sexta-feira, 10 de maio de 2019

OS 140 FILHOS DE MÃE NANA – parte 1


OS 140 FILHOS DE MÃE NANA – parte 1

É com muito orgulho que, neste mês das mães, eu rendo homenagens a uma grande amiga: a MÃE NANA. Mesmo sendo freira, Mãe Nana é a que teve 140 filhos e determinou o destino de cada um deles logo que os ia parindo e batizando ao som do blues, do samba e do brega, suas paixões musicais de toda uma vida, bem comprida, aliás. Para não se atrapalhar, a Mãe Nana anotou o destino, pois que maternidade é destino, de cada um dos 140 filhos num caderno de contas que desde 2014 venho digitando. Hoje lhes apresento 05 dos filhos de Nana:


AMANDA: Para Amanda nunca haverá um Amado. Mas cedo deitará na cama de muitos Armandos. Em dias de chuva, vai sentir saudade de armações que ajudou a tramar contra velhos desafetos. Em dias de sol, vai chorar, esbravejando por armações que aprontarão contra ela, sem o seu consentimento: por quê? Pra que isso? Logo eu? Todos os Armandos de sua vida serão um só e o mesmo amor fracassado. E como quem vive em amor fracassado, Amanda nunca buscará outra coisa que lhe preencha a vida que não seja o próprio amor bem-sucedido.

DOUGLAS: Quando entrar naquele bar e pedir uma cerveja, reconhecerei o rosto de Douglas, meu filho, no garçom alto e magro de bandeja de prata na mão. Predestinado a servir, trará voando frango a passarinho e a conta, com um pedido de gorjeta. Filho de pai garçom, que amei num motel azul, terá todo o meu respeito como equilibrista de copos e pratos, talheres para bifes na chapa. Fora isso, será um estranho para esta Mãe de tantos filhos e destinos quanto uma rodoviária. E dele nem mesmo me lembrarei quando nos pecharmos na parada de ônibus, na fila do açougue ou mesmo na minha festa de 99 anos, em maio.

JEFERSON: Muitos filhos Jeferson fará, quase como a sua Mãe Nana, mesmo não tendo visões ou profecias sobre eles. Será fiel a sua pretinha esposa como os santos o são para o Cristo. Mas, ao contrário da Mãe Nana, será pai dedicado e carinhoso, empenhado em extirpar cada remela de cada um dos seus pimpolhos que no seu ninho as cascas do ovo quebrarão. Sim, todos jantarão omeletes feitos por Jeferson com muito gosto.

MALAQUIAS: Mal não queiras a ninguém, Malaquias, queiras maravilhas, Malaca, anjo dos meus dias. Todo dia, quereis comer ervilhas e brioches de padarias. O ruim não te quererias quem soubesse que és anjo todo o dia, Malaca-Malaquias. Tu que nunca vais querer ler uma linha sequer da bem-querida Bíblia das santas livrarias. As letras do Livro Sagrado são muito miudinhas e nunca eu quisera te levar ao oftalmo nem quisera eu gastar o meu pobre salário de Mãe Nana-solteira em qualquer ótica que é também relojoaria. Daí o teu famoso mau-olhado que nunca, nunca que ele sararia.

PASQUAL: Será um homem de papelão: afeiçoado a si mesmo, distante da humanidade. Pobretão de espírito, daí que, na proporção inversa, rico de negócios. Sua alegria será reclamar da vida penosa e dos custos que se tem por ser o 1º dos homens. Elástico e vil, costuma ser o 1º dos homens. Os primeiros deveriam ser os últimos, sem exceção, incluindo os meus nanofilhos. Pasqual nunca está no topo da montanha, mas sempre está no alto das torres de marfim. Homem de paz aos olhos de ingênuos, que também são os desatentos. Cúmplice dos guardas que, com ele por perto, têm argumentos para matar, trazendo a sensação de segurança para Pasqual e seu umbigo, em geral, inseguro e desconfiado.

P. S.: Qualquer semelhança com a ficção é a mera realidade. 
(c. a. albani da silva, o inventor do vento)


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