sexta-feira, 3 de maio de 2019

O QUE É QUE A GENTE FAZ PARA VIRAR NOTÍCIA?



Uma leitura para o dia mundial da liberdade de imprensa. Oxalá!

O QUE É QUE A GENTE FAZ PARA VIRAR NOTÍCIA?
A notícia no mundo moderno tem asas fortes para voar bem rápido e manter a sua pressa entre a verdade, a mentira, as ficções e a opinião pessoal. Qual o poder dos jornais, rádios, TV´s, revistas e aplicativos digitais no século XXI? Como você se informa das notícias do mundo?

A primeira impressora foi bolada na Alemanha por João Gutenberg, em 1455, para imprimir a Bíblia (numa tipografia que funcionava como um grande carimbo), sem precisar copiar à mão cerca de 70 livros (66 livros santos para os evangélicos, desde Lutero, 72 para os católicos, desde o Concílio de Niceia).

Em 1627, surgiu o primeiro livro de história do Brasil, assinado pelo Frei Vicente do Salvador, que trabalhou no Brasil Colônia dos portugueses e, provavelmente, em Évora, no Portugal, o padre franciscano finalizou a sua obra, que não foi publicada na época. O livro não agradou ao seu patrocinador, o escritor Manuel de Faria, pois não falava muito bem do Império português.

O jornal mais antigo ainda em circulação no mundo, em pleno ano de 2019, é o holandês Haarleems Dagblad, fundado em 1656!

Já uma das primeiras reportagens a ganhar fama e correr o mundo, ainda hoje sendo lida, foi “O diário do ano da peste”, do inglês Daniel Defoe, de 1722. A peste bubônica matou quase 100 mil ingleses em 1685, e Daniel contou isso com riqueza de detalhes e de depoimentos. Aliás este autor inventou o famoso náufrago capitalista Robinson Crusoé e escreveu também um dos primeiros livros sobre contos de fantasmas da modernidade.

Entre 1751 e 1780, os filósofos do movimento iluminista, Denis Diderot e Jean D´Alembert, organizaram a gigante Enciclopédia francesa. A primeira grande tentativa humanista de resumir o conhecimento da humanidade em uma coleção de livros até hoje fascinantes.

No Brasil, só fomos ter livros impressos quando o rei português Dom João VI se mudou para cá em 1808, fugindo da Revolução Francesa e do seu imperador Napoleão. Ele trouxe com a sua corte, da família Bragança, os equipamentos da imprensa real. Mas daí você já viu, a censura era muito forte, prendendo as ideias de quem não era amigo do rei ou defensor do Império lusitano… Por isso que, depois do fracasso da primeira editora luso-brasileira, do Frei Velloso, a Casa Literária do Arco do Cego (talvez por causa do nome não tenha dado muito certo esse negócio mesmo): a grande ideia foi de Hipólito José da Costa, o homem que resolveu fundar, em Londres, o primeiro jornal dedicado ao Brasil: O “Correio Braziliense”. Batendo na tecla da independência nacional, o jornal acabou quando o Brasil separou de Portugal em 1822.

Um dos mais antigos e longevos jornais brasileiros foi o “Jornal do Comércio”, obra de 1827, de um francês que veio trabalhar por aqui: Pierre Plancher. E, em 1830, tivemos o primeiro e retumbante assassinato de um jornalista por motivos políticos no país: o italiano Líbero Badaró batia tanto na cabeça dos velhos reis medievais do mundo e, principalmente, na cabeça do imperador do Brasil, Dom Pedro I (o filho de João VI que separou o Brasil do reino português com o grito do Ipiranga, em SP, no Sete de Setembro de 1822) que o jornalista polêmico acabou levando várias facadas e morrendo, talvez a contento do próprio rei do Brasil...

Em 1839, surgiu a Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, até hoje lida, seu número um trazia a benção do Cônego Januário Barbosa, uma história dos índios guaycuru, as memórias de um eclipse solar de 15 de março de 1839, os detalhes do falecimento (necrologia) do general de campo Raymundo Mattos, entre outras coisinhas curiosas...

No ano de 1851 foi fundado, provavelmente, o maior jornal do mundo: The New York Times (NYT). Com tanta influência e uma tiragem diária na casa do milhão de cópias, que o repórter Gay Talese, no seu livro “O reino e o poder” (1969) não teve dúvidas: um jornal poderoso manda tanto quanto um presidente, o congresso ou um tribunal de justiça…

Aliás, os três maiores jornais do Brasil remetem a 1875, o Estado de S. Paulo (Estadão, da família Mesquita); a 1921, a Folha de S. Paulo (da família Frias); 1925, O Globo (da família Marinho e da onde veio a TV Globo, em 1965).
Destaco que é por volta de 1883 que um cara de St. Louis, nos EUA, chamado Joseph Pulitzer, apostou ganhar mais leitores publicando jornais com notícias sensacionalistas, escândalos e até com as primeiras tirinhas (quadrinhos) do jornalismo. Para compensar o mau gosto, Pulitzer criou o maior prêmio do jornalismo mundial, iniciado em 1917 e deixou parte da sua herança para patrocinar faculdades de jornalismo nos EUA.

Aqui no RS, Caldas Júnior fundou em 1895 o famoso Correio do Povo e, em 1927, pintou a Rádio Gaúcha. Quanto à televisão, gostaria de lembrar aos amigos que foi em 1922 que pintou na Inglaterra a BBC de Londres (primeiro, rádio, depois TV, em 1936); sendo a pioneira no Brasil a TV Tupi do magnata da mídia: Assis Chateaubriand. Bem antes do Sílvio Santos ou do poder midiático das igrejas, o cara foi o rei do Brasil dos negócios. Quando lhe convinha, seus jornais agiam que nem peixeira de paraibano (terra natal do cabra): cortando mais embaixo… Talvez a rival do Chatô só mesmo a Rádio Nacional no RJ, estatizada pelo governo Getúlio Vargas, onde o samba, e os discursos de Getúlio, na Voz do Brasil, tomaram conta do país desde 1936.

Ainda dá tempo de lembrar que o Mark Zuckerberg lançou o Facebook em 2004, jogando a um bilhão de pessoas à exposição midiática; o Google veio com o portal de vídeos YouTube em 2005, cheio de tutoriais que, para muitos, superam a necessidade de qualquer leitura e o WhatsApp pintou em 2009, na Califórnia, enchendo nossos bolsos com a enxurrada de grupos onde a papagaiada e a bizantinice chamam-se “memes”.

Mas não encerro esta narrativa sem antes citar a mais incrível de todas as reportagens já feitas no Brasil: Euclides da Cunha que, em 1897, foi ao sertão baiano cobrir para o Estadão, a Guerra de Canudos. Após criar uma comunidade alternativa entre sertanejos, caboclos, índios e negros pobres, Antônio Conselheiro, líder do Arraial de Canudos na Bahia, despertou a ira do presidente Prudente de Morais, dos fazendeiros e do exército brasileiro que trucidou o assentamento místico dos sem-terra. A reportagem de Euclides da Cunha virou o livro “Os Sertões” em 1902. E o Prudente de Morais ainda escapou de um atentado que quase envolveu até o seu vice, Manuel Vitorino, quando eles foram comemorar o extermínio de Canudos numa festa do governo…
(c. a. albani da silva, o inventor do vento, 08/04/2019)

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