terça-feira, 30 de julho de 2019

ALFREDO ZITARROSA



AUDIÇÕES de FÉRIAS 4
ALFREDO ZITARROSA

Os EUA ficam muito longe, meus amigos de leitura, de som e de viagem. Por isso eu prefiro o Uruguay. O Uruguay do cantador ALFREDO ZITARROSA.

Nascido em 1936, filho de uma bailarina, mas criado até os 15 anos pelos tios. O pai biológico nunca lhe reconheceu como filho.

Alfredo Zitarrosa trabalhou por dez anos como jornalista e locutor de rádio, até uma viagem ao Peru, sem um centavo no bolso, quando uns amigos fizeram o cara cantar pra pagar as contas. Era 1964, e desde aquele momento, o vozeirão e a poesia de Zita não deixaram mais de soar por toda a América Latina.

Em 1966 estreou com o álbum CANTA ZITARROSA, álbum que vendeu parelho aos discos dos Beatles, a maior banda da história, e que chegavam ao Uruguay na mesma época. Em 1989, lançava o último álbum: SOBRE PÁJAROS Y ALMAS, ao lado de um jovem cantador, Numa Moraes, sublimando a ideia de passar seu legado adiante como poeta através da canção popular.

Zita considerava a milonga como madre (mãe), desde o campo, desde a pampa, de todos os outros ritmos musicais da região platina. Ou seja, o candombe negro, a chamarrita, a chacarera, o zamba.

Viveu 08 anos exilado, portanto, longe de sua terra natal, como Dante na Itália do século XIV, como Da Vinci na mesma Itália no século XVI, longe de casa. Enfim, o Uruguay também viveu o drama de gorilas endinheirados e fardados que se acham donos da terra, da água, do ar, do fogo e da fé e que governaram através de golpes e ditaduras militares. Assim, ele passou pela Argentina, Espanha e México, desterrado. Quando voltou, em 1984, foi acolhido por uma multidão, que lotou as ruas de Montevidéu e as suas Ramblas (calçadões) no Rio da Prata, para ouvir seu vozeirão de novo.

Em 1989, Zita faleceu. Não sem antes deixar uma biblioteca de mais de 2000 livros, quase todos lidos e rabiscados pelo artista. Também fundou uma casa noturna chamada CLARABOYA AMARILLA, nos anos 1970, onde a arte e o artista tinham prioridade e não o lucro.

Conta-se que uma vez, contratado para um show de 07 músicas, na hora de subir no palco o contratante lhe disse que havia tido um problema e o cachê seria pela metade. Sem demora, Zita subiu ao palco, cantou, mas exatamente no meio da terceira canção ele parou, explicou a redução do pagamento ao público e convidou a todos para terminarem o recital no bar da esquina, cantando as 3,5 canções que faltavam, e tocando todas mais que eles quisessem ouvir.

Doña Soledad (1968) é um de seus temas que eu mais curto:
DONA SOLIDÃO
(Alfredo Zitarrosa)

Olhe, Dona Solidão
Pense um pouco, Dona Solidão
Quantas pessoas existem que
Te conhecem de verdade

Eu te vi no armazém
Brigando por uns trocados, Dona Solidão
Os outros dizem, faça o bem, sem olhar a quem

Quantos trocados terás
Se não for pela generosidade, Dona Solidão
Terá o suficiente para comprar o pão e o vinho
E nada mais

A carne e o sangue são propriedades do patrão
Dona Solidão, quando o Cristo disse não
Sabes bem o que ele passou

Olha, Dona Solidão
Eu te falo demais
Dona Solidão, e você
Para falar teria que querer estudar

Certo de que tenha tentado isso
Mas não conseguiu, Dona Solidão
Porque mesmo antes de se tornar mulher
Já teve que ir trabalhar

Olhe, Dona Solidão,
Ponha-se um pouco a pensar
Dona Solidão, é isso que quer dizer a liberdade

Você até pode morrer
É só uma questão de saúde
Mas não queira saber
Quanto te custa um caixão

Dona Solidão, tens que trabalhar
Mas também tem que pensar
Não vais morrer
Só vão te enterrar
Dona Solidão, tens que trabalhar
Mas tem que pensar, Dona Solidão.
(Tradução livre do Inventor do Vento)

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