OS
140 FILHOS DE MÃE NANA – parte 1
É
com muito orgulho que, neste mês das mães, eu
rendo homenagens a uma grande amiga: a MÃE NANA. Mesmo sendo freira,
Mãe
Nana é a que teve 140 filhos e determinou o destino de cada um deles
logo que os ia parindo e batizando ao som do blues, do samba e do
brega, suas paixões musicais
de
toda uma vida, bem comprida, aliás. Para não
se atrapalhar, a Mãe Nana anotou o destino, pois que maternidade é
destino, de cada um dos 140 filhos num caderno de contas que desde
2014 venho digitando. Hoje lhes apresento 05 dos filhos de Nana:
AMANDA:
Para Amanda nunca haverá um Amado. Mas cedo deitará na cama de
muitos Armandos. Em dias de chuva, vai sentir saudade de armações
que ajudou a tramar contra velhos desafetos. Em dias de sol, vai
chorar, esbravejando por armações que aprontarão contra ela, sem o
seu consentimento: por quê? Pra que isso? Logo eu? Todos os Armandos
de sua vida serão um só e o mesmo amor fracassado. E como quem vive
em amor fracassado, Amanda nunca buscará outra coisa que lhe
preencha a vida que não seja o próprio amor bem-sucedido.
DOUGLAS:
Quando entrar naquele bar e pedir uma cerveja, reconhecerei o rosto
de Douglas, meu filho, no garçom alto e magro de bandeja de prata na
mão. Predestinado a servir, trará voando frango a passarinho e a
conta, com um pedido de gorjeta. Filho de pai garçom, que amei num
motel azul, terá todo o meu respeito como equilibrista de copos e
pratos, talheres para bifes na chapa. Fora isso, será um estranho
para esta Mãe de tantos filhos e destinos quanto uma rodoviária. E
dele nem mesmo me lembrarei quando nos pecharmos na parada de ônibus,
na fila do açougue ou mesmo na minha festa de 99 anos, em maio.
JEFERSON:
Muitos filhos Jeferson fará, quase como a sua Mãe Nana, mesmo não
tendo visões ou profecias sobre eles. Será fiel a sua pretinha
esposa como os santos o são para o Cristo. Mas, ao contrário da Mãe
Nana, será pai dedicado e carinhoso, empenhado em extirpar cada
remela de cada um dos seus pimpolhos que no seu ninho as cascas do
ovo quebrarão. Sim, todos jantarão omeletes feitos por Jeferson com
muito gosto.
MALAQUIAS:
Mal não queiras a ninguém, Malaquias, queiras maravilhas, Malaca,
anjo dos meus dias. Todo dia, quereis comer ervilhas e brioches de
padarias. O ruim não te quererias quem soubesse que és anjo todo o
dia, Malaca-Malaquias. Tu que nunca vais querer ler uma linha sequer
da bem-querida Bíblia das santas livrarias. As letras do Livro
Sagrado são muito miudinhas e nunca eu quisera te levar ao oftalmo
nem quisera eu gastar o meu pobre salário de Mãe Nana-solteira em
qualquer ótica que é também relojoaria. Daí o teu famoso
mau-olhado que nunca, nunca que ele sararia.
PASQUAL:
Será um homem de papelão: afeiçoado a si mesmo, distante da
humanidade. Pobretão de espírito, daí que, na proporção inversa,
rico de negócios. Sua alegria será reclamar da vida penosa e dos
custos que se tem por ser o 1º dos homens. Elástico e vil, costuma
ser o 1º dos homens. Os primeiros deveriam ser os últimos, sem
exceção, incluindo os meus nanofilhos. Pasqual nunca está no topo
da montanha, mas sempre está no alto das torres de marfim. Homem de
paz aos olhos de ingênuos, que também são os desatentos. Cúmplice
dos guardas que, com ele por perto, têm argumentos para matar,
trazendo a sensação de segurança para Pasqual e seu umbigo, em
geral, inseguro e desconfiado.
P.
S.: Qualquer semelhança com a ficção é a mera realidade.
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)
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