não torce mais pro time que torceu

Ela já não gosta de vestidos
Ela já não limpa os ouvidos
Não espera mais por um príncipe que nunca nasceu

Ai, ai, Verônica
Só encontrou alegria
Quando deixou de fazer
As coisas que sempre fazia

Ela não depila mais as pernas
Nem almeja mais a vida eterna
E agora cospe no prato que comeu

Esqueceu qual era sua causa
E só come sorvete em cauda
Coloriu todos os livros que leu

Ela já não sente mais saudade
Largou a sua velha faculdade
E queimou todos os diplomas que a vida lhe deu

Sua cor favorita era rosa
Mas agora muda a cada lua nova
E o amor tem um sabor de hortelã

Ai, ai, Verônica
Só encontrou alegria
Quando deixou de fazer
As coisas que sempre fazia

Parou de pensar sobre si mesma
Esqueceu até de sua magreza
E deixou a cara do jeito que acordou pela manhã

Trocou o celular por um carteiro
Perdeu o interesse pelo alheio
E a coisa mais bonita que disse foi “Bom Dia”

Tirou o carro da garagem
Mas preferiu fazer com as próprias pernas
Um caminho por um mapa que ela mesma desenhou




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